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Sentado no chão, corri os olhos de uma ponta a outra da loja escura. Movi a lanterna e fiz sombras distintas na única parte do ambiente que era feita inteiramente de concreto.
   Um sopro aquecido sinalou em minha nuca, seguido de uma repetição de palavras que pareciam assumir o controle de meu subconsciente: perdoe-me, filho, mas preciso que venha até mim.

O que está acontecendo comigo? Perguntei-me e, como um tsunami devorando a tudo, o sono pregou-me uma peça e acumulou-se para me atingir de imediato, similar ao negror engolindo-me gradativamente.

O ar parecia ter deixado de existir por uma eternidade dentro de longos minutos, o peito subia e descia e, ainda assim, a respiração era inválida. Atrás de mim, um muro construiu-se de repente, da mesma forma que a fada-madrinha da Cinderela transformou a abóbora em uma carruagem.
   Frio, o lugar era revestido por uma camada tenebrosa de frio que me abraçava e se espalhava por toda a derme arrepiada.

— Jungkook, venha até mim. — A mesma voz familiar chocou-se novamente em meus ouvidos. — Eu preciso de ti.

Pai? Uma lágrima fiou minhas bochechas.

— Você nos deixou. — Meus olhos buscavam pelo rosto cuja forma escondia-se em névoas obscuras. — Não tem o direito de pedir isso. — Conseguia ouvir o tinido agudo das lágrimas encontrarem o chão, do mesmo modo que uma agulha.

— Meu filho. — As mãos geladas tocaram-me os ombros, arrastando-se até os fios soltos. — Necessitava testá-lo.

— Vai embora! — exclamei, abrindo os olhos. Meu coração palpitava intenso e verdadeiramente, poderia até ser confundido facilmente com um relógio de parede.
   Toquei a parede para escorar-me e me levantar.

— Está tudo bem, Jungkook? — Namjoon indagou, baixo.

— Claro — embora respondesse rápido para esconder-me, era nítido em meu desnorteio a falta de um bem-estar. — Volte a descansar, sairemos de manhã. — Sorri.

Engoli a seco, apoiando-me nas paredes, não por me sentir mal, mas por pouco enxergar devido à falta de iluminação.
Recostei no Maverick, dedilhei a lataria e grudei as costas à lateral de tal maneira a ser cruelmente álgida devido ao material que lograva reter o ar fresco das madrugadas mais intensas. Vamos sobreviver a esse pesadelo, sussurrei para mim mesmo. Encontrarei vocês... Travei uma batalha silenciosa contra as lágrimas que guerreavam para saltarem de meus olhos.

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Na manhã seguinte, sentados diante a fresta da luz solar que entrava por entre os vãos da janela da loja, nos alimentamos com barras de cereais, pacotinhos pequenos de biscoitos cookies que ainda estavam dentro da validade e duas garrafas de água mineral.
   Apesar de perigoso, durante a madrugada, após acordá-lo involuntariamente com meu grito, Namjoon colocou-se em risco para apanhar um galão de gasolina que lembrou estar embaixo de seu banco no outro automóvel e abasteceu o Maverick usando apenas metade do líquido. O tanque fora completamente cheio antes do recipiente esvaziar, possivelmente o homem morto sobre o chão gelado havia cuidado daquela parte.
   Yoongi acomodou Jonghyun no banco de trás, enquanto Namjoon estava aguardando para abrir o portão, já que pela falta de energia, precisávamos fazer aquilo manualmente. Mas, pelo menos, nos faria escapar daquele ninho de seres que se acumulava na frente da loja.
   Posicionei-me atrás do volante revestido por um tecido que se ajustava à minha mão. O motor 302 V8 deste modelo da Ford, embora fosse do ano de 1979, rugia ferozmente e o painel acendeu em luzes fluorescentes, que se mesclavam em verdes e azuis. Colocando a mão para fora, fiz um sinal para que Namjoon abrisse o portão de ferro. Logo, passei a marcha e as rodas embaixo do mesmo relincharam enquanto moviam-se para a direita.
   A luz e o ar de um novo dia explodia sobre o pára-brisa que precisávamos limpar porque Yoongi entornou um bocado de farelos de cookies quando tentou explicar algo que nem ele mesmo conseguia entender devido à boca cheia.
   Namjoon correu até a porta do passageiro, acomodou-se sem se importar com um morto-vivo o acompanhando e, sem hesitar, bateu-a com uma força descomunal. Acreditei ser por causa da adrenalina energética que o garoto apresentou desde o momento em que abriu os olhos.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα