Qual som seguir? [EM REVISÃO]

29. Até mais tarde

— Qual é, Mila? Eu saí sem tomar café e estou faminta. — O garoto, possivelmente aluno novo, respira fundo e vai seguindo pelo corredor, não parece assustado pela reação de Camila, apenas curioso para saber a razão do seu enorme bico e a carinha de choro. Todos o olham igualmente interessados, afinal, ele tem um belo porte e lindos olhos castanho esverdeados. Quase se rendendo pela melhor amiga, Normani desvia o olhar rapidamente para se deparar com o novato as observando atentamente. Seu primeiro reflexo é perguntar-lhe o que diabos ele está procurando, mas se limita a apenas encarar de volta.

— Que grande mentira. Você nunca sai sem tomar café e... — A garota para e olha para Normani, depois para o seu objeto de observação. "Ora, mas vejam só. Essa cachorra não pode ver um rostinho bonito que já quer partir pra cima. Que bela melhor amiga você tem, Camila. Parabéns." — Hmm... Oi. Será que poderiam, por favor, parar de flertar com os olhos para que eu possa terminar minha discussão? Depois vocês podem voltar a se comer com os olhos, eu realmente só me importo com a minha rosquinha perdida.

— Karla Camila! — disse, num tom agressivo. — Não estamos... Er... Flertando! Eu tenho namorado, lembra?

— Opa, foi mal, meio que me esqueci. Você não me falou dele nos últimos cinco minutos. — Camila sorri com deboche e se vira de lado para dar atenção ao rapaz. — E você? Qual o seu nome, caro observador estranho?

— Meu nome é Matthew. Matthew Daddario.

"Matthew". Lauren saboreia o nome em sua boca sem dizê-lo de fato. Dinah se aproxima com os olhos fixos no celular em suas mãos, sem perceber a cena que era assistida por sua melhor amiga. Poderia ter começado bem ali, naquele momento: Ao invés de notar o garoto, Camila poderia ter notado que outra pessoa a fitava com um olhar, até então indecifrável. Ela teria chamado sua atenção? O estilo despojado e confortável, o moletom azul com o desenho do escudo do Capitão América estampado no peito, a calça jeans escura com rasgos no joelho e um All Star preto, o cabelo castanho jogado sobre o ombro esquerdo, os óculos de armação preta e olhos incrivelmente verdes. Talvez Camila tivesse lhe dado alguns segundos de reciprocidade antes lembrar-se da sua indignação. Quem sabe, não fossem apenas segundos, mas minutos longos de admiração. O princípio de algo que cresceria ao longo dos dias.

Nós nunca saberemos de fato.

Ligaria para todas as pessoas que lhe são importantes e diria que as ama?

— Estou interrompendo? — pergunta uma voz familiar atrás de Lauren. Joana. A garota esbugalha os olhos, surpresa por encontrar sua madrasta do lado de fora da igreja onde muitas pessoas lamentam a morte de seu pai num trágico acidente. A cerimônia começou há quase meia hora, então não esperava encontra-la ali. Ou qualquer um. Todos pareciam realmente interessados nos hinos que estão cantando ou no sentimento da perda de uma das pessoas mais influentes da cidade. — Posso me sentar aqui com você? — Aponto para o lugar vago ao seu lado no banco de madeira.

— Sim, por favor. — Ela sorriu para a enteada, mas seus olhos não acompanham. É sempre triste ver quando um sorriso não chega aos olhos, não parece verdadeiro. Lauren dá um tapinha no espaço vazio ao seu lado e Joana é rápido em aceitar o convite. A advogada está vestida impecavelmente, apesar da simplicidade. Um vestido branco com um corte delicado e saltos na cor nude. As pessoas lá dentro estão provavelmente olhando torto para a roupa que ela escolheu, mas Joana nunca se importou com o que os outros pensavam.

— Branco era a cor favorita do seu pai. — Responde ao perceber o olhar da menina dos detalhes do seu vestido. — Apenas imaginei que ele gostaria que tivesse lembrado.

— Tenho certeza que teria amado. — Dá de ombros, descansando as mãos sob o colo. — Eu sempre achei que era por causa do hospital, sabe? Estava tão acostumado a vestir essa cor desde a época da faculdade que não havia outro caminha senão adotá-la como favorita.