- Minha senhora, é claro que não vamos falar qual escravo que disse. Certamente ele seria castigado pela senhora se disséssemos. Responde Antônio Dias, quando os outros membros concordam balançando a cabeça positivamente.

- E se eu o castigasse não estaria fazendo nada de errado. Ele é meu objeto e faço com ele o que bem entender, desde que não ultrapasse nenhuma lei do rei de Portugal e isso eu garanto que não aconteceu na minha fazenda e nem vai acontecer. Eu jamais desrespeitaria uma ordem do Rei. Diz aquela senhora demonstrando ainda mais confiança.

Nesse momento Antônio Dias, fica um pouco sem palavras, quando então questiona a ela sobre as leis de Portugal, para ver se Scarlett caia em contradição:

- A senhora sabe que as leis de Portugal recomendam um limite nas punições dos escravos, não sabe senhora?

- Sim... Eu sei. O limite máximo seriam 80 chibatadas para cada punição a um escravo e sei também e ouço muito por aí, que pessoas da nossa sociedade, cumprem essa recomendação quando bem desejam. Os homens dessas terras castigam os seus escravos até a morte, sem nenhum limite e eu quando faço algo para me proteger contra uma rebelião sou chamada para interrogatório. Vamos parar de ser hipócritas nessa sala senhores. Todo mundo sabe que aqui são poucos que respeitam essa recomendação. Muitos aqui já bateram em seus escravos até a morte. O que mais vemos enquanto passamos em frente as casas é escravos sendo chicoteados por horas, até que não aguente mais e ninguém faz nada. Será que isso é porque são os homens que estão ordenando que eles sejam punidos? Questiona Scarlett em tom direto, quando inicia uma grande confusão naquele espaço, com os homens daquela oligarquia demonstrando intensa revolta com a fala daquela senhora desnudando a hipocrisia existente naquele espaço.

Para colocar ordem naquele local o chefe de polícia teve que se levantar e intervir. As pessoas que estavam a acompanhar aquela audiência ficaram revoltados com a fala de Scarlett que as atingiam diretamente, poucos ali nunca haviam feito o que Scarlett havia dito. Muitos deles, por pertencerem a uma oligarquia cheia de posses e escravos não se importavam muito com a vida dos escravos, pois, podiam comprar outros, caso algum deles não resistissem as punições. Quando algum escravo agia de forma que os desrespeitassem, por muitas vezes, eles mandavam os capatazes os violentarem até a morte, não importando com nenhuma regra ou recomendação vinda de quem quer que fosse.

Ao ver que os ânimos haviam se acalmado um pouco Antônio Dias pede a palavra e diz:

- Mais respeito com as pessoas de família que estão aqui presentes senhora Scarlett, por favor, ou a senhora saíra daqui presa hoje. Diz aquele senhor em tom ríspido e direto.

- Eu respeito a todos que me respeitam senhor Antônio Dias e não disse nada demais, apenas a verdade. Novamente após dizer isso o burburinho no espaço aumenta e então Antônio Dias começa a gritar para que haja ordem naquele espaço.

- A senhora está bem atrevida não é senhora Scarlett? Diz aquele homem em tom de dominação.

- Depende de quem vê senhor. Eu não vou assumir nada que não tenha feito. Mas também não abaixarei a cabeça para aqueles que querem me condenar arbitrariamente, sem eu ter cometido nenhum crime.

- Diga me então, quantas chibatadas ordenou aos seus escravos durante todo esse tempo de punição?

- Acho que quem estava presente esqueceu de contar que foram punidos aproximadamente 40 dos meus escravos que em algum momento me desafiaram naquela fazenda. Desses quarenta o máximo de chicotadas que alguém levou foi uma escrava que havia inclusive me agredido enquanto o meu marido era vivo, que levou 50 chibatadas. Todos os demais levaram menos do que isso. No dia seguinte, apenas 6 escravas não conseguiram trabalhar pelas punições recebidas. Todas os outros trabalharam normalmente. Todos aqui sabem que escravos são objetos, seres sem alma, que se o dono quiser utilizar, da forma que entender que deve ser, ele tem esse direito, desde que não tenha nada que o contrarie em leis ou recomendações do Rei. Se um escravo é minha propriedade eu usarei a força da forma que achar que devo, respeitando sempre as normas da lei. Como cada um de vocês aqui tem o direito de fazer.

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now