Capítulo 21

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Uma das sensações mais estranhas que uma pessoa pode ter, é a de acordar depois de um longo período de sono sem sonhos, sem saber ao certo onde se encontra e sem se lembrar dos últimos momentos antes de adormecer. É um sentimento confuso, agonizante, que parece ainda pior quando toda parte de seu corpo está anestesiada, como se tivesse sentido dor por tanto tempo que chegara ao ponto de não sentir mais nada.

Foi algo parecido que Avril experimentou, apenas somado ao medo ao se ver em um lugar estranho, embora no fundo lhe fosse um pouco familiar: em algum momento de sua vida ela vira paredes de vidro como aquelas.

A prisão do Hulk.

A garota tentou se levantar em um pulo, apenas para descobrir que todas as articulações de seu corpo latejavam, terminando com o rosto no chão, buscando com os olhos e certo desespero alguma figura conhecida para lhe explicar o que estava acontecendo.

– Eu não tentaria me levantar se fosse você – disse uma voz às suas costas, e com certo sacrifício ela se virou em direção da voz, encontrando um Fury mais sério do que o era de costume.

– Onde... estou? – Avril teve dificuldades para usar sua voz, estranhando o som fraco e grave que produziu. Sua garganta estava seca e dolorida, como se tivesse passado horas gritando sem descanso, mas essa imagem não lhe despertava memória nenhuma.

– Ainda está na Torre dos Vingadores – contou o homem, andando ao redor da pequena prisão – E isso aqui... Foi construído especialmente para você.

Com vários gemidos de protesto, Avril se colocou de pé, arrastando os pés sem pressa na direção do homem, parando apenas quando estava centímetros da parede. Enquanto tentava encontrar motivos para ter sido presa e ter uma cela especialmente para ela, aos poucos alguns flashes passavam por sua mente: ela entrando em um sono estranho, acordar com o aviso no ar de um ataque inesperado, alguém querendo roubar o cetro, e aquela estranha conexão com a arma.

Todas aquelas memórias só fizeram sentindo quando ela se lembrou de um Steve caído por ela o ter derrubado.

Steve.

Ela havia machucado Steve?

– Por que eu estou presa aqui? – perguntou a garota em um sussurro, implorando com os olhos para que o homem à sua frente mentisse, que dissesse algo que a fizesse se sentir melhor. Qualquer coisa menos a verdade.

– Porque você foi comprometida – disse ele apenas – Você atacou Os Vingadores.

– Eu ataquei o cetro! – rosnou a garota abruptamente, avançando contra o vidro que os separavam, o socando algumas vezes, mesmo sabendo que ele não cederia. Fury não demonstrou nenhuma reação, apenas continuou a fuzilá-la com os olhos, assistindo aos poucos sua agente quebrar – Você ligou aquela desgraça e aquilo não parava de confundir a minha mente...! Eu só queria que aquilo parasse! E-eu perdi a noção da realidade... Eu não sabia o que estava acontecendo...

Você se colocou nessa situação, Stark.

Avril abriu a boca para se defender, mas tudo que escapou por seus lábios foi um gemido sofrido. Não era apenas a dor física que a incomodava, mas talvez ter que admitir que aquela situação era toda culpa sua. Não era isso que Fury estava insinuando? Se ela tivesse logo no começo comunicado as alterações em suas habilidades, se tivesse informado os efeitos colaterais da interferência de Loki, aquilo talvez sequer tivesse se tornado um problema.

O problema foi ela tentar agir sozinha.

– E-eu... Eu estava com m... – não importava quanto ela tentasse, a confissão não saia. Avril estava presa, completamente vulnerável, exposta, porém a maldita palavra não saia. Era medo. Medo de algo que ela não conseguia e talvez não fosse ser um dia capaz de controlar. Admitir aquilo em voz alta era o mesmo de admitir derrota para algo que fazia parte dela. Por isso a garota apenas engoliu em seco, tentando se concentrar para que suas palavras saíssem o mais confiante possível, embora tivesse ciência de quão patética pareceria – Eu estou bem agora. É só esquecer que aquele cetro existe e nunca mais tentar usá-lo.

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