Capítulo 36 ou "Cessar fogo"

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– Eu sei que era o seu plano, mas nós todos concordamos com ele. – desviei o olhar. Mesmo que eu estivesse sendo sincera, era difícil encarar Lucas enquanto eu dizia tudo aquilo. Mas eu sabia que ele precisava ouvir. – Nicholas não teria deixado que nós fôssemos sozinhos de qualquer forma. Esse sempre foi o problema com ele saber demais as coisas, esse sempre foi o motivo pelo qual eu fugi da primeira vez.

Um nó de desespero me subiu à garganta. Eu continuei falando:

– Nicholas, uma vez sabendo que eu estou em apuros, era humanamente incapaz de me deixar resolver as coisas sozinhas. Era sempre um caos mantê-lo longe das minhas confusões, e muitas vezes eu tinha que tomar atitudes drásticas para preservar sua inocência, que era o que eu mais gostava nele.

Lucas acenou brevemente com a cabeça, e se perdeu em pensamentos. Provavelmente se lembrando de como Nicholas foi, de como se recusava a ser deixado de lado. Eu nunca saberia exatamente o que havia entre eles, porém, em algum momento, tenho certeza que se tornaram amigos. Nicholas era o tipo de pessoa impossível de não se gostar.

Pensar de Nicholas no pretérito era como mil agulhas no meu cérebro.

– Meu pai não quer que eu volte a Viveiro por um tempo. – ele falou, finalmente – Quer que eu vá para casa. Ouvir outros advogados. Ele acha que a Mônica é parcial.

Considerando que a Doutora Mônica, leal aos Avelar, agora era minha madrasta, eu não diria que Edson Avelar estava errado.

– Você devia ir.

– Parece errado ter que me separar de você com tudo isso acontecendo.

– Não tem nada acontecendo.

E meio que não tinha. Nós já tínhamos dado nossas respectivas versões da história à polícia.

– Prometa que não vai fazer nada em relação às filmagens. – Lucas apertou os olhos, provavelmente tentando antecipar se eu mentiria ou não a respeito disso – Não até eu voltar.

– O que você acha que eu vou fazer? Por favor, Lucas.

– Não sei. Eu só quero ser parte dessa decisão. Pode fazer isso por mim?

Lancei um breve olhar contrariado. Não gostava de ser tratada como alguém que precisava ser controlada. Todavia, eu não podia negar que Lucas agora era parte disso. Ele estava até o pescoço enfiado nisso, e tinha o direito de saber o que eu faria com as filmagens.

– Ok.

– Promete.

– Eu prometo Lucas.

Ele me puxou para um abraço, e eu deixei. Lucas apoiou os lábios na minha testa, pressionando-os de leve em um beijo afetuoso.

***

– As autoridades querem checar seu depoimento mais uma vez. – minha advogada se ajoelhou diante de mim no sofá. Era onde eu estava dormindo nos últimos dias, porque eu simplesmente não conseguia dormir no meu quarto.

Não com a minha varanda a poucos passos de distância, com tantas memórias preparadas para me arrebatar no instante em que eu pisasse ali. Nunca tinha parado para pensar em como eu sempre procurava por Nicholas toda vez que ia para o lado de fora, mesmo que inconscientemente. Eu só esperava que ele estivesse na varanda, rabiscando acordes em um caderno velho com sua lapiseira zero sete.

Eu não conseguia lidar com a certeza de que não o encontraria.

– Eu já falei duas vezes. – rebati, cruzando os braços diante do corpo na defensiva – Não tem muito mais o que adicionar.

Quem Brinca Com FogoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora