Capítulo 30-Impulsiva.

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– Ok. Obrigada.

– Mas... Acredito que seria prematuro algo como uma mudança agora. Não agora, pois está muito recente esse forte acontecimento, isso pode desencadear uma sequência comportamental incomum que nós não queremos mais que retorne.

– Eu entendo Dra. Mas preciso perseguir meus sonhos, respirar novos ares. Isso pode me fazer bem, não é?

– Poderia. Se a mudança fosse pelo seu sonho, mas não é, você teve inúmeras oportunidades no ano passado para ir. Existe outro motivo e aqui está você se fechando como uma concha e deixando de fora a única pessoa que pode ajudar, que conhece bem a sua condição. Não posso interferir em sua vida, sou apenas sua terapeuta, só que justamente por ser sua terapeuta é minha a responsabilidade de repassar o seu caso para alguém que não a acompanhou desde o início. Acho louvável que você esteja correndo atrás dos seus sonhos, também. – ela pausa buscando as próximas palavras. – Por qual outro motivo você realmente está indo para São Paulo?

Penso em dizer a verdade, mas ela iria concordar ainda menos se eu dissesse que descobri que meu amigo gay, com quem tive relações sexuais e não contei durante nossas sessões, me ama e que um possível caso sexual dele estará viajando também, por isso preciso lutar por ele e não abrir a guarda. Com certeza devo omitir essas informações. Ainda mais pelo fato de que tive o primeiro sexo da minha vida sem que tenha sido forçado, mas ainda sim foi de uma forma fora dos parâmetros tradicionais.

– Ok. Eu... Não me vejo mais morando aqui, não sei por que continuo morando no mesmo estado que o psicopata que me arruinou, eu preciso me libertar de suas garras, e se ele mandou uma encomenda pra mim... Ele sabe onde me encontrar. – deixo as lágrimas saírem imaginando que isso poderia ser o motivo real, talvez seja um pouco.

– Luna, nós ainda não conseguimos chegar ao método de Terapia de Exposição Prolongada, que é justamente o que vai entrar no cerne do trauma. Até agora tratamos e obtivemos resultados com a parte que fica exposto para as pessoas, tratamos do seu comportamento ao redor de terceiros, da depressão, raiva, ansiedade, vergonha, culpa que algumas vítimas de abuso sentem, mas você nunca disse nada sobre o trauma.

Me mexo desconfortavelmente no meu lugar, eu sabia que ela traria para a mesa a carta da TEP. Essa droga de método invasivo que requer que os pacientes exponham tudo e revivam as cenas, ouçam as malditas músicas, pronunciem os nomes que machucam, compartilhem a dor. Mas eu não posso, ainda não estou pronta. Mesmo que os resultados sejam positivos na maioria dos casos.

Por que pedi a opinião pessoal dela? Preciso sair daqui. Agora

– Se nós já tivéssemos iniciado a TEP essa música não teria lhe atingido como fez, e agora você poderia ir até para o Polo Norte, não haveriam consequências. Eu preciso iniciar a TEP, Luna. Dê-me de 18 a 20 sessões e você verá um resultado significativo. Sua condição não é comum, mas é tratável. Quando você veio para eu trata-la, contei que chegaríamos nessa fase, bem, já se passaram anos e ainda não iniciamos. Nós precisamos falar daqueles momentos, daquele tempo, da experiência traumática. Por isso, não posso liberar você para viajar ainda. Sinto muito. Talvez eu devesse ter tratado você de dentro pra fora, porque agora você age como uma pessoa normal, mas as outras pessoas aqui fora não sabem que você por dentro é uma bomba relógio, aguardando a fagulha, o gatilho. As consequências poderiam ser catastróficas e até arruinar outras vidas.

Depois de muita conversa ela diz que conhece alguém que poderá pegar meu caso depois que concluirmos a TEP. O que a Dra. Maíra não sabe é que não posso esperar mais.

Estou me mudando na próxima semana, com ou sem a sua aprovação.

Saio do consultório prometendo voltar e tentar começar a TEP.

Ele Vai Ser MeuWhere stories live. Discover now