Um recomeço...

En başından başla
                                    

— Sente comigo e me dê o benefício da dúvida.

Já sem saída para justificar meu silêncio eu não tenho mais o que fazer, então com passos incertos eu obedeço, ainda seguro o pincel que tinha acabado de encher de tinta azul para pincelar as nuances do céu acima do lago do lado de fora. Mas segurar algo me dá certa coragem, é como ter algo para me defender.

Com seus olhos castanhos ele olha para o pincel em minha mão e depois para meu rosto. Me encolho um pouco, pois me incomoda ser olhada de tão perto. Ele deve ter percebido, porque ao falar, foca somente em meus olhos.

— Como eu disse não precisa ter receio de mim, sou um homem que acredita no modo antigo que os humanos viviam. Sou crente no amor de Deus, mas não forço os outros a me seguir e nem ensino sobre isso, pois amor não se ensina, se pratica, então apenas sigo essa doutrina como um meio de vida, pois não é fácil amar os humanos que restam, infelizmente.

Compreendo o que ele queria dizer porque eu tinha conhecido humanos que não mereciam amor, e aqui existiam humanos diferentes, mas eu ainda não tinha sabedoria para aprender a amar meus iguais. Mas posso continuar a enfrentar meus medos, ser um pouco melhor que ontem, e para isso está na hora de deixar o silêncio de lado.

Meu coração palpita com mais força porque esse é mais um demônio que sinto a necessidade de vencer. É como um portão que preciso abrir para me livrar de mais um obstáculo.

Mordisco os lábios e respiro fundo enquanto ensaio uma pergunta, ele parece que sabe minha luta então espera com paciência. Após um tempo deixo de tentar e apenas faço.

— Como pode saber como era antes? É um conhecimento proibido, pelo menos no reino Humanis.

Fico aliviada por finalmente ter falado, e mais ainda por não ter esquecido como fazer, só que me sinto esquisita, minha garganta arranha como se tivesse enferrujada, percebo que minha voz continua a mesma e isso é algo bom, alguma coisa em mim continua imutável.

Fico quieta, aguardando sua resposta, mas por dentro emoções transbordam, mentalmente dou tapinhas em minhas costas parabenizando meu enorme feito. Estou melhor, a rigidez inicial dá lugar a uma posição confortável, pronto, faltava isso para eu fincar meus pés desse lado.

Após um momento me olhando com surpresa, ele assente. _ Finalmente falou.

Balanço a cabeça e não consigo conter um sorriso acanhado. _ Estava na hora.

— Então, voltando à sua pergunta. Aqui não há esse tipo de restrição, conhecimento é a base do crescimento, então porque proibir? A maioria das coisas que sobre antigamente foi passado de pai para filho, e tendo em vista nosso isolamento conseguimos manter muito dos costumes antigos.

Ficamos em silêncio por um tempo então ele me sonda, eu sei o que ele vai falar, ainda assim espero.

— Essas pessoas lá fora são todos lobos, inclusive Jena.

Sobre Jena eu não precisei de muito para saber já que ela não fez nenhum rodeio. Primeiro falou seu nome e em seguida contou que era a Alfa de uma grande matilha.

Estranhamente o fato de ela ser uma Lican não me preocupou de todo porque eu senti um tipo esquisito de afinidade com ela, era como se fosse natural, mais ainda porque sua voz me era familiar, cada vez que ela falava imagens aleatórias surgiam, minha mão pintando uma vassoura, o sol aquecendo meu rosto e a sensação confortável de uma mão segurando a minha. E mesmo que eu não entendesse o que essas imagens fragmentadas significavam, me lembrava momentos de tranquilidade.

Quando ela sentou ao meu lado, seu cheiro me fez lembrar outras coisas. Essas mais doloridas. Ela cheirava a sol, pele ao sol, e esse cheiro me fazia pensar em Olhos amarelos.

Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin