Capítulo 2

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♪ ♥

Amor é um sentimento de carinho e demonstração de afeto que se desenvolve entre seres que possuem a capacidade de demonstrá-lo.

Eu não sabia se o problema estava no amor ou nos seres humanos que, na minha humilde opinião, não tinham capacidade nenhuma para demonstrá-lo corretamente. Por muito tempo, eu me questionei sobre o que é amor e as definições que o Google dava eram muitas. Então, porque existiam tantos obstáculos para amar? Parece algo tão simples, um sentimento bom, puro e capaz de acabar com toda a guerra ou solidão que se alastrava pelo mundo.

Quando meu pai sumiu do mapa, deixando minha mãe com nada menos que um salário-mínimo, ela entrou em depressão. Hoje, com outra mentalidade, percebo que meu pai nunca amou minha mãe ou sequer a mim. O homem, que jurou perante a Deus prometer amá-la e respeitá-la até que a morte os separasse, a abandonou com uma criança sem mais nem menos. Foi um período difícil para ela, já que minha avó faleceu na mesma época. Com isso, Dara entrou no mundo do vício. Ela bebia muito e fumava uma cartela de cigarro por dia, até passou a se envolver com qualquer um. E foi assim que Lucas nasceu quando eu tinha sete anos.

Dara o levou para nos conhecermos algumas vezes e ela sempre pediu para eu ser cuidadosa porque ele era diferente.

E, finalmente, o amor entra nessa história.

Eu nunca pedi um irmão, sempre fui de brincar sozinha e nunca me incomodei com isso, pelo contrário, eu gostava. Quando soube que Dara estava grávida, na época, eu a odiei porque achei que ela faria o mesmo que o papai: me abandonaria. Então, eu conheci o Lucas e ele se tornou tudo para mim em muito pouco tempo, o que foi assustador. Na maioria das vezes ele era um grande pé no saco, mas eu o amava.

O amava incondicionalmente.

E hoje de manhã eu tive, novamente, a certeza disso.

Eram pouquíssimas vezes as quais ficava ansiosa. Minha mão suava, minhas pernas estavam bambas e, ironicamente, contrapondo todo o suor do meu corpo, meus lábios estavam secos. Isso tudo porque o dia do show chegou.

Eu estou acostumada a me apresentar para adolescentes e adultos bêbados nos bares de Serro Azul do Agreste, mas hoje seria diferente. Teremos um grande público de pessoas bem lúcidas e que estarão prontas para vaiar a qualquer momento.

— Anna Júlia. — Lucas veio até o balcão onde eu estava tomando café com a cabeça baixa e acuada. — Você sabia que os golfinhos possuem uma grande capacidade de cura e de regeneração? Eles também não têm hemorragias graves, pois conseguem contrair os vasos sanguíneos para interromper o sangue.

Estava quase dando outra mordida em meu pão com queijo quando parei no caminho. Fiquei olhando e piscando lentamente para a figurinha parada ao meu lado, sem entender bulhufas de onde ele queria chegar.

— Massa... — acenei com a cabeça e voltei a comer.

Massa não. Incrível! — ele exclamou com desdém e um tanto quanto ofendido. — Enfim, vocês serão incríveis como os golfinhos hoje! E como você diz... Manda ver. — Lucas mal esperou que eu terminasse de processar o que ele disse e saiu correndo atrapalhado para onde a mãe estava.

— Boa sorte hoje, estaremos torcendo por você! — Dara disse antes de sair com Lucas de casa.

A animação de Lucas de certa forma me contagiou, mas nada tão grandioso a ponto de anular toda a ansiedade que percorria cada célula do meu corpo.

Sobre Músicas e Chicletes Tutti-FruttiOnde histórias criam vida. Descubra agora