Tratado dos Párias - Supremo Alfa.

Revivendo o chamado com tinta

O quadro estava quase finalizado e ainda assim eu não tinha conseguido reproduzir de forma fiel o que tinha visto.

As árvores não tinham forma, eram manchas acinzentadas, a relva não passava de uma simples faixa criada com pinceladas rústicas de cinza escuro. Eu estava tentando refazer o que via, mas nada vinha, somente a sensação de que eu tinha visto e sentido tudo. Somente a lua, essa me era nítida na pintura.

— Esse é diferente dos outros.

Distraída com meu esforço por recriar a lembrança eu não tinha percebido a aproximação do líder da vila.

Olhei de viés para ele, sua cabeça pendia de um lado e o olhar estava apertado, estava tentando entender o que eu tinha desenhado, mas duvidei que conseguisse, nem mesmo eu estava tendo sucesso.

— Sim, basicamente é um borrão do que eu queria fazer, mas é estranho porque mesmo que seja nítida a imagem quando eu sonho, as lembranças ficam embaçadas quando acordo.

— Ah! Então... — Curioso, ele se aproximou um pouco mais e me afastei para que ele pudesse olhar melhor.

— Essa imagem é de um sonho?

Assenti e mergulhei o pincel na tinta azul clara quase branca que faria o contorno da enorme lua que parecia tão mística quanto eu me lembrava. Era estranho eu só conseguir acertar as nuances de cor dela e sequer lembrar com clareza os outros elementos.

— E porque recriar um sonho?

Porque recriar? Essa era uma pergunta que eu estava me fazendo desde que tinha dado a primeira pincelada, e mesmo que nenhuma resposta me viesse, eu continuei pintando, como se fosse uma obsessão. Não tinha como explicar senão narrando exatamente o que acontecia.

— Porque é algo recorrente. Eu sonho todas as noites com essa paisagem, e quando estou lá, enquanto sonho é uma visão nítida, eu sinto o vento, ouço os sussurros da floresta e constantemente fico ouvindo um lamento triste, mas quando dou passos em direção a esse som a floresta vira fumaça e o lamento fica ainda mais distante e então acordo sobressaltada como se tivesse sido expulsa da floresta, é como se eu ainda não tivesse permissão para estar lá.

Padre Moura levou o dedo ao queixo e assentiu, murmurou algo ininteligível como se falasse consigo mesmo e avaliou a pintura com mais curiosidade, seus olhos focaram a lua e percebi que seu corpo enrijeceu, porém quando falou, sua voz estava tranquila.

— Interessante que consiga desenhar a lua tão perfeitamente.

— Também achei estranho, e posso jurar que em nenhum momento do meu sonho eu levantei a cabeça para olhar a lua, mas sei que ela está lá.

Com os olhos brilhando de um entusiasmo que eu nunca tinha visto antes ele bateu de leve em meu ombro. — Preciso ir, boa sorte em sua jornada através dos sonhos.

Por um tempo fiquei olhando suas costas, vendo-o se afastar seguindo em direção ao portão. O que por si só já era estranho porque eu nunca tinha visto ele sair da vila, mas também não ficava vigiando seus passos então...

Balancei a cabeça e voltei a mergulhar o pincel na tinta.

Essa era a primeira vez que eu via algum tipo de excentricidade no líder da vila, mas achei interessante ver que todos tinham algum tipo de loucura. Pelo menos eu não era a única.

Após pincelar o halo em volta da imensa lua eu me afastei e observei meu trabalho.

Não estava nada parecido com o que eu me lembrava, nem chegava perto e ainda assim, ao olhar para a pintura todas as sensações do sonho voltavam e eu sentia um aperto do estômago, uma sensação que eu não entendia. Era como se eu precisasse estar lá, dentro da floresta, parecia um chamado não por mim, mas por minha alma.

Ai gente é curtinho, mas não podia deixar de colocar esse trecho. Achei importante para a evolução.

Quero agradecer viu, todos os comentários, votinhos e interação até entre vocês. Sei que não estou respondendo, mas como sabem, não ando mais só me dedicando a escrita, o dever de pagar contas me chama hsuahsuahsua ( Só que leio tudo viu, e gravo cada nominho lindo de vocês, é incrível como o autor consegue se conectar aos leitores através dos nomes.)

Bem, beijos viu. Obrigadinha inha ♥