Capítulo 15

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Quatro quilômetros não parecia pouco, mas ele iria a pé se não estivesse ferido. Deixou a Doutora dormindo e pegou o ônibus, voltando uma hora depois com o galão cheio nas mãos. A moça já havia acordado, trajando a calça que vestia na noite anterior, agora seca, e ainda com o moletom do rapaz. Esperava por ele encostada no carro.

— Bom dia. - Ele disse encarando o mau humor que ela sustentava.

— Estou atrasada. Em quanto tempo acha que chegamos?

— Uma hora e meia no máximo.

Ela entrou no carro e fechou a porta. Ian terminou de colocar a gasolina e já foi para a estrada.

— Então, Alana, prefere que eu lhe deixe no hospital ou em casa mesmo?

— Pode me deixar em casa, não estou vestida adequadamente... - Parou em surpresa ao raparar pelo que ele havia lhe chamado. - Você me chamou pelo nome?

— Chamei, vai ver isso melhora esse seu humorzinho miserável. - Ele pegou um cigarro e colocou nos lábios. - Se importa?

A Doutora deu de ombros, como se pudesse opinar.

— Você vai matar mais alguém ainda? - Perguntou receosa. - Porque, sabe... Harold era amigo do meu pai e meu pai também não foi nenhum santo. Não aprovo as atitudes dele, mas ele melhorou bastante de uns anos para cá. - Esperou, mas resposta alguma veio. - Só estou perguntando porque ele mesmo está com esse medo. Ele me disse que quem matou Harold devolveu todo o dinheiro roubado para os seus donos, os pacientes com câncer, e, se essa pessoa teve acesso às falcatruas de Harold, também teria às dele. E, vou lhe dizer, não são poucas nem bonitas, mas ficaram no passado. Eu até teria coragem de chamar a polícia para o chefe Shaw, mas matar... A devolução do dinheiro roubado é justiça. Mas isso já não foi o suficiente? Ele aprenderia a lição. Acredito que meu pai também. Por favor, só me diga se ele está na sua lista.

Ian estacionou o carro. Olhou nos olhos que lhe encaravam, o mais gentil que pode expressar.

— Eu não sou um assassino, Alana. - "Sou apenas o pau mandado.".

Ela assentiu, engolindo uma onda de saliva. Não acreditou, sabia que ele era o assassino de Shaw. Mas Ian não diria. Então ela desceu do carro, agradeceu a carona, por mais que distorcida, e seguiu abraçar um rapaz que estava sentado nos degraus da entrada de sua casa. Ian ficou esperando ela entrar em casa para ir embora. Ela o beijou e eles entraram de mãos dadas.

— Tem alguém que lhe aguenta? - Balbuciou para si mesmo.

Ian chegou em casa e Angie correu abraçá-lo. A babá felizmente não havia lhe deixado sozinha. Ela com certeza receberia os extras.

O rapaz tomou outro banho, trocou suas roupas e pegou Angie no colo.

— Vamos para a balada, gatinha?

— Até que enfim. Por que você não dormiu em casa?

— Porque eu fui visitar um amiguinho que mora beeem longe. Aí não deu tempo de voltar no mesmo dia. - Fez cócegas na menina. - Agora vá se arrumar para sairmos.

— Posso tomar banho primeiro? A escola me deixa com futum.

Ele olhou o relógio, dava tempo. Assentiu para a menina e ela foi.

— Jaque. - Chamou a babá. - Muito obrigado por ter ficado com ela. - Tirou algumas notas do bolso e a entregou. - Pode ir para casa descansar, eu cuido dela o resto do dia.

O Fim Do InvernoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora