Capítulo 16

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***Emily***

 - Como assim ela não está? 

 Roberta estava parada em frente a sua casa, quase tão perdida como eu. Ela olhava furiosa para mim, como se tivesse sido eu que sequestrara sua "filha". Ela não estava tão errada assim, afinal fui eu que sequestrei ela primeiro.

 - Já havia percebido que ela não estava no quarto - Ela disse mais calma, mas ainda irritada. Nunca havia visto ela assim, ela sempre fora gentil e amável, mesmo agora, seu pijama de unicórnios lhe tirava o crédito - Não seria a primeira vez que ela foge durante a noite para ir escondido para a sua casa, eu sempre deixei e fingi não reparar, mas depois do que aconteceu seria melhor para as duas passar um tempo separadas - ouvir aquilo pela segunda vez em menos de uma hora me deixou irritada. Não importava o que estivesse acontecendo, não permitiria que a deixassem longe de Angel.

 - Sabe que isso nunca vai acontecer - deixo escapar, enquanto olhava para o chão tentando manter a minha voz calma e controlada - Além do mais, Angel não concordaria, ela jama...

 - Não preciso de autorização - ela me interrompe bruscamente - Eu sou a tia dela, sei o que é melhor para a sua vida. Vai levar um tempo, mas logo ela vai entender que eu só fiz isso para o seu bem.

 - "Isso" o que? - pergunto temendo a sua resposta. Esse tipo de atitude da minha mãe já era esperada, mas de Roberta... O que será que minha mãe havia dito para ela naquele dia? - Você sabe onde Angel está, não é? Me diga? - Meu coração se apertava dentro de mim e a minha vontade era de chorar e sair correndo dali, mas agora Angel estava precisando de mim, não desistiria dela tão fácil.

 - Basta! - dessa vez parecia que era ela que estava a ponto de chorar - Onde a Angel está não é mais da sua conta. Não permitirei que aconteça a ela o mesmo que aconteceu a Ester.

 Fazia muito tempo que não ouvia o nome da mãe da Angel. Ela costumava ser muito vaga quanto ao passado da sua família, acabei resolvendo não perguntar mais nada quando percebi o seu desconforto ao tocar no assunto.

 - Lembro bem, foi a mesma coisa com a Ester - seus olhos estavam cheios de água, mas nenhuma lágrima caia, era como se não pudessem sair dali sem permissão. Agora já sabia de quem Angel havia herdado sua resiliência - Eu sempre soube que aquele homem não era bom pra ela, mas deixei que ela fosse embora com ele. Não consegui cuidar dela, mas não vou cometer os mesmos erros com ela.

 - Desde quando eu sou má influência para a ela? - aquela conversa já estava me deixando cansada, tudo aquilo tinha o dedo da minha mãe no meio, eu tinha certeza.

 - Deixei que você ficasse perto da minha sobrinha por que pensei que você fosse diferente da sua mãe - aquilo me pega de surpresa. Como assim diferente da minha mãe? Pensei que elas fossem amigas? - Eu conheço muito bem a sua mãe, e pensei que te conhecesse também, mas depois do que ela me contou sobre o que você fez... - Sua voz soava tão decepcionada que quase me senti culpada.

 - O que quer que minha mãe tenha falado pra você sobre mim, é tudo mentira - falo sem muita confiança. As mentiras da sua mãe costumavam ser tão boas quanto as suas verdades, tinha medo que ela não acreditasse em mim como todos faziam - Se a conhece tão bem como diz deveria saber disso - falo depois de juntar o pouco de coragem que me restava.

 Roberta hesita por alguns segundos, mas logo vira as costas e fecha porta na minha cara. Suspiro irritada, não era a primeira vez que a minha mãe arranjava um jeito de virar as pessoas contra sua própria filha. Onde Angel poderia estar? Pensando que nos duas fomos sequestradas por Dave ela só podia estar em dois lugares: em casa ou na pizzaria. Aparentemente ela não estava em casa, a menos que Roberta estivesse mentindo, mas achava aquilo pouco provável. Talvez ela tivesse sido levada para a pizzaria, mas se Roberta soubesse mesmo onde Angel estava... ela seria a última pessoa a permitir que Angel entrasse naquele lugar.

 Dou a volta na casa até varanda onde ficava o quarto dela. Sem mais ideias, decido subir até lá para conferir se Angel não estava sendo mantida presa pela tia. Só imaginar aquilo era estranho, Roberta não faria uma coisa dessas, mas depois de tudo o que aconteceu nos últimos dias eu resolvi não desconsiderar a possibilidade. Subo rapidamente até a varanda graças a flexibilidade que havia adquirido por dançar balé na escola. De início, só fazia porque minha mãe me obrigava, mas depois tornou-se o meu hobbie favorito.

 Adentro o quarto um pouco receosa . As portas de vidro estavam abertas deixando o vento noturno entrar livremente, fazendo com que as cortinas enegrecidas pela noite dançassem com a brisa. 

Já havia feito aquilo tantas vezes, mas dessa vez sentia um medo quase que irracional. Algo estava diferente, mas não sabia dizer o que era. Talvez fosse o silencio sinistro do quarto ou as sombras que a luz da lua cheia faziam ao penetrar cômodo.

 Vou mais ao fundo no quarto, nas partes em que a luz da lua não chegava e a noite dominava. Tateio a cama em busca do corpo adormecido de Angel, mas não o encontro. Subo na cama enquanto passo a mão pelo lençol macio já sem esperanças de encontrá-la, até que minha mão passa sob algo estranhamente áspero. Encolho o meu braço rapidamente e recuo de joelhos na cama, o que me faz perder o equilíbrio e cair no chão com as pernas para o alto. O tapete afofa a queda, mas minhas costas não saem totalmente ilesas.

 Levanto-me em um sobressalto sentindo uma pontada ao deixar a coluna ereta. Uma brisa mais forte balança as cortinas para o alto permitindo que a luz pálida da lua entrasse no fundo do quarto e, por alguns instantes, pude ver em quê a minha mão havia esbarrado. Dou uma risada nervosa ainda tensa com o susto recente.

 Ainda bem que Angel não está aqui, ela já tem motivos demais para caçoar de mim.

 Subo novamente na cama e pego o velho ursinho dourado que estava sentado no fundo da cama. Sua cor estava desgastada e alguns tufos de espuma escapavam pelas suas extremidades. Aparentemente Angel já o tinha a muito tempo, mas por que nunca o tinha visto antes?

 - Ela estava tentando esconder de mim que ainda dorme com um ursinho de pelúcia? - penso alto enquanto a imagem de Angel dormindo abraçada com ele me fazia sorrir.

 - Não! - Uma voz muito próxima de mim me faz parar de respirar. Não podia ser a tia da Angel, era grossa e masculina demais para ser ela. Meu olhar desesperado varre o quarto buscando a origem do som mas não encontro ninguém - Era eu que me escondia de você - um arrepio percorre a minha espinha quando percebo de onde vinha a voz - Mas não se preocupe, agora nós também vamos ser amigos!

Five Nights At Freddy's 2 : A Última Sobrevivente Where stories live. Discover now