Capítulo 18

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***Emily***

  Arremesso o pequeno urso o mais longe que consigo, mas ele rebate contra a parede e volta para os meus pés. Não podia senti-lo através dos sapatos, mas ainda conseguia ver seu pelo subindo e descendo como se estivesse realmente respirando, o que era bizarro e assustador. 

 - Não sabia que você gostava de chutar seus amigos, por isso que Angel nunca me pareceu gostar muito de v... - Não deixo ele terminar de falar, dou-lhe a melhor bicuda que eu já havia dado na vida. Não haviam muitas que pudessem servir de comparação, mas ainda era uma boa bicuda. A pequena criatura voa a alguns poucos centímetros do chão e vai deslizando até o fundo da cama. 

 Péssima ideia! Deveria ter jogado ele pela janela.

 Segue-se alguns segundos de silêncio enquanto eu encarro a cama. A adrenalina percorria as minhas veias e o medo fazia meu coração bater alto como um tambor, mas eu permaneci imóvel, esperando pelo pior. A noite logo se tornou morna e agoniante, minhas mãos suavam e minha garganta se tornava seca como um deserto. Sentia uma fina gota de suor percorrer as minhas costas enquanto eu tentava não piscar.

 - Não vai conseguir se livrar de mim assim tão fácil. - a voz vinha da varanda. Viro-me lentamente, até conseguir ver o urso dourado sentando no balaústre. O vento batia forte, mas ele nem ao menos se mexia. A luz da lua sua aparecia antes inanimada tornou-se mais vivida e cômica.

 -  Quem é você? Cadê a Angel? - Era estranho estar conversando com um ursinho de pelúcia, talvez ele fosse apenas fruto da minha imaginação, não seria estranho se eu realmente tivesse enlouquecido. Mas depois do que aconteceu nos últimos dias, a ideia de conversar com um ursinho tosco era razoavelmente normal.

 - Não se preocupe, eles têm planos pra você também. Logo você vai se juntar a ela, mas não agora - o urso pula para o chão da pequena varanda e caminha na minha direção - E a proposito, meu nome é Golden. Vamos passar lindos momentos juntos de agora em diante.

 - Golden? Que criativo! Eu não perguntei seu nome, eu perguntei quem é você - o ursinho parou de andar e me encarou com uma expressão confusa. A ideia de ter conseguido intimidá-lo me deu mais confiança para continuar falando - Já estou cansada desses joguinhos, eu não ligo pro seus planos doentios, eu não estou afim de fazer parte das suas brincadeiras. Agora me leve até ela ou eu vou arrancar essa sua cabeça ridícula do resto do seu corpo! Eu estou doida para descobrir o que tem dentro dela que faz de você essa criaturinha tão irritante.

 Dou mais alguns passos para frente, mas o pequeno ursinho dourado permanece parado. Sua expressão endurece e ele fica em silêncio. Talvez eu tivesse exagerado um pouco, o fato dele não ser um animatronic de ferro de dois metros de altura me fez presumir que ele não fosse igualmente perigoso. Engulo em seco quando ele finalmente volta a andar.

 - Como quiser garota boba, eu vou te levar para junto da sua amiguinha. Nunca vi ninguém com tanta pressa pra morrer. Isso que dá passar tanto tempo com a Angel, aquela garota tinha um espirito suicida muito parecido com o do seu irmão idiota - uma risada aguda e irritante sai do pequeno monstrinho - Terá sorte se só decidirem te matar. Você pode até ser útil para os meus planos. - o urso para de falar por alguns segundos enquanto encarava o céu noturno pensativo. Suas mãos de pelúcia brincavam com os pequenos botões na sua barriga em um movimento frenético. Ele para subitamente e volta a sua postura inicial, me olhando com seus pequenos olhos negros que refletiam a luz da lua com um brilho estranho - Vou te levar até ela, mas com uma única condição, só preciso que me faça um pequeno favor...

 Um arrepio percorre a minha espinha. Já sabia que nada de bom poderia vir daquilo, mas se fosse para tirar Angel das garras daqueles animatronics nojentos eu estaria disposta a tudo. 

 - Eu também tenho as minhas condições - as chances dele aceitá-las eram pequenas, mas ainda tinha que tentar - Ela está na pizzaria não é? Você vai me ajudar a achá-la e tirar ela de lá. Caso contrário, não tem acordo.

 Golden passa um tempo em silêncio, como se estivesse realmente considerando o meu pedido. 

 - Que seja! Vocês podem ser mais uteis vivas do que mortas. Desde que você siga corretamente as minhas instruções, ainda existe uma chance de vocês saírem de lá vivas. A questão é, você topa ou não? - um sorriso travesso atravessa o seu rosto. Já sabia que a chance dele estar mentindo era grande, mas eu não tinha muita escolha nessa situação.

 - ...Eu topo. O que você quer que eu faça? - meu coração volta a acelerar e o medo se torna transparente no meu rosto.

 - Há muita coisa que preciso que você faça. Mas, basicamente, quero que você coloque fogo na "Freddy Fazber Pizzaria".

 ***Golden***

 - O que? -  a garota estúpida pergunta, ela me irritava mais do que a Angel.

 A desconfiança no seu olhar era visível. Eu não a culpava, eu mesmo não confiaria se estivesse no lugar dela. Mas agora era necessário convencê-la a ver que podíamos jogar do mesmo lado. Há muito tempo que tivera aquela ideia, se livrar da pizzaria era o único modo de se livrar da maldição. Sem pizzaria nenhuma criança seria aprisionada lá novamente, e ele poderia finalmente descansar em paz.

Depois do que fizeram com as últimas crianças eu pude perceber que Puppet não pretendia parar. Enquanto a pizzaria estivesse de pé mais crianças iriam continuar desparecendo. As pessoas se esqueciam, a história se repetia. Se esperasse mais, outras famílias seriam destruídas e mais crianças teriam sua inocência roubada. Infelizmente, não havia nada que pudesse fazer naquela forma, e na pizzaria a sua versão mais útil tinha as mãos atadas pelas cordas da marionete. Aquela garota irritante era a peça que faltava no quebra-cabeça do seu plano, um sacrifício. Estava claro que se ela voltasse lá nunca mais sairia, mas era necessário, seria um último sacrifício para o bem maior.

 Por um instante viu-se triste com a ideia de ver as duas pirralhas morrerem. Por anos perseguira crianças que se aventuravam na pizzaria, nunca teve piedade. O ódio ainda fresco alimentava o seu lado animal e o fazia fazer coisas das quais não se orgulhava. Houve uma época em que era divertido, mas logo minha humanidade foi sumindo e eu me transformei em um monstro de verdade.

 Depois que fui designado a assombrar a pequena irmã do garoto escolhido, algo em mim renasceu. Talvez tenha sido a sua pureza que tocou o meu coração e fez minha humanidade se reconstruir aos poucos. Por anos pensei em como poderia por um fim a maldição, e agora estava na minha frente uma oportunidade única. Teria de ser cuidadoso com o que falava, não poderia deixa-la escapar por entre os meus dedos agora.

 - Tenho que desenhar pra você entender garota boba? - embora estivesse tentando ser cauteloso, era difícil não perder a paciência com aquela garota.

- Eu não sou idiota - ela diz me deixando ainda mais irritado, era óbvio que ela era idiota, e muito - Isso me cheira a armadilha, pra que você ia querer que eu queimasse a sua tão querida pizzaria com seus amigos lá dentro? - meus amigos? Agora ela estava passando dos limites.

 - Não existem amigos dentro daquela pizzaria, apenas assassinos de sangue frio tão idiotas quanto você - inspiro profundamente tentando relaxar. Eu não tinha pulmões, mas fazer aquilo me deixava estranhamente calmo - Pense bem garota idiota, eu sou a única chance que você tem, sou seu único aliado.

- Meu aliado? - o tom de escárnio na sua voz me deixou tão irritado que eu poderia joga-la pela janela. Ao invés disso inspiro profundamente uma segunda vez e falo pacientemente:

- Já ouviu aquele ditado: o inimigo do meu inimigo é meu amigo. É como eu disse, agora seremos amigos, e vamos passar lindos momentos juntos. - falo dando o meu melhor sorriso.

Five Nights At Freddy's 2 : A Última Sobrevivente Where stories live. Discover now