Cap. 47

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Acordei com o som da porta abrindo.

— Desculpa por tê-lo acordado, Cadu. Vim medicar o senhor de novo. Sim, já se passaram oito horas desde a última vez.

Fiquei um pouco assustado, dormi demais.

— Consegue conversar comigo?

— Quanto — respiro fundo — tempo estou aqui?

Por incrível que pareça não doeu tanto como a última vez.

— Quando seu irmão te visitou havia completado vinte e quatro horas que você estava aqui na observação. Por isso tínhamos deixado seus parentes te visitarem. No momento ele se manifestou primeiro, desabafou com toda a família que você era muito importante para ele e que nem lembrava da última conversa que vocês tiveram. Você já saiu da observação, já fez exames como o raio-x do tórax, gasometria arterial, broncoscopia e testes de função pulmonar. As coisas poderiam ter sido piores. Entretanto, voltará para a UTI — da qual você já estava depois que completou todos os exames e fichas feitas pelos médicos responsáveis. O motivo é simples, queremos que se recupere melhor e mais rápido. Lá os cuidados serão mais específicos. Provavelmente ficará lá até que se recupere por total.

— Visita?

— Das quatro e meia às cinco e meia da tarde. Quatro pessoas poderão visitá-lo, uma de cada vez. Podem fazer revezamento de quinze em quinze minutos.

Olho ao meu redor, processando um pouco o que aconteceu nas últimas horas.

— Talvez não se lembre das últimas vinte e quatro horas porque esteve a maior parte do tempo sedado para não sentir dores, isso o deixou meio grogue.

Faço uma cara estranha, eu estava com dor de cabeça.

— Está sentindo alguma coisa?

— Dor de cabeça.

— É comum dor de cabeça no seu estado, você dormiu demais.

— Sabe sobre meu filho? — Eu sentia que minha voz estava bem falha. — Minha irmã?

— Ah, o senhor está falando daquela moça e o menino que estavam com você?

Afirmo com a cabeça.

— Sua irmã teve um quadro tão grave quanto o seu, mas o estado clínico é estável. Ela já foi transferida para a UTI e passa bem com os cuidados médicos lá. Ninguém visitou ela, pois estava passando por procedimentos médicos até poucos minutos atrás.

— Foi muito sério? — Falo pausadamente por causa da secura que estava minha boca.

— Não tanto. Mais um pouco naquela casa e ela morria, assim como você. Seu filho passa bem também. Ele desmaiou devido o calor, não por causa da fumaça em si. O paciente está no quarto e sua família já o visitou.

Respiro fundo, mais aliviado. Fecho os olhos, foi a melhor notícia que recebi até agora. Por fim, ela ajustou alguns equipamentos em mim e novamente saiu do quarto. Mais tarde me levaram para a Unidade de Tratamento Intensivo, mas ainda não era horário de visitas.

•••

Os sons dos aparelhos das outras pessoas me acordou de um sono longo que tive. Eu juro que não tenho noção de dia e horário. Estou em um leve abismo desde que cheguei aqui. Está sendo uma das piores experiências. Primeiro, por não ter visto Thai e Miguel até agora. Segundo, por não saber como minha mãe está lidando com tudo isso. Mesmo trabalhando em um hospital, mais especificamente, nesse hospital, ela nunca está preparada para ver sua família nele. Como protocolo dos médicos, ela não pode cuidar da gente, pois família é algo que mexe com o psicólogo e o lado emocional.

Meu Caveira (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora