3. Coisas a dizer

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21 dias para a Festa da Colheita

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21 dias para a Festa da Colheita

Num dia qualquer, quando você acorda mais do que inspiradx, sentindo-se capaz de conquistar o mundo, corre para uma livraria e encontra aquele volume incrível na estante que você nem sabia que estava loucx para ler. As páginas, ainda intactas, esperam que um sonhadxr esteja preparadx para devorá-las. Cuidadosamente, como se o exemplar fosse algum tipo de pedra preciosa que exige cautela no manuseio, você o retira da prateleira, sente a textura da capa com seus dedos ansiosos, internando a vontade desesperadora de sentar ali mesmo, entre as enormes estantes, e começar a leitura faminta sem se preocupar com o que acontece fora daquelas paredes. É um lugar seguro, a final de contas. Então, depois de ter tocado cada centímetro quadrado da superfície, você abre e inala o cheiro da espinha do livro, dos papeis que nunca foram lidos. Como não se apaixonar imediatamente e profundamente?

Mas não é só os livros novos que são hipnotizadores com seus aromas. O que falar dos volumes mais antigos e seu o perfume estranhamente inebriante que torna o ambiente de uma biblioteca algo com características mágicas? E há uma razão para esse cheirinho peculiar! Uns caras da universidade investigaram o odor característico dos livros mais velhos e chegaram a conclusão que ele tem origem na reação que acontece entre a composição orgânica do exemplar e uma série de fatores como o calor, a luz, a umidade e principalmente, os produtos químicos utilizados na sua produção. Enquanto que o "cheiro de livro novo" é atribuído ao próprio papel (e os produtos que foram utilizados para sua composição), as tintas para impressão e a cola utilizada no processo de encadernação; o futunzinho (digo isso com o maior amor do mundo) está relacionado com as reações que ocorrem com o passar do tempo envolvendo essas três fontes e outros fatores. De certa forma, com algo que também acontece dentro de nós.

Como assim? Você tem aquele livro velho na sua prateleira, já faz um tempão que o deixou lá esquecido enquanto dava atenção a outras coisas mais importante. Então, você o encontra, as páginas estão mais amareladas e um pouco de poeira se apossou de toda a extensão da capa frontal. Quando o abre, o cheirinho lhe chega como se disse "Oi, sumida", quase imediatamente lembranças vão chegando com a força de um soco e você é transportadx para uma outra realidade, mais antiga e marcada por nostalgia. Até o odor de velho tem seu charme. É exatamente assim que meu avô se sente com a música.

Houve uma época, não muito tempo atrás, que eu não conseguia segurar o choro só de imaginar a situação dele. O Alzheimer havia chegado dois anos trás, apenas um ano depois que papai (seu único filho) havia morrido por causa de um acidente de carro, e eu tinha visto minha pessoa favorita no mundo esquecendo não só sobre seu único filho, mas também do restante de nós, sua atual realidade, mantendo vagamente apenas as lembranças de quando era mais novo e fazia sucesso na pequena cidade que crescemos. Lembro-me que quando o Dr. Gutierrez deu o diagnóstico, as palavras ecoaram na minha cabeça: os primeiros estágios da doença de Alzheimer, repetindo-se insistentemente como um disco quebrado.

Qual som seguir? [EM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora