Tudo Estranho

432 95 13
                                    

Embora eu tivesse acreditado que uma nova Celina nasceria, não foi tão simples enfrentar as mudanças com naturalidade. Quando o sol despontou e a vila acordou muitas das decisões tomadas na calmaria da noite esmoreceram, a Celina que nasceu começou a ter dúvidas e chegou a ficar um tanto aterrorizada.

A falação, crianças correndo muito perto de minha janela, fez com que eu ficasse grata pela existência de uma cortina, então veio o sobressalto quando mulheres gritaram para seus filhos os mandando ir buscar o pai na lida porque o almoço estava pronto, após o susto inicial veio o comichão da curiosidade e então a cortina começava a me incomodar porque eu queria ver o que tinha lá fora, mas não tive forças para sair da cama. Então passei todo o tempo atenta aos sons novos.

Ao fim da tarde eu já tinha me habituado com várias vozes, quase podia imaginar os rostos por trás dos timbres.

Quando o sol estava dando seu adeus deixando apenas uma claridade alaranjada tudo começou a se acalmar, já não havia correria de crianças perto de minha janela, nem conversas altas de matronas em busca de seus filhos sumidos, ou os enxotando para se banhar porque eram pestinhas que não conseguiam ficar limpos um dia que fosse.

Ainda esperei um tempo, mas a curiosidade estava me corroendo e logo a noite chegaria e se eu demorasse um pouco mais perderia a chance de ver alguma coisa, então me apoiei nos móveis e devagar consegui alcançar o primeiro objeto de minha cobiça, a janela.

Quando puxei a cortina apenas o suficiente para espiar um pouco, fui tomada pela surpresa, as casas todas juntas e idênticas acompanhavam a circunferência do imenso muro roxo.

Cada uma tinha uma porta e uma única janela grande ao lado, todas feitas de madeira e caiadas de branco. Não havia casas maiores, tampouco casas menores.

Uma rua larga de terra batida serpenteava em frente a essas casinhas gêmeas e sumia em uma curva abrupta me deixando cheia de curiosidade sobre o resto desse estranho vilarejo.

No centro dessa cacofonia de portas e janelas, uma pracinha simpática dava um ar pacífico a visão, era como se ali, naquela pequena extensão circular com quatro bancos e um quiosque, fosse o pilar que sustentava toda a vila. Era tão imponente e ao mesmo tempo simples que eu conseguia imaginá-lo como o palco de reuniões familiares, o local marcado para os casais enamorados e quem sabe poderia até se tornar um bom lugar para uma pessoa estranha que mal sabia a própria idade um dia sentar e pintar.

Pensar nisso, nessa possibilidade fez oprimir meu peito com a necessidade de resolver toda a matemática obscura que ainda assombrava minha liberdade, eu precisava saber quantos anos perdi e quanto tempo demoraria para conseguir recuperá-los. O mundo me esperava e eu estava atrasada para encontrá-lo, e mesmo que demorasse um pouco mais eu tinha decidido que o faria.

Voltar para a cama foi uma luta, e me entristeceu ver o quanto meu corpo ainda carece de tempo para se recuperar, mas estranhamente sinto uma força interior que antes não estava aqui. Talvez seja essa vontade de viver, porém tem uma coisa que preciso fazer antes de qualquer coisa e hoje não tive coragem de ir em frente.

Há um espelho grande aqui, coberto por um tecido, talvez seja obra de Celeste, pois ela com certeza entende a importância desse enfrentamento, e embora eu esteja agradecida a ela por me incentivar a fazê-lo, eu ainda não consegui olhar meu reflexo. Ainda não encontrei coragem para um passo tão importante, o que é estranho, pois era o que eu deveria ter feito assim que acordei, mas como eu disse, as coisas parecessem mais fáceis quando são feitas na imaginação.

Um passo de cada vez... Agora posso fazer as coisas no meu tempo, pois supostamente sou livre.

O que fazer com essa liberdade é o que estou tentando descobrir, pensar que sou livre me assusta e fascina e mesmo meu progresso seja lento, eu não vou desistir de conhecer essa sensação.

Eu sabia como era como ser uma criança livre, mas nunca soube como é ser uma mulher livre.

Oi gente, estou com o coração pesado de tristeza, pois o próximo capítulo é na verdade um comunicado, nos vemos lá

Oops! Această imagine nu respectă Ghidul de Conținut. Pentru a continua publicarea, te rugăm să înlături imaginea sau să încarci o altă imagine.

Oi gente, estou com o coração pesado de tristeza, pois o próximo capítulo é na verdade um comunicado, nos vemos lá.

Beijos.

Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum