Sua voz é um sussurro.
— Não quero arranjar problema para você.
Fecho a porta do quarto com todo o cuidado para não fazer barulho.
— Minha situação está tranquila, não estou com a corda no pescoço. E você já foi expulsa, então, o que de tão ruim pode acontecer?
— Sei lá... — Laur está realmente preocupada. — Isso pode ir para o seu histórico e impedir a Dartmouth de aceitar você?
Sorrio.
— Meus pais já pagaram a primeira mensalidade.
Os joelhos dela tremem. E depois, o corpo todo. Eu a levo até a beirada da cama.
— Isso quer dizer que... você vai...?
— Eu vou para Dartmouth.
Lauren cobre o rosto com as mãos, ainda tremendo muito. Eu me sento ao lado dela e apoio a cabeça em seu ombro. Só porque agora posso fazer isso de novo. Ela ergue a cabeça. Seus lindos olhos verdes estão brilhando, cheios de lágrimas.
— Desculpa. É que... eu... eu fiquei muito surpresa.
— Eu também.
— Eu amo você. Sempre amei, Camz.
— Eu sei.
Seguro suas mãos congeladas e tento aquecê-las.
— Desculpa por não ter acreditado em você. Eu duvidei de mim, e isso me fez duvidar de você, mas o problema não era você. Você nunca foi o problema. Eu deveria ter confiado em você, mas não consegui porque não confiava em mim.
— Mas confia agora? Em você?
— Estou... quase lá. Estou começando a achar que talvez não haja problema em ser uma tela em branco. E que, talvez, tudo bem também se o futuro for desconhecido. E talvez — digo, com um sorriso enfático — não haja o menor problema em se inspirar em pessoas que sabem o que querem para o futuro.
— Sabe, isso é uma via de mão dupla.
— Como assim? — pergunto, entrelaçando meus dedos ao dela.
— As telas em branco também servem de inspiração para os artistas.
Sorrio de orelha a orelha.
— Uma tela em branco oferece possibilidades infinitas — acrescenta Lauren.
Fecho os olhos e beijo seus lábios.
— Obrigada.
Lauren começa a tremer ainda mais. Eu me levanto.
— Oh, mon petit chou — digo, e tiro o casaco dela, ensopado. — Não acredito que você ficou esperando lá fora esse tempo todo.
Ela está batendo os dentes.
— Eu... eu teria esperado a noite inteira.
Levo o casaco dela até o banheiro, o penduro e volto para ver como está a blusa.
— Essa também — digo, e eu mesma a tiro. Lauren está com a pele mais pálida, quase roxa, na verdade. — E os sapatos também.
Retiro os sapatos, mas a calça me dá o maior trabalho, porque está praticamente grudada nas pernas. Quando finalmente consigo soltá-la, caio de bunda no chão.
Lauren ri, batendo os queixos.
— Não foi bem... dessa forma... que imaginei você tirando a minha roupa — brinca ela.
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Kismet [concluída]
RomanceTímida e romântica, Camila tem uma queda pela introspectiva Lauren desde o primeiro ano na SOAP, uma escola americana em Paris. Mas sua timidez nunca permitiu que ela trocasse mais do que uma ou duas palavras com ela, quando muito. Depois de um enco...