Capítulo 6

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Ian chegou em casa carregando Angelina nos braços. Estava sozinho. Sozinho em casa, sozinho na vida, sozinho com seus pensamentos. Repousou a bebê em sua cama e se ajoelhou ao lado. Ficou assistindo-a brincar com a própria meia, ela mordeu, chacoalhou, babou, puxou-a de um lado e a soltou, fazendo a meia ser lançada no ar e cair em seu rostinho miúdo.

— Precisamos de uma babá.

O tom grave da voz do pai fez a menina gargalhar. Ele sorriu com a alegria da menina e logo em seguida deixou cair algumas lágrimas que estavam entaladas em sua garganta.

"Serão longos anos.".

É difícil criar uma criança sozinho, principalmente quando se é um homem que cresceu sem nenhuma orientação sobre como se deve criar uma criança, uma menina. Mas Ian mimaria Angelina mais do que o necessário. Largou o cigarro e, antes que precisasse alimentar a menina, Eliot já havia lhe apresentado uma babá. Apesar de ela estar a maior parte do tempo o ajudando, nem sempre estava por perto quando era necessária, principalmente quando, no meio da noite, a menina chorava. Sem saber o que fazer, Ian tentava de tudo um pouco para acalmá-la. Trocava as fraldas, alimentava, dava uma volta. Na maioria das vezes ela queria que Ian descesse as escadas, o suave impacto dos degraus era agradável e ela pegava fácil no sono, mas, assim que ele parava, ela voltava a chorar. Passar a noite subindo e descendo escadas deixou o rapaz mais cansado do que imaginava.

Mas depois de quase um ano, a menina já dormia sem precisar da ajuda das escadas. Ian já acordava mais disposto para seus treinos. Era inevitável chorar quando se lembrava de Keira. Queria que ela estivesse por perto para ver a filha crescendo.

Só ficou menos difícil pensar em Keira e conseguir não chorar e falar sobre ela sem se entristecer como antes após o segundo aniversário de sua morte. Ele se convenceu a apenas guardar as boas memórias, a deixar a tragédia para trás, sua filha merecia isso, ela já estava começando a falar e não seria nada bom absorver a negatividade do pai.

A primeira palavra de Angelina foi quando completou 18 meses.

— Ela disse Eliot? - Eliot perguntou brincando com o beicinho da menina.

— Não. Ela disse papai. Não foi meu amor? Fala "pa"... "pai". - Ian babava com tudo que a filha fazia, seja um sorriso, um balbucio ou uma risada que mostrava os únicos dois dentinhos que cresciam.

— Ian, tire esse lacinho do cabelinho dela. Coitadinha, está esquisito.

— Não está esquisito, não, Angie. Não escute o tio Eli. Tio Eli mau, muito mau.

— A criança vai se virar contra mim quando crescer e eu lhe culpo por isso.

No aniversário de 24 anos de Ian, ele ganhou uma festa surpresa de Eliot e Terry, coisa que seu pai nunca teria permitido se estivesse livre. O rapaz já havia se livrado do luto, apesar do amor que sentia por Keira sempre remanecer em seu peito, mas se sentia mais leve, nada mais estava entalado em sua garganta.

Não resistiu à tentação e voltou a fumar, ainda assim, nunca perto de Angie. Ela reclamava do cheiro, mas nunca o via com o cigarro na mão.

Já Angie, aos 3 anos, estava na época das pérolas. Uma mais engraçada do que a outra.

— Papai, eu quelo um passalinho.

— Mas você sempre corre das aves, Angie. Se tem medo, é melhor que não tenha.

— Mas eu quelo um passalinho não uma ave.

— Mas o passarinho é uma ave, meu amor.

— Não é não, papai. O passalinho é bonito.

O Fim Do InvernoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora