Capítulo III - Fuga

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Deixei cair a chamada de imediato, aquele homem tinha entrado na minha casa, sabia todas as minhas rotinas e tinha conseguido desviar as minhas chamadas. Eu não conseguiria entrar em contacto com a polícia ou o Taehyung por telefone, mas eu precisava de sair urgentemente dali e fugir. Arrumei uma mala com meia dúzia de roupas, os meus produtos de higiene e, ainda com as mãos a tremelicarem e suadas, conferi à minha volta antes de trancar a porta de casa e caminhar pelas ruas novamente na penumbra e assombrado de medo. 

A minha meta era encontrar algum ponto luminoso, uma loja, um café, qualquer coisa onde pudesse falar com o Taehyung para me ir buscar. Só que eu não sabia onde estava passado uns metros e, para tudo melhorar, o meu telemóvel ficou sem bateria, não servindo mais como lanterna. Entrei ainda mais em pânico quando vi os faróis de um carro se aproximarem do fundo da rua até me cegarem de tão perto que estavam. Fui obrigado a tapar o meu campo de visão antes de ouvir as passadas pesadas e derradeiras, sentindo o vento cada vez mais gélido. 

- Jimin, Park Jimin. - A mesma voz, de mesmo tom, a mesma proximidade. Senti a minha mala ser arrancada das minhas mãos, caindo no chão húmido da chuva. Um casaco foi-me colocado nos ombros antes de uns dedos ágeis me puxarem o queixo para cima. Os meus olhos voltaram a cruzar-se com os dele. - Não ías fugir, pois não? 

- Por favor... Deixe-me ir, eu só quero viver a minha vida como vivi até agora. - Pedi com o pânico a denotar-se na minha voz inconstante. - Eu não tenho valor para si. Agradeço imenso a sua ajuda e prometo pagar quando puder, mas deixe-me ir.

- Não, não vais a lado nenhum e não, não vais pagar-me nada. Dou-te a oportunidade de voltares para casa e fazeres o que te disse no recado que deixei. Ou posso trazer-te comigo e aprisionar-te. É a tua escolha. Última chance.

- E vai fingir que não existo, tudo vai voltar ao normal? - Perguntei esperançoso, ainda que a forma como me agarrou no braço e me aproximou de si até os nossos peitos se chocarem tivesse sido a resposta que procurava. Usava o mesmo perfume. - Porque não? 

- Porque não posso. Agora, vamos, vou-te levar para casa. 

Não havia escolha. Deixei-me ser levado por aquele homem perigoso, por entre as sombras, esborrachado contra o seu peito, os dois avançando pela penumbra da noite e da rua longa, até pararmos e ouvir o barulho de umas chaves rodarem na fechadura. Dentro de casa não estava muito mais quente do que lá fora, por isso, enrosquei-me mais no casaco, agindo como se a casa não fosse minha, enquanto o via partir o meu telemóvel e o fixo. Ainda tentei avançar e impedir, mas só o seu olhar mandou-me estar quieto. 

- Pronto, menos um problema. Vamos ter de resolver o problema do aquecimento e destas paredes. - Olhou em sua volta desagradado. Eu não podia pagar mais. - Não fiques desconfortável, vai vestir o pijama mais quente que tiveres enquanto preparo um chocolate quente, temos muito sobre o que falar.

- Senhor, eu realmente agradeço pelo cabaz de alimentos que me deu... Mas não é adequado invadir a casa de alguém e tentar controlar a vida dessa pessoa. Portanto, eu gostava de poder voltar à minha rotina e independência. - Tentei falar o mais cordeal e cuidadoso possível, fazendo uso das competências que tinha adquirido ao longo dos anos de secretário. Se resultou? Não. Agarrou-me pelo braço, firme mas sem doer, colando-me ao seu corpo. - Eu não tenho ou sou nada importante. 

- Jimin, vai fazer o que disse. - O seu tom calmo não me enganava. - Está a ficar tarde.

- Então falemos agora. 

- Não, estás com frio e gelado. Não dificultes as coisas, nada de constipações ou gripes. Vai vestir o pijama.

Fiz uma careta antes de me render e ir tomar  duche morno, até o meu gás não funcionava decentemente. A única coisa que me trouxe e transportou para o conforto de antes foi o pijama mais quente que tinha, felpudo e em tons de branco e rosa, com orelhinhas e cauda de gato. Sim, eu sei, era infantil, mas eu não queria saber do ridículo ou da noção de infantilidade da sociedade. Por isso mesmo, calcei as minhas pantufas e voltei para a minha sala. 

Dangerous LoveWhere stories live. Discover now