19.

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“O meu pai está no hospital” eu digo sem medo.

Eu não conheço à muito o Harry para confiar nele, mas mesmo assim eu talvez lhe esteja a contar parte do meu segredo, ao falar-lhe do meu pai mais coisas virão e eu sempre precisei de uma pessoa para falar de todos os meus problemas e ele parece-me a pessoa certa para o fazer, ele é fechada e saberá guardar os meus segredos tão bem ou melhor que eu.

“Ele está muito mal, ele fez uma cirurgia ontem e eu pensei que ele fosse ficar bem, mas ela ganhou uma infeção qualquer e voltou ao estado inicial e isso assusta-me” eu choro e os soluços interrompem-me várias vezes.

O meu medo, o meu maior medo é ficar sozinha neste mundo cruel.

O abraço quente do Harry faz com que me acalme.

“Ele vai ficar bem” ele diz-me e eu nego.

Eu sou sempre demasiado pessimista, mas a verdade está clara, ele estava bem e voltou a ficar mal, ele é forte mas não é tão forte como imaginamos, mas eu espero que ele o seja pelo seu filho de quatro anos que precisa dum pai autoritário do seu lado, ele precisa muito do meu pai.

“Podes levar-me lá?” eu pergunto-lhe e ele assente ligando de novo o carro.

A viagem parece demorar uma eternidade e os meus olhos mostram algum cansaço acabando mesmo por se fecharem.

Eu sinto o toque leve do Harry e eu abro os meus olhos e eu vejo a luz branca da entrada, reparo no Liam a fumar o seu cigarro e o Harry parece reparar também.

“Que merda é que ele faz aqui?” ele pergunta tenso.

Na verdade não percebi bem a sua reação, da ultima vez que o encontramos eu saí com ele em vez de ser com o Harry e talvez isso o deixe desconfortável.

“Os pais dele são muito amigos do meu” minto.

Não é que eu goste de mentir, mas se Harry juntar as peças iria descobrir que eu sou filha do famoso empresário Paul Miller, em todos os jornais dizem que ele está casado com a Karen e por vezes eles aparecem em fotos e o Liam está junto, eu não posso dizer-lhe que ele é filho da minha madrasta.

“Encontramo-nos amanhã?” ele pergunta quando eu saiu do carro.

“Adorava” digo-lhe sendo sincera.

Eu gosto mesmo de estar com ele, demais até.

Eu chego perto do Liam, e ele acompanha-me no caminho até ao quarto do meu pai.

“Aquele era o Harry?” ele pergunta sorrindo.

“Sim” eu respondo.

“Tu és uma mentirosa” ele olha e eu riu.

“Não, não sou” bato-lhe no ombro.

Quando eu vejo a Karen ao fundo do corredor, sentada naqueles bancos azuis sem cor, as suas mãos tapam o seu rosto e limpam-no constantemente, ela está devastada e naquele momento eu sinto que o perdi, eu sinto que ele foi sem sequer lutar.

“Por favor, diz-me que –“ a minha respiração acelera e eu sinto-me com falta de ar, eu procuro encontrar algo que o faça voltar mas ele não volta.

“Ele ainda está cá” ela corta-me, antes que eu diga algo inútil.

Eu sinto-me tão mais aliviada por saber que ele ainda não me deixou.

Esperamos por horas e não temos sequer uma noticia dele, o Liam e a Karen já gritaram com a rececionista por duas vezes por os médicos ainda nãos nos comunicarem nada.

ObscureWhere stories live. Discover now