Capítulo 3- A primeira impressão é a que fica?

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"O livro é um mestre que fala, mas que não responde."

(Platão)

Luna

Uma semana trabalhando num escritório de advogados e parece que tenho vinte anos a mais. Olheiras, cabelo sujo, depilação vencida, unhas roídas e emagreci um quilo. Não que essa parte seja ruim.

Estou péssima. Passei a semana toda estudando em casa. Virei noite várias vezes assistindo vídeo aulas. Fiz dois cursos online e estou quase tendo o rosto estampando como cliente do mês na cafeteria Coffee Coffee Cake que fica na esquina do meu prédio.

Deveriam sinalizar isso nas séries sobre rotina de advogados. Porque não dizer algo tipo: "Esse programa é totalmente fictício, caso opte por ser advogado esteja preparado para não ter tempo nem para se coçar" ?

Quase mandei um e-mail para cada cliente do escritório com uma "nova regra", para que não sejam presos durante a madrugada. Habeas Corpus foi o que mais fiz e tenho a impressão que os clientes fizeram um complô, já consigo visualizar a conversa: "Oi X o escritório J A está com assistente nova, vamos infernizá-la?" "Oi Y, claro que vamos. Serei pego dirigindo alcoolizado na terça-feira, e você agride alguém na quarta". Talvez tenha até rolado uma risada maligna.

Hoje termino a primeira semana de trabalho. Tive que recorrer aos meus amigos Vade Mecum, Google, Wikipédia e Youtube várias vezes. Está sendo mais difícil fingir que estou no quarto período de direito que supus.

Um dos meus chefes já está de saída. Sou a penúltima a sair do escritório porque a Rose fica para limpar todas as salas e mesas.

– Boa tarde Luna. – Sr. Jair se despede.

– Boa tarde Senhor. Até segunda – faço o máximo para não mostrar meu cansaço.

– Até! Bom fim de semana.

Depois que o vejo sair corro para arrumar minha mesa e deixar tudo pronto para a audiência de segunda-feira. Estou oficialmente livre para meu primeiro fim de semana de folga.

Caminho para o ponto do ônibus. Encho meus pulmões com o máximo de ar que posso enquanto aguardo.

Após alguns minutos, um carro para buzinando. Fico feliz quando avisto minha avó Yolanda a quem chamo de Nana desde sempre, pois não conseguia pronunciar seu nome, então acabou ficando assim.

Nana é uma das pessoas mais importantes para mim. Esteve ao meu lado nos piores momentos que passei na vida. Fiquei morando em sua casa depois que tudo aconteceu e ela simplesmente acolheu-me como só uma avó faria. Aprendi muito estando lá. Ensinou-me a cozinhar, me vestir, tudo sobre etiqueta e tantas outras coisas.

Sorrio enquanto caminho aliviada para o carro, pois é tudo que preciso no momento. Sentar e relaxar. Um ônibus pode fazer testes de resistência física e mental em você e acredito que não seria aprovada nesse teste hoje. Estou um caco de tão cansada. Imagine quando começar a faculdade na segunda. Preciso de uma nova rota, uma menos cansativa.

Entro no carro e abraço-a bem apertado, dou-lhe dois beijos na bochecha.

– Nana você é minha heroína, leu meus pensamentos. – agradeço-a.

– Se Maomé não vai à montanha... – sorrio.

– Desculpe a semana foi bem corrida, entrei logo durante um caso que causou furor na mídia.

– Qual é mesmo o nome do escritório que está trabalhando? – fico tensa com a pergunta, não quero mentir para ela, mas não tem outro jeito.

Ele Vai Ser MeuWhere stories live. Discover now