Capítulo 2 - Despedidas

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Eu realmente estava decidida a fazer a viagem missionária, ninguém iria tirar isso da minha cabeça, mas bem que os meus pais tentaram impedir, não só porque seria algo relacionado com igreja, mas também pelo fato de ser um lugar pequeno, sem estação ferroviária e sem telefone. Um lugar sem recursos dizia minha mãe indignada.

Briga feia foi  a questão de eu ter pedido demissão da escola (eu não tinha como ensinar de longe ninguém entende?) e rejeitar a festa de despedidas que mamãe organizou. Isso sim foi um Deus me acuda das palavras de mamãe! Ela não aceitava minhas escolhas e para não desobedecer ela eu a evitava.

- Oi. - diz Vitória minha irmã mais velha e a única que tenho aproximação.

- Oi. - respondo sem dar muita atenção, imaginando ser mais uma tentativa de me impedir.

- Debinha porque você decidiu fazer essa viagem? Tipo não estou lhe julgando mas é estranho demais você querer largar tudo aqui para viver no fim do mundo. - ela diz me olhando.

- Senta aí Vi vamos conversar. - falei sentando perto da mala de livros.

- Quero lhe apoiar minha irmã, sei que está sendo difícil pra você. - ela se apressou a falar.

- Muito difícil Vivi. Mas eu não estou indo ao fim do mundo como você diz para passear, estou indo a trabalho, sou cristã e como tal preciso cumprir o Ide de meu Deus. Aceitei ir passar um ano fazendo missão por lá. E quanto a ficar longe disso tudo (digo gesticulando mostrando o nosso quarto luxuoso) não me fará falta, sempre vi nossa casa como uma casa de ouro e gelo.

- Um ano? Minha nossa papai vai surtar quando souber. - ela se exasperou levantando e sentando novamente. - Sabe que ele vai mandar te buscar não sabe?

- Ele só é poderoso aqui em nossa cidade, então tenho certeza que ele não poderá mandar me buscar, sou de maior e estou lá por que quero.

- Eu vou sentir falta. - ela diz secando as lágrimas, foi quando percebi que também chorava.

- Também vou sentir sua falta. - digo por fim.

Vi minha irmã se soltar do nosso abraço e descer para me esperar lá em baixo junto com todos, eu partiria hoje e estou bem emotiva. Não demorou muito e as malas estavam prontas, levaria pouca coisa pois quero ser a Débora missionária e não a filhinha de papai que sempre fui.

Ao descer as escadas vejo a comitiva de gente me olhando e sinalizo para o rapaz que pegará minha bagagem e desço indo em direção ao meu pai e me jogando em seus braços para um abraço.

- Filha tem certeza? - papai diz.

- Tenho sim pai, é muito importante para mim.

- Se não for querer o seu noivo faça uma doação. - Dalila diz irônica e eu reviro os olhos para a voz irritante dela.

- Fique a vontade, terá tempo de o conquistar. - digo pensando que talvez seja mais fácil o mar secar.

- Já que vai mesmo nós conseguimos um transporte melhor que o da igreja,  um guarda que será responsável por você durante o tempo que ficará lá e dinheiro para suas necessidades. Foi ideia de Marquinhos, ele é um menino de ouro. - o pai fala e ela olha pra mãe que ficou calada até então.

- Mãe? - tento fazer ela ao menos me xingar.

- Não sei o que dizer, você decidiu ser a vergonha da família. Minhas amigas já me olhavam torto por ter uma filha professora, imagina uma filha professora que viaja pra coisa de igreja. - disse e deu um abraço falso me fazendo ter náuseas de tanta falta de bom senso junta numa só pessoa.

- Sinto muito suas amigas não conhecerem o meu Jesus. - disse saindo em direção a carruagem que já me aguardava. Olho o soldadinho de chumbo que me servirá de babá durante a viagem e tenho vontade de gritar com ele.

- Prazer senhorita meu nome é Jack, irei escoltar a senhorita.

- Escoltar ou ser meu vigia? - digo dura pois não vou ser gentil com os fiscais do Marcos.

- Perdoe se lhe dirigi a palavra foi por educação. - ele falou pensando em como deveria ter rejeitado essa oferta. Teria se livrado de estar com uma menina mimada.

Não dirigi mais a palavra a ele, entrei na carruagem me acomodando e pegando o livro de Jane Austen que decidi ler na viagem em paralelo a Bíblia é claro. Agora sou eu e Deus num lugar estranho e distante, com um fiscal que mais parece ter saído do filme o quebra nozes e que é lindo como um arco-íris. Calma Débora não pode se apaixonar pelo fiscal, ele está aqui para dizer ao seu propenso noivo o que está fazendo então trate-o com indiferença e não olhe para o rosto bonito dele se não sua viagem vai ser um fiasco. (pensava já que não podia falar.)

Deus é DeusWo Geschichten leben. Entdecke jetzt