XIII - Write on Me

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Meu coração se despedaça, caquinhos de um cristal frágil espalhados pelo chão. É assim que reajo à notícia que ela me dá.

- Você vai voltar para casa? Por que não me disse que isso poderia acontecer?

Faz exatamente uma semana que Lauren transformou a Casa da Árvore em uma verdadeira casa na árvore. Mas hoje está muito frio para ficarmos lá no terraço, então ficamos por aqui mesmo, aninhadas na minha cama. Pelo menos ela também parece estar bem triste com a notícia.

- Sei lá - desabafa, jogando o celular de lado. - Eu tinha esperanças de que talvez, de alguma forma, eles... me esquecessem.

- Seus pais nunca esqueceriam você.

- Você não vai acreditar em quantas vezes conversei com eles desde que as aulas começaram. Vinte, talvez? E a maior parte delas... agora?

Suspiro.

- Feliz Aniversário, Lauren.

Os pais dela escolheram hoje - justo hoje - para avisar que ela vai ter que voltar para casa e passar a semana inteira das eleições por lá. Lauren vai ser uma isca perfeita para a imprensa: a garota de dezoito anos que vai votar no pai pela primeira vez. Os pais dela querem alavancar as pesquisas de voto, promover uma entrevista impactante depois; enfim, a farsa completa.

- É tão sórdido... Estão me arrastando para o mundo sujo deles, e querem que eu banque a filhinha perfeita.

- Votar no seu pai não é sujo.

- Mas todo o resto é.

- É verdade.

A pior parte de tudo isso é o pouco tempo que nos resta. Ela vai embora exatamente quando o período de detenção termina, bem no momento em que teríamos todo o tempo do mundo para ficarmos juntas.

- Bom... pelo menos temos bolo - acrescento.

Ela ergue uma sobrancelha, surpresa.

- Bolo?

Sorrio e pulo da cama.

- Você já fez muito - resmunga Lauren, muito embora seja óbvio que ela gostou da ideia. - O crème brûlée. Os presentes...

- Só um daqueles presentes conta - comento.

- Mas eu gostei de todos.

Depois do almoço, dei a ela um presente bem simples, que eu mesma fiz: uma raposa de papel machê com vários lápis de cera roxos enfiados na bunda. Em seguida, dei um presente de verdade, uma obra de arte original de um dos cartunistas favoritos dela. É importado, comprei na semana em que começamos a namorar, logo depois que Lauren mencionou que o aniversário dela era dia vinte e sete de outubro. Fiquei preocupada, achando que talvez fosse cedo demais para dar um presente desses, mas ela me pareceu verdadeiramente feliz.

Meu aniversário é no final de junho. Não poderei votar nas próximas eleições.

Eu me levanto para pegar o bolo no frigobar quando... algo me interrompe. Silêncio.

Espio o corredor. Pela primeira vez, está vazio. A porta de Joseph está fechada. À primeira vista, não há uma alma viva sequer. De repente, sou tomada por uma vontade que não consigo conter. Ou talvez seja desespero, a separação iminente que lancina e percorre meu corpo. Minha mão paira sobre a maçaneta da porta. Então, me decido.

Fecho a porta.

Lauren engole em seco. Temos tomado todo o cuidado para cumprir as regras...

- Tem certeza? - pergunta ela.

Kismet [concluída] Where stories live. Discover now