Capítulo 32

3.8K 199 144
                                    

Petr seguia Dominik um pouco atrás, mas ainda bem próximo. Ele podia muito ter apenas se despedido e retornado a seus aposentos, mas optou por acompanhá-la até o laboratório, mesmo com ela deixando claro que aquilo não era necessário. Eles haviam acabado de voltar do que deveria ter sido quase uma semana fora, emendando uma missão na outra, e, por mais que negasse, o homem estava exausto. Ter a irmã como apoio facilitava as coisas exatamente como ele imaginava, mas tinha um lado cansativo já que precisava prestar atenção em seus menores movimentos, buscando indícios de que ela poderia sair de controle. A máscara de Dominik, característica tanto do Invernal como dos Corvinais, tinha uma utilidade extra exatamente para isso: liberar um pouco da toxina do soro que a deixava inconsciente caso o líder da missão sentisse que estavam perdendo-a. Para a sua felicidade, já fazia quase um mês que saia em missões com a irmã e não sentira a menor necessidade de usar o dispositivo. Embora não parecesse estar ainda em seu melhor condicionamento físico – os arquivos em vídeo de seus treinamentos na S.H.I.E.L.D. estavam ali para provar isso –, Dominik estava se saindo excepcionalmente bem. Porém HYDRA sempre esperava o melhor, por isso mais uma vez ela seguia para o laboratório de Ivan.

No recinto, apenas o cientista e um de seus auxiliares – Leona, se ele não estava enganado – estavam presentes, andando de um lado para o outro enquanto preparavam o material que usaria pelas próximas horas. O corpo de Petr estremeceu minimamente ao notar o líquido azul elétrico dentro de pequenas bolsas de soro. A última vez que passara por aquele processo fora semanas antes de ser enviado para os Estados Unidos para vigiar sua irmã, e algo lhe dizia que não conseguiria fugir daqui por muito mais tempo. Não que não gostasse do resultado final – depois de alguns dias, era a melhor sensação do mundo –, mas no começo era insuportável: enquanto Dominik rapidamente adormecia quando o processo começava, ele normalmente continuava acordado, desmaiando apenas quando o incômodo do soro queimando em suas veias ultrapassava seus limites. Petr sabia que já tinha passado da hora de passar por aquilo novamente, e teve sua confirmação no sorriso maldoso de Leona.

- Você não tinha que estar reportando a missão para seus superiores, soldado? – debochou a mulher, misturando um pouco dos sons do russo à sua fala, algo que sempre o fazia rir. A mulher era nova na equipe, deveria ser ainda alguns anos mais nova do que sua irmã, e de alturas bem próximas. Seus cabelos eram excessivamente claros, quase sendo impossível de distinguir o que era a raiz dos fios e sua pele. Sua aparência amigável não condizia com seu temperamento complicado, e ele aprendera da pior maneira que era melhor manter certa distância da mulher.

- Bom você ter passado aqui primeiro, Pete – disse Ivan, fazendo algumas anotações rápidas no que ele acreditava ser o histórico médico de Dominik, sem olhar em sua direção – Vá reportar a missão e volta imediatamente para seu quarto. Leona estará esperando-o para iniciar o processo.

- E Dominik? – perguntou ele, ganhando a atenção da irmã. Ela sabia muito bem o motivo de estar ali, não conseguia entender porque ele estava perguntando algo que já sabiam.

- Vamos fazer o procedimento aqui dessa vez, mein Schatz – contou o cientista, se direcionando a mais jovem Ivanov, que revirou os olhos pela forma de tratamento carinhosa – Não é o local mais confortável para você, mas é mais seguro que seu quarto.

- Já disse que não é problema nenhum – retrucou a morena, já se adiantando para a poltrona no canto da sala mesmo sem receber instruções. Petr acenou desconfortável para ela antes de deixar a sala, com Leona em seu encalço. A verdade era que Dominik não entendia o motivo de seu irmão sempre estremecer quando alguém fala do procedimento. Para ela, era algo quase bom. Quase porque até agora Ivan não tinha conseguido estabilizar uma fórmula que não lhe fizesse mal, diminuindo suas habilidades ao invés de ampliá-las. Mas em contrapartida, era um dos raros momentos em que ela tinha permissão para entrar na inconsciência, e realmente descansar. Nem quando era alimentada aquele privilégio lhe era concedido. Dominik já tinha compreendido que seu corpo apenas cedia quando forçado ao cansaço extremo, e o estresse de seu organismo se adaptando ao soro sempre funcionava.

The Real SideOnde as histórias ganham vida. Descobre agora