Fase 1/Capítulo 1- Mudanças

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            "Uso a palavra para compor meus silêncios"

                    (Manoel de Barros)

Luna

– Essa é a última – suspiro aliviada – Preciso de um banho desesperadamente – digo me jogando no sofá extremamente macio, lindo e caro, eu poderia morar nesse sofá. Só não é perfeito porque não é meu.

Estou me mudando para o apartamento do Vinícius ou Vini, como gosta de ser chamado, filho da Dona Yone minha tia de consideração e patroa da Laura minha mãe. Nunca entendi bem esse relacionamento íntimo de patroa e empregada entre elas, mas como minha mãe trabalha há muitos anos na casa dos Wernecks, talvez seja esse o motivo.

– Só uma pergunta Luna, se o apartamento é mobiliado, porque cacete você trouxe tanta coisa?

Minha melhor amiga Jô diz com uma ponta de irritação, por estar numa sexta-feira fazendo minha mudança, toda suada e descabelada, me fazendo rir. Onde estão as almas caridosas e gentis dos vizinhos, que vimos em filmes quando mais precisamos? Bom certamente não nesse prédio.

– Jô eu tenho muitos itens pessoais, roupas, sapatos, perfumes, livros... Você sabe – resmungo a última parte, e dou de ombros.

– Duvido, se eu bem te conheço, umas caixas devem conter roupas e todos os itens pessoais, e as outras trezentas caixas são livros – semicerra os olhos e aponta o dedo pra mim. Ela me pegou, tenho que disfarçar para não suscitar sua raiva.

– Jô, meus livros são parte de mim, eles dizem quem eu sou, são meus bebês. Que tipo de mãe eu seria se os abandonasse?

– Ah não, não vem poetizar seu vício literário também. Já basta você fazer isso com todo o resto. Você até me convenceu a dar dinheiro para um menino no sinal, dizendo que "ele me pediu", e "é melhor pedir que roubar", e que "não importa o que ele vai fazer com o dinheiro, porque quem sabe da realidade dele é ele", e parará pururu.

Minha amiga olha-me abaixando o queixo, arqueando suas sobrancelhas perfeitas e arregalando o máximo que pode seus olhos orientais. Jô é tão linda com seu longo cabelo escuro e olhos apertadinhos. Sua família é metade japonesa. Jô puxou a beleza oriental de sua mãe. Os homens fazem fila para tentar a sorte com ela. Mas nem sempre foi assim. Minha amiga já sofreu bastante também.

– Eu não estou poetizando nada, eles são meus bebês, é assim que eu me sinto.

– Ok! E você não poderia deixar alguns dos seus "bebês" onde eles estavam? Hein?

– Claro que não! – Digo um pouco mais alto do que realmente deveria.

– E outra coisa, você sabe que morando nesse condomínio luxuoso, terá que mudar alguns hábitos não é?!

– Não acho. Você quer que eu mude só porque estou morando perto de pessoas ricas? Eu não sou rica Jô. Você é. Não vou me iludir com essa vida.

– Não é sobre isso. Não deve mudar em nada quem você é. Estou falando de hábitos Luna. Não vai ficar enfurnada nesse apartamento lendo um livro atrás do outro. Você sabe, "Não faz bem viver sonhando e se esquecer de viver, lembre-se". Não sou eu quem disse, foi Alvo Dumbledore.

  – Não acredito! Está citando Harry Potter para mim? Sua criança fanática. –  solto uma gargalhada com sua atitude familiar de trazer Harry Potter para a conversa. – Quem está poetizando agora?

– Falando sério, você não pode ficar  acumulando histórias de outras pessoas ao invés de fazer a sua própria história.

Nisso ela tem razão. Foi um período difícil, mas acabou. Tenho que sair mais de casa. E viver minha própria história sem medo, o que vai demorar um pouco, acredito.

Ele Vai Ser MeuOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz