Capítulo 4

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NAOMI

Capítulo 4

A paisagem da cidade pela janela do ônibus seria mais bonita se não fosse preenchida por construções imensas, quase não se via o céu. Eu teria que me acostumar com isso, afinal, foi minha escolha sair debaixo das asas da vovó. Estou feliz por estar conquistando o que quero com meu próprio esforço, é também meu escape para não enlouquecer de vez. 

Conseguir o emprego no clube foi um passo importante, eu mesmo não consigo parar de pensar em como tudo aconteceu tão rápido. E também, tem uma coisa que não sai da minha mente, posso estar só imaginando, mas há algo no sorriso dele que é familiar demais, e o modo como Jimin me olha, de certa forma, me faz lembrar de alguém importante. Esse sentimento me deixa confusa, ainda mais após ouvir sua resposta. Eu não queria pensar muito sobre isso. 

Cheguei em casa na hora do almoço, com preguiça de fazer algo mais elaborado, decidi comer macarrão instantâneo, enquanto fervia a água, liguei imediatamente para a minha avó. Após dois toques a voz doce soou animada do outro lado.

— Querida, como você está? Já estava pensando em ligar pra você! Já almoçou?

— Eu também sinto sua falta. É um pouco estranho morar sozinha. Estou preparando macarrão agora — Segurei o celular entre o pescoço e peguei a chaleira, despejando a água quente no pote.

— Você sabe que pode voltar correndo pra cá a qualquer instante, não sabe? Não tem necessidade nenhuma de ficar aí sozinha, ou melhor, de me deixar aqui sozinha. - Revirei os olhos com a chantagem emocional que ela fazia — Espero que não esteja comendo comida instantânea, precisa cuidar do seu corpo com alimentos saudáveis, assim como o médico falou. 

– Claro, vó — Apenas concordei — A senhora sabe porque fiz isso, não sabe? Eu te amo, mas tenho que viver minhas próprias experiências, andar com minhas próprias pernas – Um riso escapou pelos meus lábios, quando minha vó ralhou do outro lado — Falando nisso, eu liguei para contar uma novidade. Eu consegui um emprego muito bom em um clube! — Revelei, empolgada. 

— Um clube? Achei que voltaria para o quiosque, o dono disse que você poderia se quisesse. Era bom. Eu já o conhecia. O que houve? — Vovó ficou apreensiva, de repente.

Ela não gosta de estar no escuro, principalmente sobre mim. Desde o acidente vovó ficou assim, mais controladora, preocupada e cuidadosa comigo. Na maioria das vezes eu compreendo. 

— Eu queria procurar algo diferente, aprender outras coisas. Não se preocupe, vó.

— Está falando isso para mim? É impossível não me preocupar com a minha única neta, não me peça isso. Agora, conta pra mim, como funciona? Vão te pagar bem? Minha neta não merece qualquer coisa. 

— O emprego é em um clube chique, tem um restaurante com comidas iguais as que se vê naquele programa de chefes de cozinha que a senhora assiste. Tem um campo de golfe imenso com a grama verdinha, verdinha. Parece um pedacinho do paraíso, vó. — Eu ainda me lembrava até mesmo da sensação de sentir o vento tocar minha pele enquanto via as árvores balançando. Era como entrar em um sonho. — Eu vou ser uma espécie de auxiliar para o treinador de golfe, e também vou cuidar do carrinho de bebidas — Sentei no sofá com as pernas cruzadas, coloquei o celular no viva voz, tirei a tampa do pote de macarrão e levei uma generosa garfada até a boca. — O salário é melhor do que imaginei que poderia conseguir, vou me manter confortavelmente aqui e ainda ajudar a senhora. Não vai mais precisar se preocupar em cuidar de mim, vó. Guarde o dinheiro para alguma emergência e viva bem. 

Até aquele momento eu não tinha certeza se minha vó estava na linha, de repente enquanto eu falava ela ficou em silêncio, não disse nada sobre meu novo emprego. 

Estranha Perdição 🔞Where stories live. Discover now