Sobre Músicas e Chicletes Tutti-Frutti

Capítulo 1

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Desde já, agradeço! Boa leitura!

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Azul sempre foi minha cor preferida. Ela me trazia uma paz imensa e podia me acalmar em segundos.

Acho que isso tem alguma coisa a ver com o significado das cores e a sensação que elas transmitem. Meu avô me disse uma vez que o azul transmite serenidade, tranquilidade e que era capaz de acabar com as energias negativas. Com isso em mente, tudo o que eu mais queria na vida era me trancar em um quarto todo azul.

De repente tudo isso mudou, o azul não me passava mais a ideia de paz. Eu me sentia como se estivesse sozinha no mundo, achava que todos ao meu redor um dia iriam embora e me deixariam sozinha. Desolada, triste e abandonada. Três palavras com significados pesados demais para uma criança indefesa que acabara de completar quatro anos.

Então ele veio e me apresentou outra salvação, uma "válvula" de escape: a música.

Lembro que desde cedo eu escutava músicas infantis, mas, quando ele me ensinou realmente como escutar uma música, parecia que eu estava conhecendo o mundo pela primeira vez, com outra perspectiva.

Fechei os olhos, respirei fundo e apenas me concentrei em coisas boas e que me faziam feliz. Então, esperei a voz do cantor ecoar e prestei total atenção na letra, tentando captar todo o sentimento que a música tentava passar, assim como ele pediu.

Tudo sempre tem um propósito, segundo ele, seja bom ou ruim. A música não era só para ser escutada, mas sentida. Havia muito mais por trás das letras do que podíamos imaginar. É como escutar um livro e procurar todo o contexto histórico, o enredo, os sentimentos dos personagens, a vida do autor e só assim você irá entender qual ensinamento aquele livro quer te passar.

Isso funcionou por bastante tempo. Eu já não sentia remorso, tristeza ou qualquer sentimento semelhante. Finalmente estava feliz, bem e entorpecida por todas as músicas novas que meu avô me apresentava. Então, tudo o que eu mais queria no fim das contas era me trancar em um quarto todo azul com minhas músicas preferidas tocando sem parar.

John Joseph Murphy disse uma vez que, na natureza, nada está sempre certo. Contudo, se tudo está indo bem é porque alguma coisa está errada.

Quando estamos realmente felizes, às vezes, nem chegamos a pensar nisso, só queremos curtir o momento como se fosse o último. Acredito que agimos assim porque, no fundo, sabemos que a felicidade é momentânea. Por mais clichê que isso possa soar: a vida é uma montanha russa com seus altos e baixos.

Tendemos a interpretar isso como algo negativo, mas quando vamos ao parque sabemos que a graça do brinquedo é justamente essa: subir e descer. Então, porque na vida seria diferente?

Acontece que, quando estamos em baixo, não conseguimos enxergar que isso é necessário. Para subir, precisamos descer.

Apesar dessa reflexão, que dou total crédito ao meu professor de religião, eu não consegui entender porque fui parar embaixo tão rápido. Em um momento estava tudo tranquilo e, no outro, tudo desmoronou.

Minha vida passou a se resumir em uma única palavra:

Vazio.

Como uma palavra tão pequena pode ter o poder de significar algo tão grande e doloroso?