— Não é como se eu não soubesse disso, Suki, só que é uma decisão muito séria para ser tomada no calor do momento — rebateu sentindo-se nauseado com toda a situação — eu acabei de despertar com esse... diagnóstico, e você já está me cobrando uma decisão sem nem ao menos me dar tempo.

— É porque tempo agora é o nosso inimigo, não percebe? Quanto mais tempo levar, mais difícil será voltar atrás e não podemos esperar mais do que já esperamos.

— Eu sei, mesmo assim, é uma decisão séria. Não quero ter filhos agora, mas aborto me parece uma alternativa muito drástica, não quero me arrepender depois.

— E o que você sugere que façamos? Deixar nascer e entregar para a adoção, pedir ajuda dos nossos pais que com certeza vão querer nos matar? Eles também tem a vida deles, Eiji, não dá pra pedir algo assim.

Toda aquela pressão estava deixando-o mais em pânico.

— Suki, por favor, me deixa pensar, é só isso que te peço. Não vou levar anos pensando na solução, só alguns dias, para poder considerar todos os pontos positivos e negativos das opções.

— Não existem opções, Eiji, existe "a opção" e pronto, sem nenhuma outra consequência ou contratempo, entenda isso de uma vez.

— Isso porque não é o seu corpo! — afirmou com os lábios trêmulos, acusando-o com o dedo em riste — Olhe para mim, Katsuki, eu estou tão apavorado quanto você, mas é em mim que está acontecendo, dentro de mim, e não posso tomar uma decisão assim porque alguém está me pressionando. Eu não quero ter um filho agora, na verdade nem sei se quero algum dia, mas querendo ou não, esse embrião como você o chamou já tem vida e não quero me sentir como se estivesse assassinando alguém por simples impulso.

O alfa pressionou a base do nariz com a ponta dos dedos invocando paciência.

— Tá vendo, está pensando de maneira irracional. — suspirou contendo a presença para não incomodar o ômega — Você não vai estar assassinando ninguém, Eijiro, é só um amontoado de células, ele nem mesmo sente dor! Mas eu e você sentimos e vamos acabar nos ferrando se nos apegarmos. É errado desejarmos um futuro melhor?

— É errado eu pensar que estou sendo o responsável pela morte de uma pessoa?— rebateu impaciente.

— Pela última vez, Eijiro, não é uma pessoa ainda, entenda isso! Para com esse discurso romântico de merda, isso só vai nos ferrar.

Era como se a cada minuto ele o colocasse mais contra a parede, fechando todas as possibilidades disponíveis.

— Podemos entregar para a adoção, Katsuki! Não precisamos de um aborto — argumentou tentando ignorar o enjoo que lhe afligia.

— E você acha que vai mesmo entregar para a adoção depois que nascer? — indagou cético, apontando para o ventre do ômega — Acha mesmo que vai ser capaz depois de se apegar?

— Eu vou sim, eu não vou me apegar, prometo, posso me recusar a ver ou segurar e...

— Não fode, Eijiro, não fode comigo — ria de maneira irônica, sem graça alguma — Eu conheço você, vai acabar aceitando o bebê porque não vai conseguir entregá-lo sem olhar, é muito sentimental para conseguir ignorar alguém, ainda mais um que vai gestar e dar a luz. Não consegue ignorar mendicantes na rua sem oferecer um trocado, imagina entregar um bebê que é seu? Não fode comigo, que essa possibilidade nem tem como entrar em pauta.

Era verdade, ele não teria coragem de se desfazer do bebê depois que nascesse, mesmo que tentasse lutar contra. Sua cabeça parecia um balão cheio de ar, pulsando nervosamente e ele um simples fantoche sendo levado a qualquer lugar pelo alfa.

AlvorecerWhere stories live. Discover now