XXXII - 1000 Hands

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Sua voz é um sussurro.

— Não quero arranjar problema para você.

Fecho a porta do quarto com todo o cuidado para não fazer barulho.

— Minha situação está tranquila, não estou com a corda no pescoço. E você já foi expulsa, então, o que de tão ruim pode acontecer?

— Sei lá... — Laur está realmente preocupada. — Isso pode ir para o seu histórico e impedir a Dartmouth de aceitar você?

Sorrio.

— Meus pais já pagaram a primeira mensalidade.

Os joelhos dela tremem. E depois, o corpo todo. Eu a levo até a beirada da cama.

— Isso quer dizer que... você vai...?

— Eu vou para Dartmouth.

Lauren cobre o rosto com as mãos, ainda tremendo muito. Eu me sento ao lado dela e apoio a cabeça em seu ombro. Só porque agora posso fazer isso de novo. Ela ergue a cabeça. Seus lindos olhos verdes estão brilhando, cheios de lágrimas.

— Desculpa. É que... eu... eu fiquei muito surpresa.

— Eu também.

— Eu amo você. Sempre amei, Camz.

— Eu sei.

Seguro suas mãos congeladas e tento aquecê-las.

— Desculpa por não ter acreditado em você. Eu duvidei de mim, e isso me fez duvidar de você, mas o problema não era você. Você nunca foi o problema. Eu deveria ter confiado em você, mas não consegui porque não confiava em mim.

— Mas confia agora? Em você?

— Estou... quase lá. Estou começando a achar que talvez não haja problema em ser uma tela em branco. E que, talvez, tudo bem também se o futuro for desconhecido. E talvez — digo, com um sorriso enfático — não haja o menor problema em se inspirar em pessoas que sabem o que querem para o futuro.

— Sabe, isso é uma via de mão dupla.

— Como assim? — pergunto, entrelaçando meus dedos ao dela.

— As telas em branco também servem de inspiração para os artistas.

Sorrio de orelha a orelha.

— Uma tela em branco oferece possibilidades infinitas — acrescenta Lauren.

Fecho os olhos e beijo seus lábios.

— Obrigada.

Lauren começa a tremer ainda mais. Eu me levanto.

Oh, mon petit choudigo, e tiro o casaco dela, ensopado. — Não acredito que você ficou esperando lá fora esse tempo todo.

Ela está batendo os dentes.

— Eu... eu teria esperado a noite inteira.

Levo o casaco dela até o banheiro, o penduro e volto para ver como está a blusa.

— Essa também — digo, e eu mesma a tiro. Lauren está com a pele mais pálida, quase roxa, na verdade. — E os sapatos também.

Retiro os sapatos, mas a calça me dá o maior trabalho, porque está praticamente grudada nas pernas. Quando finalmente consigo soltá-la, caio de bunda no chão.

Lauren ri, batendo os queixos.

— Não foi bem... dessa forma... que imaginei você tirando a minha roupa — brinca ela.

Kismet [concluída] Where stories live. Discover now