Capítulo XIV

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O senhor Jeon tinha acabado de chegar, eu conseguia ouvir os seus passos no corredor, assim como a porta do meu quarto a abrir. Fechei os olhos e permaneci quieto, sem me mexer, para que não desse conta de ainda estar acordado e à sua espera. Nem eu mesmo acreditava ter estado à espera de um criminoso, mafioso, assassino... O seu perfume era tão distinto, que no momento em que se aproximou, eu soube que era efectivamente ele e não outra pessoa. Com uma delicadeza pouco característica, sentou-se na cama e acariciou os meus cabelos. Uns segundos mais tarde, começou a cantar baixinho. Quase que me esquecia como a sua voz podia ser melodiosa, equilibrada e doce.

- Eu sei que estás acordado, meu querido. - Abri os olhos lentamente, apercebendo-me que o senhor Jeon tinha ligado uma das luzes do candeeiro, amarela e fraquinha. Observei por uns segundos o seu rosto. Nenhum sinal de luta, sangue ou suor. Na verdade, diria que tinha acabado de tomar banho, o seu perfume misturava-se com o aroma do gel de banho. Talvez tivesse tomado banho por estar coberto de sangue de outra pessoa... - Os meus advogados já estão a resolver os problemas que o teu antigo patrão levantou.

- Eu dei a minha opinião sobre isso, quero ser eu a pagar os advogados, não vou depender de você desta forma. - A sua resposta só demonstrou imaturidade: revirou-me os olhos. - O que eu estou a dizer é tão pouco relevante para si, que ousa revirar os olhos. Se veio aqui em busca de mais uma discussão, gostaria de voltar para o meu sossego e descanso.

- Talvez seja melhor eu ignorar esta nossa conversa, Jimin. Contínuas com a língua afiada, mesmo depois de te ensinar uma lição.

- Eu não vou mudar de postura.

- Eu também não. Dorme bem.

Claro que foi impossível dormir bem, não conseguia parar de pensar no senhor Jeon, de me preocupar com o Taehyung e de cismar no presidente Cha. Recordava-me dos tempos em que era seu secretário e achava ser o homem mais sortudo do mundo, por o meu chefe ser amável e tão boa pessoa. Acontece que nem tudo é o que parece. O que desejava era alguns anos de prisão para todos os envolvidos, assim como indemnizações para os prejudicados e verdadeiras vítimas: todos os trabalhadores. Quando consegui dormir foi junto do amanhecer, quando o sol começou a bater no meu rosto e por algum motivo me embalou. Senti tanta paz naquele preciso momento, que adormeci logo. Só acordei no final da manhã. A casa estava vazia, um recado na minha mesa de cabeceira indicava isso mesmo: "Vou estar fora até meio da tarde. JK"

Sem muita coisa para fazer, decidi explorar a casa. Já que não conseguia entrar no escritório, onde o senhor Jeon passava grande parte do seu tempo, aventurei-me pelo seu quarto. A porta estava fechada mas não trancada, o que facilitou a minha nova missão. Esperava do outro lado uma grande obsessão em manter tudo arrumado, no entanto o espaço estava desarrumado e desorganizado. Em cima da cama e da mesa de cabeceira estavam vários livros espalhados e empilhados. Aproximei-me, curioso com os seus hábitos de leitura. Ali estavam livros de todo o tipo, desde sobre a economia até romances clássicos, que julgava não fazerem o seu tipo. Houve um livro que me chamou a atenção, era de uma fotografia de uma família constituída por um homem, uma mulher e dois filhos. Nenhum deles sorria para a câmara, os rostos espelhavam alguma tristeza, como se fossem uma família infeliz. Um dos filhos identifiquei logo como sendo o senhor Jeon, que pelos vistos tinha um irmão um pouquinho mais velho.

- Não devia de estar aqui, senhor Park. - Era a governanta da casa, a sua roupa era distinta. Levantei-me logo da cama do senhor Jeon, fechando o livro pelo caminho e tentando disfarçar o nervosismo com um sorriso. - Algum motivo para se ter perdido?

- Estava apenas curioso, só isso. O senhor Jeon lê muito.

- O senhor Jeon sempre foi muito estudioso. - Oh! A senhora de meia idade, cabelos pretos e estatura média conhecia muito bem o senhor Jeon. Possivelmente trabalhava para a família Jeon há muito tempo. - O almoço está pronto.

Dangerous LoveWhere stories live. Discover now