Sentimentos

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Só sei dizer que não vejo a hora de tudo se acertar.

Haviam muitas pessoas naquele ginásio, mais do que supunha

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Haviam muitas pessoas naquele ginásio, mais do que supunha. 

Shoto caminhou placidamente, movendo o corpo com elegância sem criar vincos desnecessários no fraque que trajava. No silêncio cheio de expectativa ouviam-se apenas leves pigarros e o ruído de alguns muxoxos se espalhando por entre a platéia que o fitava atenta. 

No centro do palco preparado para si estava um belo piano de calda. Ele ajeitou-se e com delicadeza e elegância sentou-se ao banco. Havia um holofote sobre si que aumentava consideravelmente o calor. Era claustrofóbico e incomodava de uma maneira que nunca antes havia acontecido. Sempre era convocado para aquele tipo de apresentação, pois como alfa lúpus e herdeiro de um sobrenome conhecido, era de se esperar que fosse capaz de executar tal ato com a perfeição que seu status exigia. 

E era. 

Sempre o fizera. Mas naquele ano em particular, algo dentro de si estava quebrado, esfacelado demais e o impedia de se sentir confiante, minando sua ato suficiência, jogando por terra suas convicções e o cobrindo com anseios que mais pareciam dedos lânguidos e frios a passearem sem pudor por toda a extensão de sua pele, causando-lhe arrepios.

A despeito do que sentia o show tinha que continuar. Seu pai,  Endeavor, o homem que o havia criado para ser o exemplo perfeito de alfa, forte e dominador, estava observando e por todos os infernos, não queria mais contendas com ele. Estalou os dedos delicadamente encarando as teclas alvas que pareciam convidá-lo de maneira muda. 

Sua mente lhe trouxe a lembrança das tardes com sua mãe, a tutora mais dedicada e amorosa que o destino pudera um dia lhe ofertar. As mãos delicadas e gentis que guiavam as suas, mostrando-lhe cada nota pacientemente, tão diferentes das brutas que lhe  ensinavam com brusquidão e o agrediam sem piedade. 

— Com delicadeza, Shoto. Seja delicado e gentil. A música precisa de sentimento para tocar os corações, não apenas notas bem executadas. Escute o som do seu coração. 

Era de fato um conselho primoroso que ele guardava a sete chaves. Desde a partida de sua mãe evitava tocar ao piano, abrindo exceções apenas m casos de apresentações na universidade. Executar aquelas mesmas canções o fazia se recordar do cheiro materno, sempre acolhedor e convidativo que o fazia se sentir bem apesar de tudo, escolhendo sempre temas alegres e vívidos que fizessem a platéia vibrar em êxtase. 

No entanto seu coração andava cheio de medos e incertezas e dessa vez a música que combinaria com ele era totalmente o oposto da usual. 

Os dedos iniciaram os movimentos ágeis porém gentis e hábeis, roubando do piano o som melancólico da aclamada Moonlight Sonata de Beethoven, com seus acordes tristes e apáticos. Ela definia bem o que se passava dentro do alfa, expurgando um pouco da dor e melancolia que vinham consumindo-o. 

"Música é sentimento, Shoto" quase podia ouvir sua mão murmurar-lhe aquela verdade ao pé do ouvido. Os olhos encheram-se de lágrimas saudosas. A única pessoa que tinha um aroma capaz de lhe fazer sentir-se completo e feliz era Izuku, e já não conseguia mais estar próximo a ele pois se sentia apavorado, e não era por não saber se portar. Seu corpo simplesmente tremia e o forçava a se afastar, admirado e envolvido pelo doce aroma, porém temeroso pela reação que lhe provocava. 

AlvorecerWhere stories live. Discover now