A diretora da escola está terminando seu habitual discurso de boas-vindas, que ocorre sempre no primeiro dia de aula, após o café da manhã. Shawn e eu estamos nos fundos do pátio, aninhados entre duas árvores enormes que, depois de podadas, ficaram parecendo dois pirulitos gigantes. No ar, há um cheiro sutil de metal. A escola se estende a nossa frente com todas as suas pedras cinzentas, trepadeiras nos muros e portas pesadas. Nossos colegas estão diante de nós.
Aqui na SOAP há vinte e cinco alunos por série - cem, no total -, e é bem difícil ser aceito. É preciso tirar notas excelentes, conseguir uma pontuação alta no processo de seleção e apresentar inúmeras cartas de recomendação. Ter contatos importantes sempre ajuda. Sam entrou porque mamãe conhece alguém da administração; eu entrei por causa de Sam, e Sofia entrou por minha causa. É um círculo bem fechado.
E a mensalidade também é cara. É preciso ter dinheiro para estudar aqui.
Com apenas dezenove anos, meu pai criou um pedal overdrive para guitarristas chamado Cherry Bomb. O acessório vermelho revolucionou o mundo da música e transformou o filho de um fazendeiro de Nebraska em um homem muito rico. O pedal que ele desenvolveu é um dos mais copiados de todos os tempos, mas os músicos ainda pagam uma nota alta para adquirir o original. A empresa de meu pai se chama Martintone, e, embora ainda mexa com pedais, agora ele trabalha como engenheiro de áudio.
- Tenho um último comunicado a fazer.
A voz da diretora é tão empolada quanto seu coque de cabelo, branco como a neve. Ela é americana, mas poderia facilmente se passar por francesa.
Shawn analisa um mapa no celular.
- Encontrei um caminho melhor para a Casa da Árvore.
- Ah, é? Depois desse tempo todo?
Corro os olhos pelo pátio à procura de Lauren. Ou ela foi dormir ou deu um jeito de pular fora.
Escolhi o que vestir com todo o cuidado, porque é a primeira vez em meses que sei que vou vê-la. Meu estilo é bem feminino, e hoje estou usando um vestido de algodão leve com decote canoa e acima do joelho, para não ficar com um visual sem graça ou parecer santinha demais. Não consigo imaginar Lauren a fim de uma santinha.
Não que ela vá ficar a fim de mim. Mas não quero estragar nenhuma chance. Mesmo sem ter chance nenhuma. Mas vai que eu tenho... Mas não, não tenho.
- Vou deixar que ele mesmo fale - anuncia a diretora, continuando uma frase cujo começo não escutei.
Ela dá um passo para o lado, e uma figura baixa e careca se aproxima do microfone. É Joseph, nosso diretor de unidade. É o terceiro ano dele aqui. Joseph é americano e, apesar de ser bem jovem, já está fazendo doutorado. Ele é conhecido por ser maleável em relação às regras da escola, sem, no entanto, deixar de ser firme o suficiente para nos manter sob controle. É o tipo de pessoa de quem todos gostam.
- Oi, pessoal.
Os movimentos de Joseph são sempre tão desajeitados que parece que ele não se sente confortável na própria pele.
- Chegou ao conhecimento do corpo docente... - Ele olha de relance para a diretora e se corrige: - Chegou ao meu conhecimento que no ano passado a situação saiu um pouco do controle. Estou me referindo, é claro, ao fato de os alunos frequentarem o quarto de colegas. Como vocês bem sabem, temos uma política rigorosa aqui na SOAP...
Os alunos tentam conter os risos.
- Temos uma política rigorosa na qual meninas e meninos só têm permissão para frequentar o quarto um do outro se a porta for mantida aberta.
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Kismet [concluída]
RomanceTímida e romântica, Camila tem uma queda pela introspectiva Lauren desde o primeiro ano na SOAP, uma escola americana em Paris. Mas sua timidez nunca permitiu que ela trocasse mais do que uma ou duas palavras com ela, quando muito. Depois de um enco...