Qual som seguir? [EM REVISÃO]

1. O que eu sei?

21 dias para a Festa da Colheita  

Lauren

O outono é, de longe, minha estação preferida do ano pelos mesmos motivos que quase todo mundo também ama: as árvores perdem boa parte das suas copas e as folhas pintam as calçadas e jardins com um maravilhoso tom de laranja e a brisa fria que varre as ruas a partir de outubro é de certa forma inspiradora. Engraçado que as pessoas da cidade tentam se esforçar ao máximo para se parecerem pelo menos um pouco sofisticadas, vestindo cachecóis e grossos casacos, colocando luvas mesmo que não tivesse tão frio assim e os dedos não corressem tanto risco de serem congelados. 

Tudo bem, não quero ser acusada de hipocrisia, eu sempre estou usando um gorro preto mesmo quando é verão e tudo o que existia é calor e umidade opressiva. Minha melhor amiga, Dinah Jane, já me falou que, depois da aula de Educação Física, quando todas as garotas se reúnem no vestiário para fofocar sobre os garotos do time de basquete e eu me esgueiro propositalmente para fora do ginásio, elas sempre encontram uma brecha para falar sobre seus três assuntos favoritos: o tanquinho de Matthew Daddario; suspirar pelo sorriso perfeito de Froy Gutierrez; e comentar sobre como eu pareõ estranha vestindo combinações de moletom + calça jeans + tênis All Star branco surrado até no dia mais quente do ano.

O que eu posso fazer? Poucos conseguem sustentar tamanha personalidade.

Fala sério, essas garotas realmente se sentem confortáveis em percorrer todos os corredores da escola vestindo uma saia tão curta que qualquer vento poderia mostrar a cor de suas calcinhas? 

Para falar a verdade, talvez elas gostassem da atenção que vinha acompanhada de um convite para ir ao Sivan's — uma simpática cafeteria que fica a algumas quadras da escola, longe o suficiente para que alguns alunos escapem sem a preocupação de serem encontrados —, tudo isso por causa de alguns centímetros a mais de pele da coxa à mostra.

Como eu sabia que alguns espertinhos acabam matando aula para se agarrarem no fundo da cafeteria, onde uma máquina de Atari super antiga se mantém intocada?

Foi lá onde Dinah deu seu primeiro beijo, no primeiro ano, com Keiynan Lonsdale, um dos caras mais legais do colégio. Ela mal tinha desgrudado seus lábios dos dele e meu celular quase explodiu pela quantidade de mensagens que recebi sobre o melhor primeiro beijo da vida dela.

Como se ela fosse ter outros primeiros beijos.

Deixando o falso desdenho de lado, isso é legal, porque uma de nós tem que ter sorte. A outra (no caso, eu) precisa ter uma história ridícula para contar. Algo com as palavras "molhado" e "desengonçado", coisas que eu não faço questão de lembrar. Desculpa, Brad, mas, aparentemente, nenhum de nós parecia saber o que estava fazendo, mesmo todas as garotas dizendo coisas incríveis sobre você e sua boca bem desenhada.

Manhã de uma quarta-feira comum. Meu despertador tocou há cinco minutos e daqui mais cinco vai tocar novamente, gritando um toque que pode ser comparado aos gritos de almas perdidas, como se tivesse algum tipo de comunicação com o submundo. Eu permaneço deitada, olhando para o teto como se ele fosse a coisa mais interessante do mundo. De noite, quando as luzes estão apagadas, pequenas estrelas, que eu colei ali há um ano, brilham simulando a noite e fico encarando até ser vencida pelo sono, o que não demora muito. Fora isso, o quarto é quase igual ao que eu tinha na minha antiga casa, quando éramos apenas eu, papai e Joana: a parede onde minha cama fica encostada mantém o mesmo tom de cinza e um pôster da banda Florence and The Machine que está começando a rasgar nas bordas; as outras paredes são brancas e também foram presenteadas com posters e fotos que eu tinha tirado durante algumas viagens. A diferença entre a vida de agora e a que eu tinha há três anos é a presença de papai.