Capítulo 29 ou "Do que você tem medo?"

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– Por que você não está atendendo o celular? – meu pai apareceu no batente da porta do meu quarto enquanto eu estava confortavelmente jogada na minha cama em meus pijamas, odiando a minha vida mas amando o fato de que eu tinha uma casa livre de Avelares novamente.

– Eu não converso com quem abriga terroristas. – devolvi, malcriada, e meu pai revirou os olhos. Acho que eu já tinha esgotado a cota dele de paciência para a minha pirraça, mas eu não estava casada de puni-lo.

Ninguém mandou colocar um teto sobre a cabeça do imbecil do Lucas como se ele nunca tivesse ido embora.

– Não sou eu quem está tentando falar com você. – ele explicou de má vontade, como quem diz que eu não tenho mais idade para esse tipo de desfeita. Só então eu percebi que meu pai trazia na mão o telefone fixo, e eu olhei para o aparelho desconfiada.

– Não estou a fim de falar com Lucas. – eu me revirei na cama até ficar de costas para ele, esperando que ele entendesse o recado e me deixasse sozinha para a minha confabulação a respeito de como eu exilaria Lucas de Viveiro antes que o Carlos Henrique tentasse fazer alguma coisa para machucá-lo.

Por um curto momento, parei para pensar que talvez eu estivesse tratando meu pai como costumava tratar meu padrasto, Marcos, em Vitória. E que, por pior que tivesse sido sua atitude, Arthur não poderia ser comparado em nada com o marido da minha mãe. Para começar, ele era pai de verdade para os próprios filhos.

– Não é Lucas.

A voz de barganha de Arthur era característica de quem trazia um sorrisinho consigo. Eu espiei por cima do ombro, pensando que só tem uma pessoa que não desistiria de me ligar caso eu não atendesse o celular. Bom, duas pessoas, mas uma delas era Lucas e eu já sabia que não era esse o caso. Pulei da cama e tomei ansiosamente o telefone da mão do meu pai, que provavelmente estava feliz demais por me ver empolgada com alguma coisa em vez de só ficar reclamando para variar, de modo a não se importar com a falta de cortesia.

– Oi, nerd. – saudei Zaca pelo telefone, e ele deu risada com vontade. Fiz um gesto com a mão para indicar meu pai que eu queria ter aquela conversa em particular, e fechei a porta atrás de mim.

– Você ficou de me explicar algumas coisas. – ele foi direto ao ponto, e eu revirei os olhos para o meu reflexo no espelho do outro lado do quarto.

Mais conversas sobre Lucas Avelar, uau. Não parecia ter saída para mim.

– Desculpa. – eu ponderei – As coisas estão totalmente fora de controle por aqui.

– Como está Lucas?

Eu estou bem, obrigada. Dele eu não sei de nada. – retruquei, irritada, me jogando de volta na cama. Zaca sequer me dera um bom dia e já estava querendo saber de Lucas? O que aconteceu com todo aquele esforço da parte dele (e, bem, de todo mundo à minha volta) em fingir que ele nunca havia existido?

– Garota, você sabe que não precisa disso entre a gente.

Eu mordi os lábios antes de responder. Zacarias estava certo. Com os outros, eu podia só fingir que estava irritada demais com a presença de Lucas para ficar sequer feliz com a sua volta. Mas eu sabia muito bem que uma parte de mim estava aliviada em saber que ele estava bem, e que tinha um motivo minimamente razoável para desaparecer por tanto tempo. Eu ainda não queria racionalizar a respeito de perdões nem nada, mas... o nó que apertara minha garganta por tanto tempo, consequência do pensamento de que Lucas simplesmente me abandonara por não conseguir lidar com meus problemas, tinha ido embora.

Ao mesmo tempo, Viveiro não era a mesma cidade de quando Lucas veio passar as férias. As coisas estavam mais tensas do que nunca entre Carlinhos e eu, e a Gangue estava se esforçando bastante para tornar a minha vida um inferno. Além disso, Carlinhos fora bem claro a respeito de seu conhecimento de que Lucas estava na cidade, e a última coisa que eu precisava era daquele maluco tirando um de seus coelhos da cartola contra mais uma pessoa que eu amava.

Quem Brinca Com FogoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora