Cap. 13

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Por mais que não estivesse tão bem, eu não iria falar sobre isso com ele. Não sei, vai saber se é só uma fase. Eu também não posso reclamar de nada, já que eu mesmo escolhi ser policial e sabia que grande parte do meu tempo eu gastaria com o trabalho. Hoje eu estou decidido, vou buscar Miguel na escolinha e passar o resto do dia com ele. Vendo assim até parece guarda compartilhada, mas infelizmente até não termos nossa casa vai ser desse jeito. Posso pedir para que Beatrice durma aqui hoje, faz tempo que não passamos um tempinho juntos.

— Você sabe onde a mãe está? — pergunto me deitando no sofá e ligando a TV pelo controle remoto.

— Ela foi trabalhar, esqueceu? — ele ri.

Minha mãe tinha voltado de férias hoje, o que eu havia esquecido. A esse momento ela deve estar no hospital, já que trabalha com enfermagem. A história dos meus pais são de superação nível hard. Minha mãe não tinha dinheiro para fazer medicina, seu sonho, mas devido a uma prova que fez em sua adolescência ela conseguiu realizar tudo pela metade do preço que os cursos custavam na época. O engraçado é que meus pais se conheceram no hospital, quando o meu pai levou um tiro no ombro e ela estava de plantão. Aí, sabem como é, né? Amor a primeira vista. Sim, podem ler isso como se eu estivesse fazendo uma voz fininha e de tédio. Já meu avô servia o exército, por isso meu pai quis ser um policial. Não para servir o exército, mas sim, para defender a sociedade nas ruas, como Militar, Federal ou Civil. Tanto que ele é da Federal lá em Brasília hoje em dia.

— Beatrice vai vir hoje?

— Não sei.

— Não sei? Vocês parecem mais um casal divorciado com a guarda do filho compartilhada.

— É, eu sei.

— Tá difícil a situação financeira, não é?

— Demais — entorto os lábios. — Você acha que se eu tivesse dinheiro eu não teria comprado ou alugado uma casa? Eu só entrei na profissão de policial por amor, não somos recompensados da maneira que deveríamos.

— Calma, tudo vai melhorar. Você já entrou no BOPE, olha o grande salto que você deu na sua vida. E eu aqui, sendo personal trainer e nutricionista.

— Como se isso fosse ruim — reviro os olhos.

— Você entendeu. Sua profissão é fodastica! Você ajuda a sociedade, eu ajudo apenas quem me contata — dá uma risada de frustração.

— Você tem vinte e dois anos, para mim isso é muito para sua idade.

— É, pode der — se gaba, dessa vez.

Ficamos a tarde toda assistindo jogos de basket e vôlei que passavam na tarde fria de São Paulo. Sim, o tempo mudou de repente.

— Iii, parece que você vai pegar uma bela chuva para buscar o Miguel na escolinha.

— Isso que estou vendo — risos. — Vou lá, tá? Daqui a pouco eu volto.

Ele assente. Saio de casa com as chaves da casa e do carro, indo tirar o mesmo da garagem. A escolinha que Miguel estuda não é tão longe de casa, dá até para ir a pé, mas está chovendo.

— Olá, vim buscar o Miguel Sampaio — sorrio para a moça que fica na porta chamando os alunos conforme a chegada dos pais.

— An...  Desculpa, mas já buscaram ele — ela entorta os lábios.

— O quê? — meu sorriso se desfez, agora eu estou tomado por uma expressão de ódio sem nenhum esforço. — Por quem?

— Pedro Cardoso — ela tenta lembrar.

Meu Caveira (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora