Capítulo 4 - Acapulco

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Jack narrando:

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Jack narrando:

Talvez, só talvez eu estivesse julgando mal essa jovem. Ela estava mesmo querendo ir a pé para deixar o homem com pé machucado ir no único transporte que temos? Ainda por cima carregando duas malas? Ao ver ela estressada comigo soltando as malas perto de si, passando a mão na testa para retirar algumas gotas de suor que lhe caía, visivelmente chateada, cansada e talvez com fome, meu coração falhou um batida. Sempre desejei encontrar uma pessoa serena que fugisse das normas da sociedade que nos imputava a desejar sempre o melhor das pessoas de forma material e esquecer os seus valores, coisa que minha mãe tinha e que acreditava não existir outra igual.

- Estou esperando. - ela diz me olhando com seu nariz empinado e pude observar o quanto é tão linda mesmo com raiva. - Acredita que vai anoitecer logo e que falta muito até chegar no povoado mais perto? - ela começa a tentar ter paciência comigo o que me faz querer rir. - Precisa parar de rir de mim senhor se não quiser que eu escreva a seus superiores dizendo os péssimos atos seus até aqui.

- Me perdoe senhorita é que estou pasmo aqui com um jovem que tem tudo nas mãos e está se prontificando a dar o único transporte a um homem do pé machucado.

- A Bíblia nos manda amar e cuidar dos pobres, viúvas, órfãos e enfermos meu caro senhor. - ela diz e eu sinto que se segura para não explodir.

- Vamos para sombra, tenho um plano que talvez dê certo e a senhorita não precise se sacrificar com essas malas na estrada. - digo passivamente esperando que ela ceda e me obedeça, meu emprego e minha cabeça dependem do bem estar da mesma nessa viagem.

Vejo ela calada se inclinar recolher as malas do chão e seguir para perto do nosso condutor machucado que está na sobra da única árvore que temos. Fico ainda uns minutos olhando ela caminhar e percebo que ela me afeta mais do que o necessário, pois senti o desejo de estar ali ao seu lado e sendo ignorado por ela me senti um bobo. Talvez eu tenha sido muito rude com a mesma, mas não me lembro então não vou me desculpar.

- Pronto estamos todos na sombra da árvore o que pensa em fazer? - ela diz amarga.

- Penso que daqui mais uma hora é noite, não sabemos os bichos que andam por essa colina, estamos com bagagem e um homem machucado, pensei em acampar por aqui mesmo onde estamos e assim que os primeiros raios de sol surgir eu os deixo e vou no cavalo para trazer uma carruagem que possa nos levar em segurança até Acapulco que acredito ficar a pouco mais de um dia daqui segundo esse mapa. - digo sendo observado pelos dois que me olham atentos e percebo que ela oscila seu olhar entre mim e o homem sentado no chão.

- Se me permite dizer senhorita é uma ideia sensata. - o homem que até agora não sei o nome diz e recebe toda a atenção dos olhinhos cor de mel dela.

- Qual o nome do senhor? - ela pergunta ao condutor. 

- Agnaldo senhorita. - ele responde se aprumando na posição sentado.

- O senhor se sentirá bem em ficar uma noite inteira aqui? - ela pergunta ao homem que rapidamente olha para mim e eu levanto os ombros dizendo a ele que não me meto.

- Senhorita eu concordo com o soldado quando diz que a senhora não aguentará andar a pé tanto tempo, outra coisa logo será noite e estaremos correndo risco de vida, assim podemos fazer uma fogueira e talvez se a senhorita quiser ficar dentro da carruagem.

- Não. - digo rápido. - Será melhor ficarmos todos juntos, assim se vier assaltante ou bicho temos como nos ajudar. - procuro também me justificar e ganho assim a atenção dela de volta para mim.

- Por mim tudo bem então se o senhor Agnaldo se sentirá bem em ficar. - ela diz sentando perto do homem. - Mas vamos pelo menos melhorar a estadia dele não é? - ela me pergunta e tenho vontade de revirar os olhos pois como é que ela vai passar a noite no relento e pensa em acomodar um estranho?

- A única coisa que posso colocar aqui é o acento da carruagem que está solto, mas pensei em... 

- Em como ficaria sr. Agnaldo melhor acomodado? - ela me corta até parece que ler pensamentos.

- Sim, vamos então ser rápidos pois temos que pegar alguns gravetos para o fogo ainda. - falo me dirigindo para a carruagem e olhando por cima dos ombros vejo que ela diz algo para o homem que rir todo encantado por ela, só não o mato aqui pois já é bem idoso para pensar em casamento.

Durante a noite após eu ter aberto nosso último pacote de suprimentos de viagem e ter acomodado o enfermo vi que ela havia pego algumas roupas da mala e fez uma espécie de duas camas perto do homem no acolchoado. Não exitei em me deitar, só não vai ser fácil dormir, pois são roupas dela limpas e com um cheiro de lavanda que me embriaga. Percebo também que a mesma está como fazendo uma oração e usa a luz da fogueira que improvisei para ler a Bíblia, já havia visto ela falando de Jesus para o dono da estalagem, o cocheiro mais cedo e para a menina que serviu nosso desjejum na estalagem, só não sabia que ela mesmo após tudo que passamos ainda teria coragem de ler a Bíblia. Realmente ela me surpreende cada vez mais.

Assim que os primeiros raios solares vieram eu peguei o cavalo e fui até a cidade mais próxima deixando ela dormindo, tive a preocupação de deixar uma arma com Agnaldo e o deixar acordado. Viajei quase duas horas para chegar no povoado e quando falei com o primeiro morador a minha alegria foi saber que ali morava um homem que construía carruagem e que poderia consertar a nossa, então rapidamente o levei até onde estávamos acampados e ao me aproximar percebi que Débora louvava a Deus um hino muito bonito, em uma voz muito alta como se houvesse uma multidão de gente ali lhe assistindo. Tem como eu me encantar mais?

Tirando o charme dela de minha cabeça, percebi que tinha que reprimir meus pensamentos por ela, pois iria se tratar de um amor impossível, eu quase me esqueci que seu noivo foi quem me pagou para vir com ela no intuito de garantir que ninguém se aproximasse com segundas intenções. Mas eu não estou com segundas intenções já vou na quarta ou quinta e preciso voltar para a primeira mais não sei o caminho.

- Pronto vamos seguir viagem em paz. - disse recolhendo as malas após ter acertado com o homem que concertou nosso transporte.

- É maravilhoso, Obrigada Senhor por essa benção alcançada. - ela diz se aproximando da carruagem. - Por favor Jack, ajude o irmão Agnaldo a entrar sim? - ela diz retirando a mala de minha mão.

- Ele vai em cima comigo senhorita é melhor. - tento dizer e já vejo ela balançar a cabeça.

- Ora essa Jack, disse que faltam dois dias para chegar e quer que ele nessa idade e com esse pé assim vá aí se sacolejando? Irá cair em dois tempos.

- Como quiser senhorita. - digo trancando a cara e indo ajudar o homem que ao ver que ela está longe me diz:

- Mulheres como essa é uma num milhão, não deixe desperdiçar essa benção Jack. - eu o olho confuso antes de falar:

- Ela é noiva de outro senhor, não tenho nada com ela a não ser ter que cuidar nessa viagem. - talvez ele não soubesse e estivesse confundindo as coisas, mas também ela fala comigo como se eu fosse o primo mais próximo quer o que?

- Abra seu coração meu filho, o amor e Deus querem entrar, se deixar tudo trancado não irá gozar das felicidades da vida.

Não dei mais atenção, acomodei o homem na carruagem, ajudei a teimosa entrar e subi para começar a guiar nossa condução. Foram dois longos dias de viagem após nosso imprevisto na estrada, onde vi Débora cuidar com carinho do ferimento do homem a cada parada nossa, finalmente estamos já chegando e quando eu aviso vejo os olhinhos dela pela janela da carruagem olhando para entrada do vilarejo chamado Acapulco. Eu ainda vou descobrir o que tem de tão especial em vir para o fim do mundo.

Deus é DeusWhere stories live. Discover now