Capítulo XVIII

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A noite anterior não me saía da cabeça, sobretudo por a ver como um erro cometido. Eu tinha permitido que um dos homens mais perigosos da Coreia me tocasse, sem grande resistência, sucumbido ao meu desejo inconsciente. Distraído com os meus pensamentos, fui arrumando os livros requisitados e devolvidos, cada um na sua prateleira. A biblioteca estava praticamente vazia, ainda não eram horas de os estudantes chegarem. De vez em quando vinham alguns leitores ávidos tirar dúvidas, mas não passava disso. Para poder melhorar a afluência na biblioteca, iríamos passar a ter uma hora do conto infantil, todos os dias depois da hora de almoço. A responsabilidade de conduzir essas horas do conto seria minha.

Por isso, fui até à secção de livros infantis e mergulhei nalguns clássicos,  sendo que um deles me chamou a atenção: o Principezinho, de Antoine Saint-Exupéry. Dei por mim, em pé e encostado a uma das estantes, a reler o livro desde há uns anos. As palavras fizeram-me voar tão alto, que só o barulho da janela a abrir com o vento é que me despertou do mundo fantasioso. Meio atrapalhado, larguei o livro em cima de uma das mesas e fui fechar a janela. Fui surpreendido por uma carta e uma rosa caídas no chão. O meu coração apertou e acelerou. Tentei ver se via alguém a correr, mas tudo o que vi foi uma carrinha preta a arrancar, demasiado longe para conseguir identificar a matrícula. Resolvi abrir a carta.

"Querido Jimin,

Hoje não posso ir ao réu encontro, no entanto deixo esta carta para si. Estou com esperança que tenha pensado no que eu disse, porque o Jungkook não é um bom homem. Eu posso ser a sua pessoa certa e quem precisa. Se for até à sua antiga casa, lá encontrará uma surpresa.

Até amanhã, Jin-young

Como assim ir à minha antiga casa? Ela tinha sido vendida, novos moradores usufruíam dos seus luxos. Agarrei na carta e guardei dentro do bolso das calças, dobrando para que coubesse. A rosa, resolvi procurar por um copo, de forma a que servisse de jarro improvisado. Percebi os olhares da senhora Min, porém ela nada disse, apenas continuou agarrada ao seu livro. A senhora Min adorava Jane Austen, por isso era comum ver obras como o Orgulho e Preconceito, Persuasão e Emma, nos seus braços. Ela usava os óculos na ponta do nariz e ia desfolhando as páginas do livro com calma e um leve sorriso gentil. A sua paciência era aparentemente impenetrável.

- Senhora Min, eu precisava de ir a um sítio. - Subitamente interessada pelo que estava a dizer, pousou o livro. Os meus sussurros revelavam o secretismo. - Mas o senhor Jeon não pode saber.

- Meu querido, como é que queres distrair estes armários?

- Nós podíamos tentar.

- Tudo bem.

A senhora Min, levantou-se e andou alguns passos, deixando-me confuso e a pensar que tinha sido ignorado... Até a ver fingir uma grande queda perto de onde os seguranças estavam. Teria também caído no se teatro, se não fosse pela forma como me piscou os olhos. Foi dessa forma que agarrei na minha mochila e saí a correr. Apenas parei de correr, quando cheguei junto de uma paragem de autocarros. De dentro da pequena mochila tirei o meu casaco com capuz, capaz de esconder a minha identidade por enquanto. Esperei alguns minutos, depois entrei no autocarro que me levaria até ao apartamento onde já tinha sido muito, muito feliz.

Assim que entrei numa das zonas mais caras da capital, o meu cérebro associou logo a algumas memórias boas. A nostalgia era enorme. Com o coração a palpitar de saudades, fiz caminho até ao condomínio privado onde morava antigamente. Esperava ver a minha entrada barrada, mas o segurança disse para ir entrando, porque estava a chegar atrasado. Ao quê exactamente, ainda não sabia. Pouco confiante, toquei à campainha do apartamento. A porta foi aberta alguns segundos depois. Assim que entrei os meus olhos quase que derramaram lágrimas, porque a decoração era quase igual à minha.

Dangerous LoveTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon