Na escada rolante, ainda estamos com as bocas grudadas uma na outra quando uma sucessão de coisas acontece: o queixo dela bate no meu nariz à medida que ela pisa no chão e volta a ficar mais alta do que eu; perco o equilíbrio, meu corpo pende para a frente, e, com isso, nos estatelamos no chão do museu.
- Merda! - Lauren olha para mim com os olhos arregalados. - Merda!
Meu nariz está sangrando.
- Quebrou? Eu quebrei seu nariz?
Toco o nariz e faço uma careta de dor, mas balanço a cabeça e digo que não foi nada.
Desço a barra do meu vestido para cobrir minhas coxas, que estão completamente expostas.
- Estou bem - digo, sem conseguir pronunciar os sons nasais. Esfou fem.
Lauren me ajuda a levantar. Ela tateia a jaqueta, procurando desesperadamente por alguma coisa que possa parar o sangramento, mas não encontra nada. Um senhor que estava perto do balcão de informações e viu tudo retira da lapela um lencinho florido muito bonito e me entrega.
- Merci - digo ao homem.
Meu anjo da guarda. Mantenho o lenço pressionado contra o nariz por alguns segundos, e quando o retiro, parece que foi encontrado na cena de um crime.
- Não acredito, não acredito. - Lauren não para de repetir isso para si mesma. - Desculpa. Desculpa mesmo, mesmo.
- Está tudo bem! - digo, torcendo para ela compreender minha voz. - É só um nariz sangrando.
Estico o lenço na direção do homem, sem saber ao certo se ele vai querê-lo de volta ou não, e ele agita a mão no ar intensamente. Tudobempodeficarcomele. Agradeço novamente, e Lauren me conduz até o banheiro mais próximo.
- É sério, estou bem - insisto.
Mas ela põe a mão na testa, aterrorizada, enquanto entro no banheiro e desapareço.
Hora de verificar o tamanho do estrago. Meu nariz continua sangrando, meu queixo está parecendo um tomate de tão vermelho e amanhã vou estar com um hematoma horrível. Será que pelo menos meu vestido continua limpo? Uma mulher linda com pele cor de ébano e bochechas bem-desenhadas sai de um dos banheiros e, com um suspiro assustado, pergunta em francês:
- O que aconteceu?
Imediatamente ela começa a retirar um saquinho de lenços da bolsa e o coloca em minhas mãos.
- Sempre ando com um pacotinho na bolsa, mas hoje... - retruco. - Que vergonha.
Só a primeira metade é mentira.
Pego um lenço do pacotinho e o pressiono cuidadosamente contra a ponta do meu nariz, esperando o sangramento cessar. E espero. Espero. Digo à mulher que ela pode ir, que está tudo bem, porque é estranho ficar com uma desconhecida, ainda que bem-intencionada, olhando para mim por tanto tempo. Por fim, ela vai embora. No mesmo instante, escuto Lauren perguntando a ela em francês e em tom de desespero - mas com uma pronúncia perfeita - se estou bem.
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Kismet [concluída]
RomanceTímida e romântica, Camila tem uma queda pela introspectiva Lauren desde o primeiro ano na SOAP, uma escola americana em Paris. Mas sua timidez nunca permitiu que ela trocasse mais do que uma ou duas palavras com ela, quando muito. Depois de um enco...