Capítulo 7

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*** Emily ***

Empurro a porta com toda força que tenho, ela não tinha fechadura então alguém deveria estar do outro lado segurando para que eu não pudesse abrir. Se eu ao menos conseguisse ser mais forte...

- Fim de jogo! - a voz ecoa pelo porão junto com uma lembrança terrível de dias sombrios. A luz se apaga fazendo um arrepio correr pela minha espinha.

O grito de Angel ecoa pelo local enviando-me um novo calafrio. Procuro sua silhueta pela escuridão, mas meus olhos demoram a se habituar. Ouço passos rápidos pela escada me fazendo ficar desesperada e estática. Nunca fui fui boa em pensar rápido, ainda mais em situações como esta.

O baque foi inevitável, sinto uma dor insuportável na parte esquerda da minha cabeça e caio escada a baixo.

***

A primeira coisa que sinto é dor. Meu corpo inteiro clama por atenção me fazendo arquejar. Abro os olhos, mas eles voltam a se fechar novamente, feridos por um clarão branco. Semicerro-os e vejo o clarão branco tomar forma e cor. Apesar de só estar vendo a parede, sabia que não estava mais no porão.

Minhas mãos estavam fortemente amarradas nas minhas costas, senti meus dedos frios e formigantes pela falta de circulação. Eu estava sentada em um chão imundo de poeira, gordura e mais algumas coisas nojentas. Senti algo se movimentar em minhas costas e percebi que estava encostada em algo vivo.

- Angel? É você? - sussurro baixinho com medo de que não estivéssemos sozinhas.

- Até que fim resolveu acordar! Depois que caiu daquele jeito da escada tive medo de que você... nunca mais... - Angel não termina a frase, mas sua voz estava cheia de medo, o que me deixou estranhamente feliz por ter sua preocupação.

- Relaxa, eu estou bem. Toda dolorida? Sim, mas estou viva... por enquanto - dou uma gargalhada nervosa enquanto tento aliviar a situação, mas Angel se mantem em silêncio.

Viro o rosto o máximo que consigo até sentir uma pontada, e meu pescoço, que até agora perecia ter saído incólume da minha última travessura, resolveu aparecer.

Ótimo, mais um pra lista de "Ferimentos de Guerra da Emily".

Minha visão se restringia a uma parede que deveria ser branca originalmente, mas agora estava encardida e a tinta estava se descascando.

- Minha visão está um tanto limitada aqui, onde estamos?

- Não faço ideia, essa parte da pizzaria não estava nas filmagens do Alexandre. Deve ser um segundo cômodo acoplado ao porão - Angel fala pensativa. Ela estava falando de um jeito estranho, não parecia a Angel alegre e otimista que eu conhecia.

- Está tudo bem? Você perece... cansada - Pergunto verdadeiramente preocupada. Angel nunca estava desanimada, mesmo nas situações mais difíceis.

- Não, não, eu estou ótima! Nunca estive em situação melhor - Ela fala suspirando irritada. Não podia vê-la agora, mas sabia que ela estava revirando os olhos - Desculpe por ter te metido nessa, não queria mais machucar ninguém...

- Há não! Não me venha com essa agora. Você sabe muito bem que eu vim por livre e espontânea vontade. Vamos mudar de assunto que eu não estou com paciência pra discutir isso agora. O que mais tem aí? Eu só vejo uma parede suja de onde estou.

- Não tem nada de interessante por aqui também. A não ser por um... - Angel não termina a frase. Passos ecoam do cômodo ao lado. Os sons me eram familiares, alguém devia estar descendo pelas mesmas escadas as quais meu corpo teve a desventura de conhecer. As suspeitas de Angel foram confirmadas, estávamos presas em algum quartinho junto ao porão.

Os barulhos indicavam que haviam mais de um. Suas vozes estavam abafadas, mas o silêncio continuo atenuou minhas habilidades auditivas. Segurei o fôlego para que até o som da minha respiração cessasse.

- ... claro que não vamos contar pra ele, aposto que nem se importa - apesar dos sons estarem extremamente baixos, eu tinha certeza que essa era a voz mais esganiçada que eu já havia ouvido. Parecia a de um menininho que acabou de entrar na puberdade.

- Ele esta ocupado agora com essa reinauguração, mas acha que ele não vai notar quando a poeira abaixar? Ainda mais sendo elas quem são? - Essa voz era bem mais grave, até demais, era quase familiar - E se um daqueles maricas vê-las? Pior, se as reconhecerem?

- O que temos a perder? Por acaso esse tempo na escuridão o amoleceu? - Apesar de esganiçada, sua voz era cheia de malícia e provocação.

- O que quer com elas? Não nos serve de nada - Ele parecia realmente ofendido, mas não respondeu o desafio.

- Ora, você está pensando muito pequeno meu caro amigo parrudo. Por que manteríamos elas vivas se fossem inúteis?

- O que podemos conseguir com elas? Novos animatronics pra o Puppet nos esquecer de vez? - Golden parece irritado, mas Puppet não responde, apenas dá uma risada esganiçada.

Ouço uma porta se abrir com um rangido metalico que me dá calafrios. Não podia vê-los, mas sentia seus olhares em minha pele me dando uma sensação estranha de perigo eminente.

- Ora vejam só! As madames dormiram bem? - A voz estava ainda mais aguda agora que não havia uma parede abafando o som.

- O que vocês querem? - Angel fala curta e grossa. Quando queria, ela sabia como dar medo. Aposto que até mesmo os animatronics exitaram diante do tom dela.

- É bom te ver também Angel - o outro fala com um sacarsmo amargo - Lembra de mim? Éramos melhores amigos... - sua voz estava cheia de malícia e podia sentir seus olhos me atravessando. Algo no seu tom de voz me deixou assustada, como assim melhores amigos.

Angel solta um grunido irritada, mas não faz nada me deixando ainda mais confusa. Ouço passos na minha direção e me travo, ereta, preparada para o que quer que ele fosse fazer.

Algo parecido com um coelho esverdeado e encardido se agacha na minha ao meu lado. Encaro ele tentando não demonstrar medo, e ele devolvia o olhar de modo ameaçador.

- E você? Vem muito por aqui? - Ele pergunta dando uma gargalhada escandalosa que ressoa pelo pequeno quarto. Permaneço quieta observando-o com um olhar frio - O que foi gracinha? O gato comeu sua língua?

Dessa vez ele não ri e eu contínuo calada, lancando-lhe meu olhar mais mortal. Não sabia onde havia me metido, só sabia que teria de ser forte.

- Deixe ela em paz seu projeto de coelho mutante! - Ele lança um último olhar para mim e se volta para a Angel. Eu o acompanho com o olhar, ignorando as reclamações do meu pescoço.

- Ou o quê? Vai botar fogo em mim?

Vejo sua mão subir rapidamente ao pescoço de Angel. O aperto dele parecia forte e o rosto dela começou a ficar avermelhado, depois roxo, mas ainda assim ela manteve o rosto frio como gelo.

- Para com isso! - grito apavorada, tento me livrar das amarras nos meus pulsos, mas é inútil.

- Já chega Spring! Você não disse que íamos precisar delas? - A voz grave do urso preenche o local de modo autoritário.

O Spring libera o aperto na garganta de Angel, mas mantém a mão na garganta dela enquanto ela seu rosto voltava a ficar corado. Ela respira lentamente, como se o aperto não tivesse tirado todo o seu fôlego a alguns instantes.

- Considere-se com sorte Angel, eu vou deixa-la viva hoje. Mas vamos ver até quando sua sorte vai durar.

Five Nights At Freddy's 2 : A Última Sobrevivente Where stories live. Discover now