Capítulo 11-A virgem dos lábios de mel.

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"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar."

(Friedrich Nietzsche)

Ricco

O dia passou arrastado, como se segundos fossem horas. Não sei o porquê de estar tão nervoso o tempo todo. É apenas um jantar informal na casa do meu tio. Já fui a vários, ele sempre faz isso por gostar de cozinhar.

Mas então por que estou parado na porta dela, há cinco minutos com a mão na campainha sem tocá-la? Isso porque estou pronto há uma hora. Qual é o meu problema? Desisto de entender e aperto o maldito botão.

Poucos segundos se passam e ouço passos. Sou arrebatado com a visão de uma Luna com macacão preto, justo no busto e solto na calça. Um blazer salmão combinando com sapatos e bolsa da mesma cor. Ela possui um talento para ser sexy e elegante ao mesmo tempo.

– Vizinho! Pontualidade britânica – diz com um largo sorriso.

– Como está se sentido? – aponto para o corte na lateral da testa.

– Muito melhor. Vamos?

Peço um carro pelo telefone enquanto descemos. Sou terminantemente proibido de dirigir todas as vezes que vou à casa do meu tio. Ele diz que quer que eu beba e relaxe. Não que eu pretenda relaxar hoje com ela estando lá. Mas quanto mais sair da rotina, mais minhocas na cabeça meu tio terá sobre essa moça.

Quando finalmente chegamos, desço do carro primeiro para ajudá-la. Conversamos por todo o caminho. Ela é muito agradável para se estar perto. Descobri que temos muito em comum. Falamos sobre filmes clássicos do cinema, pelo qual compartilhamos o mesmo gosto. Música. Política. Manias. Qualidades e defeitos. É fácil conversar com ela. Consegui me abrir mais em uma curta viagem para ela, que na hora inteira da sessão de terapia, que fui apenas uma única vez.

Sorrimos e discordamos em algumas coisas. Mas até as pequenas desavenças foram gostosas. Gostei de ouvir seu ponto de vista. Ela é muito inteligente e culta, apesar de ser tão nova. Mas em nenhum momento desejei estar em outro lugar que não ali, com ela. Arrancou várias gargalhadas minhas. Logo eu que não sou de sorrir. Nunca.

Estive olhando seu perfil o tempo todo. Tão linda meu Deus. Pareço a porra de um maníaco que mal consegue desviar os olhos. Mas ela possui essa coisa no olhar, que faz com que me identifique. Sei que teve um período difícil. Só que isso que eu vejo, vai além de tudo que já senti. É como se pela primeira vez alguém finalmente fosse entender minha dor.

Toco a campainha e meu tio Ramon atende. Ele mora numa cobertura duplex no Leblon, em um ótimo edifício de frente para o mar. Ele sorri e assobia para Luna. Parece que ele faz só para me irritar. Chamando a atenção para a beleza dela. Mas por que isso me irrita?

– Uau! Você está magnífica querida. – diz puxando-a para um abraço.

– Muito obrigada. Pelo menos alguém reparou que me esforcei em parecer melhor – ela me olha atrevida.

– Ricco Calazans! Você não elogiou essa deusa ao seu lado? Até lembrou-me "Iracema - A Virgem dos lábios de mel" de José de Alencar um escritor brasileiro querido. Com esses cabelos negros e pele avermelhada como um jambo. Recordo-me de um trecho. "Além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como o seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu."

Ele Vai Ser MeuWhere stories live. Discover now