Dois braços

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Já fazia alguns dias que minha rotina era ficar andando pela floresta perto do acampamento.

Sabia que eventualmente ela viria falar comigo, e por sorte minha espera tinha acabado.

Eu podia sentir seu cheiro, ela estava perto. E agora era seguir com o plano de Laican.

Como fazer isso? Eu deixaria por conta do improviso, até porque com essa lobinha não tinha como seguir um roteiro.

Já enfastiado de ficar pelos galhos, tomei a decisão de procura-la, mas a sorte parecia ao meu favor, senti o aroma que desprendia dela e fiquei preocupado, a ansiedade dela estava no auge e eu não pude esperar que ela me sentisse, saltei e fui ao seu encontro.

Ela ficou surpresa, ao me ver. Logo sua linda loba deu lugar a uma linda mulher que me olhava apertado, ansiosa e irritada.

— O que faz aqui?

Fiz um bico, ela poderia ser mais receptiva.

— O que acha? Estou há dias esperando uma lobinha, mas quando a encontro é isso que recebo.

Ela revirou os olhos. — Pobre homem, como sofre!

Segurei a irritação. Jena estava nervosa e eu percebi que não era por algo que eu tinha feito, essa ansiedade era por outra coisa.

— Está indo aonde.

— Estava a sua procura. Preciso lhe dizer algo.

Um inquietação me tomou. Ela nunca tinha admitido antes que estava atrás de mim, menos ainda que queria falar comigo.

— Então não precisa mais ir tão longe, estou aqui.

Logo toda sua armadura de arrogância se desfez e ela pareceu confusa.

— Dimitri...

Esperei mesmo que me custasse muito fazer, eu esperei o que ela ia dizer.

Após um minuto que pareceu uma eternidade ela se aproximou, os olhos agora cheios de sentimentos.

— Não nego que o amo mais que a mim mesma.

Quase me afoguei de susto. Não estava esperando isso, só que não pareceu uma boa notícia essa declaração, havia algo ali.

— Eu também te amo. O que não é nenhum segredo, mas você não parece estar dando uma boa notícia a esse homem que a espera, continue, tem um mas nessa frase, então não me faça esperar Jena.

— Mas eu preciso ir ter com Gosha. Preciso encontra-lo.

Ah, então era isso. Esse espinho que nunca parava de doer.

— Porque você quer tanto isso?

Jena me encarou, os olhos irados e marejados deixavam o verde tão claros e brilhantes escuros e opacos, continuava linda, mas me senti morrer ao ver tamanho sofrimento.

— Estou presa a ele, Dimitri. Poderia continuar minha vida, se fosse pelas regras lupinas eu seria uma viúva, a loba que cairia em loucura se tivesse perdido o companheiro verdadeiro, ou simplesmente seria uma loba livre e sozinha até o fim dos tempos ou até encontrar meu companheiro entre os lobos ou os humanos.

Pude sentir a dor antes de ela concluir, mas vi que ela titubeou e mesmo sabendo o que viria, não a interrompi, ela tinha que desabafar. Jena sofria e não podia continuar guardando.

— Mas então seu companheiro sou eu, um sombrio.

Ela sorriu sem nenhum humor, os cabelos balançando com a brisa, a cortina vermelha que cobria os seios pequenos esvoaçando ao sabor do vento permitindo que o bico rosado despontasse vez ou outra.

Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Where stories live. Discover now