Capítulo 16

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16

Passaram-se seis meses. Agosto chegou com muita chuva e tempos nublados, mas as coisas por aqui melhoraram bastante. Voltei a escrever minhas músicas e mal podia esperar para voltar para Serro Azul e compartilhá-las com o resto da banda. Eu estava finalizando um trecho quando Alice enfiou a cabeça em meu campo de visão.

— Hum... Tá' ficando supimpa! — logo ela voltou sua atenção para o mangá que tinha em mãos. Alice tinha essa mania de usar gírias que ninguém, pelo menos ainda vivo, usava mais.

— Vou tocar e você me diz o que acha. — peguei o violão do meu avô ao meu lado e o posicionei em minhas mãos, começando a dedilhar as cordas.

Uma das primeiras coisas que Alice fez quando nos conhecemos foi me apresentar ao seu lugar secreto que era basicamente um jardim que ficava na rua de trás à sua casa. Era um lugar calmo e aconchegante, algumas crianças ficavam por lá brincando no parquinho, mas fora isso quase ninguém ia, o que era bom.

— Xuxu beleza! — piscou um dos olhos.

Cantei os únicos versos prontos que eu tinha da música no ritmo exato que eu idealizei mentalmente.

— Minha nossa, nossa, Annaju! Você leva muito jeito para isso, não vejo a hora de ir a um show seu. — Alice exclamou assim que terminei. — É sobre sua namorada?

— Não estamos namorando. — coloquei o violão de lado e voltei a ajustar algumas partes no caderno.

— Ainda, mas é só questão de tempo. — ela fechou o mangá e olhou sonhadora para mim, a cabeça apoiada sobre as duas mãos.

— Que pena que você não está com o seu celular, queria ver uma foto dela.

— Eu também queria... — parei por um momento.

— Você não teve nenhuma notícia dela? — neguei. — Poxa, é tipo um Romeu e Julieta sáfico.

— Eu espero que ninguém morra, né. — arregalei os olhos e ela caiu na risada.

— Mas faltam só quatro meses e logo você estará nos braços de sua amada. Se amando e se beijando... — Alice abraçou o próprio corpo e fingiu beijar alguém.

Empurrei o seu ombro de leve, rindo da sua encenação melosa e super exagerada.

Alice era uma ótima amiga, não conhecia uma pessoa do colégio que não simpatizasse. Era uma tarefa difícil. Eu estava quase sempre seguindo ela e suas amigas pelos lugares. Um grupo peculiar, mas sempre faziam com que eu me sentisse acolhida. Elas não me julgaram quando eu disse que era apaixonada por uma menina ou quando me assumia bissexual.

Santa Catarina não era tão ruim assim, aos poucos tudo foi se ajeitando e o tempo começou a passar mais rápido. Segundo minha mãe, Lucas já não chorava mais ou tinha crises. Caio sempre ia lá ficar um pouco com ele, ver como ele está e levava alguns biscoitinhos que a mãe dele fazia. A banda tinha dado uma pausa, eles não queriam se apresentar sem mim.

Eu tinha notícias de todos.

Menos da Carolina.

— Quase esqueci! — Alice estapeou a própria testa. — Hoje vai ter o evento de agosto no barzinho da rua central, aquele com vitrines e luzes, vai ser só adolescentes, nada demais. Vamos? O pessoal todo vai.

— Eu vou falar com a minha tia. — peguei minhas coisas, joguei tudo na mochila e comecei a me levantar.

— Eu passo na sua casa às sete horas em ponto.

Sobre Músicas e Chicletes Tutti-FruttiWhere stories live. Discover now