Capítulo 22

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— O que você tá fazendo aqui? — perguntei depois de abraçá-la.

Ter Carolina ali nos meus braços depois de tanto tempo era mágico. Todas as vozes exteriores se silenciaram e só tinha eu e ela no nosso mundinho.

— Vim passar o ano novo com você. Pensou que eu não estaria aqui para te receber de volta? — ela abriu aquele sorriso e eu quase me desmanchei ali mesmo.

— E a faculdade?

— Recesso.

— Por que não me falou?

— Porque aí não seria surpresa, Annaju. — Carolina riu como se me achasse a maior bobona.

E eu era boba mesmo, completamente boba e apaixonada por ela.

— Bom... — Caio pigarreou ao meu lado, me trazendo de volta para o mundo real. — Desculpa interromper o romance de vocês, mas já é hora de ir!

— Claro. — Carolina concordou.

Olhei para o lado e vi estampado no rosto do meu irmão a mesma felicidade que com toda certeza também estava na minha. Ele empurrava a cadeira de rodas de Emily enquanto tagarelava sem parar no ouvido dela, a fazendo rir de segundo em segundo.

Senti tanta falta disso, deles.

Pedimos dois táxis para comportar todo mundo. Fomos conversando e rindo todo o caminho até minha casa, onde, assim que chegamos, pedimos várias pizzas e sentamos na sala para assistir a um filme, esse que ficou de plano de fundo porque conversávamos mais do que prestamos atenção. No fim da noite, minha mãe deixou todos dormirem aqui e nos apertamos no meu quarto e até Lucas que não gostava de dormir fora da sua cama, fiquei um pouco lá, mas, quando acordei de manhã, vi que ele voltou para o quarto em alguma hora da noite.

Finalmente eu estava em casa e, agora mais do que nunca, sentia que aquele era o meu lar. Sentia que não era mais necessário sair de Serro Azul para me encontrar ou me sentir em paz, aquele era o meu lugar e não existiria nenhum outro que me faria tão bem quanto esse. Serro Azul tinha minhas lembranças, meus amigos, minha família e minhas paixões.

Carolina dormiu na cama comigo, me envolvendo em seus braços quentes e respirando na minha nuca. Emily tinha armado uma barraca junto com Lucas no canto do meu quarto, os dois tinham uma lanterna com a luz baixa e pareciam estar lendo algumas das imensas coleções de Biologia Marinha do meu irmão. Os outros estavam deitados em colchões e amontoados de cobertores, completamente desmaiados de sono. Meu coração aqueceu.

— Você ainda não dormiu? — escutei a voz de Carolina sussurrando em meu ouvido.

— Estou quase pegando no sono. — me aconcheguei mais em seus braços.

— É bom ter todo mundo reunido de novo. — ela tirou as palavras da minha mente.

— Verdade.

— Eu estava com saudades disso. — senti seu nariz passar pelo meu pescoço fazendo um carinho. — Estou sempre pensando em vocês, em você, Annaju.

— Eu também. — me virei, ficando de frente para ela, e aproximei nossos rostos. — Eu também, Carolina.

Levei uma das minhas mãos a sua bochecha e admirei seu rosto iluminado por uma pequena fresta de luz que saía da cabana de Lucas e Emily. Como eu sentia saudades de olhar o rosto dela de pertinho, sentir a textura da sua pele aos meus dedos, sua respiração batendo no meu rosto e os cabelos emaranhados. Carolina sorriu e então eu a beijei. Um selinho simples. A apertei em meus braços e a beijei como se quisesse guardá-la dentro de mim, dentro do meu coração.

(...)

Eu estava nervosa. Claro que já compus música com Nick para tocarmos para o público, mas essa era a primeira vez que eu mostrava uma letra completamente feita por mim do início ao fim com meus sentimentos. Mas também eu estava ansiosa, dei tudo de mim para escrever aquelas músicas quando estava em Santa Catarina que não via hora de cantá-las e ver a reação das pessoas. Será que eu conseguiria transmitir tudo o que estava sentindo?

— Caraca, Annaju! — PH se jogou no sofá da garagem de Caio. — É tão bom ver você segurando sua guitarra novamente, a bixinha tava há um tempão pegando poeira.

— Real, parecia uma eternidade até que pudéssemos tocar juntos novamente como nos velhos tempos. — Nick abriu o cooler e pegou uma garrafa de água mineral, jogando uma para cada um.

— Você disse que tinha algo para nos mostrar, o que é? — Caio, que estava atrás de mim, pegou no ar a garrafa que Nick lançou para ele, recebendo aplausos de PH.

— Bom... não é nada demais, sabe. — eu tentava distrair a minha tensão ajustando a minha guitarra e a conectando no amplificador.

— Largue logo.

— É que eu queria mostrar minhas músicas. — soltei, pegando meu caderninho de música na minha bolsa. — Tipo assim, não é nada muito elaborado e nem sensacional. Se vocês não gostarem, não precisam tocar...

— Deixe de onda e mostre pra gente logo, gata. —Nick tomou o caderno e folheou ele.

Eu abri a boca para protestar, mas ela levantou a mão para que eu fizesse silêncio. Os outros dois se reuniram atrás dela para terem a visão das minhas músicas e eu quase fechava os olhos. Nenhum dos três fizeram qualquer reação, eles só liam e passavam a página até fecharem o caderninho e me olharam arregalados.

Eai? — ergui as sobrancelhas. — Vocês não gostaram né... — suspirei e avancei para tomar o caderno da mão da Nick, mas ela gritou, me assustando.

— SENSACIONAL!

— Radical, Annaju, você tem um dom! — PH abriu um sorriso e levantou os dois polegares para mim.

— Você é a compositora oficial da banda a partir de agora. — Caio se manifestou, pegando o caderninho para ver as letras novamente.

— Então, vocês gostaram? — um sentimento de felicidade cresceu dentro de mim.

— CLARO! — falaram juntos.

— Por que você nunca falou para a gente que escrevia?

— Claro, nós precisamos ver como isso fica na voz de cada um e no ritmo dos instrumentos. Talvez a gente tenha que fazer uns ajustes, não nas letras, mas nos arranjos. — Caio, que interrompeu PH, dizia sem tirar o olho das páginas. — Mas as letras são incríveis, não são vazias, transmitem sentimentos reais.

— Isso, podemos começar hoje! — Nick foi até Caio. — Essa música mesmo, vai ficar legal se fizermos assim... 

Finalmente estava tudo como deveria ser. Olhei ao redor e parecia que nada tinha mudado. Quer dizer, eu mudei, mas o resto estava igual como nos velhos tempos.

Sobre Músicas e Chicletes Tutti-FruttiWhere stories live. Discover now