Reunião- Parte 1

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Jena

Estávamos reunidos em um lugar que até alguns dias atrás eu teria achado improvável e até mesmo teria evitado chegar perto, mas depois do que aconteceu não teve outro jeito, estávamos na cripta dos príncipes, no reino sombrio, e eu estava a me torturar lentamente por estar tão próxima a Dimitri.

De todo modo, não havia outro lugar que nos oferecesse igual segurança. Por conta das runas incrustadas nas paredes e na cúpula do teto de pedra, esse era o único que uma reunião de emergência poderia ser feita, essas pequenas lascas de madeira antiga e sagrada ornadas com intrincados desenhos selavam a câmara.

Eu não tinha ideia do que significavam os símbolos, só sabia que eles manteriam nossas conversas em sigilo, e era essa nossa preocupação, pois Cristian ainda mantinha sua conexão familiar com sua irmã gêmea Organda.

Embora não soubéssemos até onde ela poderia garimpar informações através da conexão, não queríamos arriscar que ela conseguisse descobrir para onde Laican seria levado e era isso que estava sendo decidido agora.

De todo modo, como garantia, o único a conhecer esse lugar seria Nicolae, o irmão de luta de nosso supremo Alfa. O que estávamos resolvendo era como fazer isso sem que os lobos rivais tomassem ciência da nossa movimentação.

A cripta estava iluminada por velas e archotes. Algumas dessas velas queimavam mais lentamente que os outras e liberavam uma fumaça almiscarada que eu desconfiava ter algum motivo oculto, talvez fosse para Eva e o bebê, ou poderia ser para o morcego que dormia em seu decênio na câmara ao lado...

Tiago, o rei dos humanos havia chegado sozinho, quando perguntei por Amélia ele respondeu que ela tinha ficado no reino Humanis para continuar as reuniões do conselho em seu lugar.

Apesar de sentir orgulho ao ouvir isso, fiquei preocupada porque Amélia esperava cria e como os humanos são frágeis ela poderia adoecer por ter que enfrentar o descrédito dos que ainda teimavam em ver as mulheres como seres inferiores, e em se tratando daqueles humanos mimados, idiotas e preconceituosos, deveria estar sendo trabalhoso para minha amiga, todavia, não era do feitio dela ficar no ócio por muito tempo. E eu tinha certeza que ela ia se dar bem.

Desde o novo Tratado, com os portões do reino Humanis aberto aos lobos aliados, os lobos assuntavam aqui e ali para nos manter informados sobre nossos vizinhos, então eu sabia que o maior obstáculo de Amélia era justamente esse pensamento entranhado no povo do reino Humanis de que mulher não deve se envolver com assuntos do reino, porém havia ainda a outra fatia de opiniões, aqueles que espalhavam por cada canto do reino sobre a mulher que havia conseguido devolver a dignidade a um povo esquecido na antiga prisão dos Leviatãs.

As mulheres estavam deixando um legado, que apesar da resistência, vários já admitiam, as mudanças estavam deixando a vida da maioria dos humanos melhor, só que o reconhecimento maior continuava vindo dos mais pobres.

A menina Diana tinha começado essa revolução, mas foi Amélia quem teimou em continuar, foi ela que escolheu para morar e apostar suas fichas, um lugar repleto de esquecidos, escravos, mulheres grávidas e crianças, um refúgio para quem não tinha para onde ir.

Então independente do ódio de alguns, as realizações a qual ela tinha crédito lhe dava um poder que nem mesmo a extinta casta nobre conseguira tirar. Mesmo que eles inflamassem suas opiniões fomentando a revolta, Amélia estava protegida pela maior força de uma nação, o povo comum.

Era estranho pensar sobre a rejeição... Entre os da raça Lican, as coisas não aconteciam assim.

Entre nós a liderança vinha através da força, havia uma clareza nessa hierarquia que não podia ser contestada.

A vitória era o que determinava, se acontecesse algo parecido, qualquer rejeição seria resolvida com luta. Era a nossa lei, nossos costumes, então foi difícil observar o que Diana e Amélia passaram.

Por vezes quando ia visitá-las no bairro dos Forasteiros, eu ansiava para um homem qualquer dos humanos me tratasse como tratavam as mulheres de seu reino, porque se acontecesse, pela mãe terra que eu faria desse um exemplo, comeria seu coração e deixaria o resto para os abutres, no entanto nunca aconteceu, eles pareciam saber o que eu faria, uma pena.

Tiago estava sentado na cadeira com o olhar distante, ainda estava em luto pela perda da mãe. Clara, aquela covarde havia se jogado da sacada de uma das torres do castelo e sendo ainda um acontecimento recente as marcas da tristeza ainda estavam estampadas no rosto do rei humano e no de sua irmã Celeste que, apesar de toda ferocidade do olhar, estava encolhida nos braços de Cristian. Tão perdida no que fazer quanto qualquer um de nós.

Diana depois de receber mal a notícia sobre Laican e Celina, estava adormecida nos braços de Nicolae, ele a havia posto a dormir através da indução. Era justificável já que seu cheiro estava intensificado por uma nova vida. E depois da perda da última estação, o príncipe estava ainda mais alerta com a nova gestação de sua companheira.

Como amigas da morcega, quando ela perdeu a criança eu e Amélia fizemos de tudo para consolá-la, tivemos êxito, contudo quem mais sofreu foi Nicolae, nada conseguiu consolar o segundo príncipe dos sombrios. Diana nunca soube, mas a dor dele havia sido profunda com a perda.

A morceguinha sendo mestiça não podia sentir, mas os outros sombrios e nós, os lobos, sentimos essa tristeza, o ar na floresta onde ele fazia a ronda estava intensamente carregado com o cheiro de seu sangue. Ele havia descontado sua dor nas árvores, as marcas de seus socos estavam nos troncos e nas pedras, no entanto para sua companheira ele só mostrava sua paciência e seu amor e com certeza esperava sua cura agir nos nós de seus dedos antes de voltar para casa.

Mesmo que eu tivesse minhas reservas com outras raças, esse sombrio em particular tinha o meu respeito, silencioso e mortal, falava pouco e nunca precisava dizer muito, o dom de seu caçador era temido, e seu autocontrole era algo conhecido.

Os três príncipes tinham seus dons que conferiam a eles um tipo respeitoso de adendo a seus nomes.

Rael, o primeiro príncipe era chamado (longe de suas vistas) como o sábio. E ele também estava presente nessa reunião, mas isolado em uma sala junto com sua companheira Eva e sua filha Alina que no primeiro ano não podia ter contato com os outros, tudo porque seu corpo tinha a parte frágil, a humana, e com isso, estava suscetível as doenças comuns que poderia matá-la. Então ela precisaria de um ano para adquirir proteção natural. O primeiro decênio de um sombrio puro seria dormindo, porém para a pequena Alina, seria reclusa em uma câmara dentro da cripta acompanhada do pai e da mãe.

Nicolae, dentre os três, era o que mais tinha sangue nas mãos, seu dom caçador lhe conferia a facilidade para matar, porém quando não usava o dom, era extremamente calmo e se preocupava com os seus, principalmente com os que ele respeitava. Ele estava com o semblante pensativo, passava a mão de maneira distraída pelos cabelos de Diana, mas tinha o maxilar travado.

Era nítido que estava preocupado, tinha Laican em alta conta. Era seu irmão de luta, juntos lutaram em duas guerras, sem contar os inúmeros combates pela proteção tanto dos lobos quanto do povo sombrio, mas agora, ele tinha as mãos atadas, com Rael sem poder sair da cripta e com Dimitri concluindo seu último decênio, só restava ele para liderar e resolver as coisas no reino sombrio, então ele não podia fazer muito por nosso Alfa.


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Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Kde žijí příběhy. Začni objevovat