Capítulo 27

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Em meio há várias maneiras de me magoar, me magoei justo com um comentário da minha melhor amiga. Mesmo que tenha se arrependido não muda o que eu ouvi, mas isso não me importava, pelo menos não mais.

Ao chegarmos à sala de aula, Prof. Thiago se dirigiu da mesa ao quadro e começou a escrever um monte de exercícios para respondermos antes de sua aula terminar. Ele não analisaria o exercício depois que sua aula acabasse, o que nos deixaria com um visto a menos em sua matéria, por isso devíamos terminar logo. Mas a sala parecia não contribuir, o barulho deles falando me desconcentrava, eu não conseguia prestar atenção. E como se o professor estivesse lido meus pensamentos, ele chamou a atenção da turma.

- Alunos, por favor, façam silêncio! - Em menos de dois segundos a turma inteira estava calada, com exceção de Luke, que continuou conversando com uma garota que parecia ignorá-lo completamente.- Sr. Luke Grant.

Em uma rapidez impressionante, Luke se virou para se ajustar na cadeira.

- Pois não professor, em que posso ajudá-lo? - Sua expressão já era tudo para arrancar alguns risos da turma.

- Me ajudaria muito se ficasse de boca fechada, mas já que está tão à vontade para conversar hoje, que tal me ajudar com essa questão? - Ele faz um gesto apontando para o quadro.

- Sabe professor eu não estou me sentindo muito bem hoje, sei lá, acho que é solidão, sabe?

- Não, eu não sei. Agora responda para mim essa pergunta: - Prosseguiu.- Durante a maior parte do período colonial a participação nas câmaras das vilas era uma prerrogativa dos chamados "homens bons", excluindo-se desse privilégio os outros integrantes da sociedade. O que dizia a respeito a expressão "homem bom"? - Terminou lançando seu olhar para Luke, à espera de sua resposta. Luke, porém passou os segundos coçando a cabeça, como se estivesse pensando ou talvez ganhando tempo.

- Perdoe, Professor, mas será que dá para repetir? - A sala foi preenchida por gargalhadas.

Acho que em todas as escolas devia ter o palhaço da turma, a minha não era diferente. Luke era o palhaço da turma, adorava ter toda a atenção dos outros voltadas para sí, isso só me levava a pensar se por acaso ele não recebia atenção das pessoas que ele mais gostaria de ter. Fazer todos rirem de suas piadas que na maioria das vezes era sem graça era o que o fazia feliz.

- Tudo bem, eu vou considerar a sua falta de atenção em minhas aulas, Sr. Grant.- Disse o professor, agora lançando o olhar para toda a turma.- Alguém me responderia a resposta correta?

Antes que abrisse minha boca, alguém respondeu primeiro.

- Senhores de engenho e proprietários de escravos.

- Muito bem, Sr. Brandon, vejo que está prestando atenção em minhas aulas.- O professor sorriu e então voltou para a sua mesa e se sentou na mesma.

Arrisquei olhar para Brandon, e acabei me arrependendo, pois o mesmo estava me olhando. Quando seus olhos procuraram os meus, fiz questão de virar o rosto. Eu precisava aprender a controlar as minhas emoções, sempre que olhava para ele meu coração ficava acelerado, como se a qualquer momento eu fosse ter um ataque cardíaco.

                            ***

Na hora do almoço coloquei uma moeda dentro da máquina de comida. Esperei até que o salgado caísse em minhas mãos. Porém nada caiu, me perguntei se as moedas foram poucas. Só podia ser. Procurei por mais moedas em meu bolso, mas não encontrei nada. Não trouxe dinheiro suficiente e, agora vou ter que esperar as aulas terminarem para poder comer em casa. Estava resmungando o quanto a minha vida era sem sentido quando ouvi passos se aproximarem. Brandon passou por mim, roçando seu ombro no meu e ponto um dólar na máquina que não demorou um segundo para descer uma coca. Que ódio.

- O que você acha que eu deveria comprar? - perguntou se dirigindo à mim, era a primeira vez que falava comigo depois várias semanas.

- Eu não sei, você que deveria saber.- respondi, ele olhou pra mim, em meus olhos.

- Pensei que soubesse meus gostos.- Ele deu um sorriso torto. Ele estava me provocando ou me desafiando?

Desafio ou não, eu aceitei. Agora foi a minha vez de passar por ele. Tirei chocolate Ghi­rar­del­li, eu tinha muita certeza de que esse era seu chocolate preferido. Mas o sabor, eu ainda tinha dúvidas. Um pouco frustada olhei para ele que segurava o riso, eu esqueci seu sabor preferido. Calma, eu só precisava lembrar do dia em que comemos um desses, mas faz tanto tempo. Foi antes dele ir para Nova York, para casa de seus avós. Estávamos na minha casa, era Páscoa, tinha vários chocolates que mamãe havia comprado, Brandon gostou de apenas um. A resposta estava perambulando na minha cabeça prestes a se revelar, mas não conseguia. Tinha algo a ver com Mik e caramelo. Claro! Procurei pelos nomes e então consegui. E então me virei para ele sorrindo vitoriosa.

- Seu cho­co­la­te favorito é da Ghirardelli e o sabor que mais gosta é o de Milk & Cara­mel.- Respondi o entregando a embalagem, ele estava de boca aberta.

- Pelo visto você ainda lembra.- os cantos da boca se entortou em um sorriso. Eu fiz questão de não prestar atenção.

Apenas assenti. Ele pegou o refrigerante e me ofereceu, mas recusei.

- Não, obrigada, eu posso comprar se eu quiser.- mentira, eu não tinha um tostão no bolso, mas deveria manter a pose de durona, não aceitaria nada seu.

- Mas eu quero te dar.- Insistiu.

- Mas eu não quero.

- Mas eu prefiro.- Já havia até esquecido o quanto ele era insistente.

- Tudo bem.- Peguei a garrafa.- mas só porque você insistiu.

Abri e tomei o primeiro gole, ele continuou me olhando, e isso estava me deixando desconfortável.

- Obrigada, mas agora eu tenho que ir.- Antes de me virar, ele me chamou.

- Megan, espera. Eu não quero que agente continue assim, queria muito voltar no tempo pra poder...

- Para que continuássemos amigos, né? - Acrescento.- Que eu continuasse com esperanças de que você um dia olhasse pra mim da mesma forma que olhava para a Agnella.- Meus olhos se enchem de lágrimas, as lágrimas que eu jurei jamais derramar outra vez.

- Eu juro que se eu soubesse... - interrompo.

- Teria se afastado de mim, é, eu já sei.- sequei as lágrimas antes que caíssem de meu rosto.- Eu tenho que ir, tchau.

Olhei para ele uma última vez e fui embora. Me sentei no jardim da escola e chorei, era impossível não chorar quando se tinha tantas lembranças boas que eu tive com ele. Não fiquei sozinha por muito tempo, Eric se aproximou. Limpei as lágrimas para que não percebesse. Mas mesmo assim ele notou.

- Você estava chorando.- Afirma com convicção.

- Não, está tudo bem, eu estou bem.

- Megan, não precisa fingir que está tudo bem quando na verdade não está.- Disse ele com ternura na voz.

Ele tocou minha mão com a sua e deixei que o calor delas me relaxasse e me causasse segurança que de fato sua presença me causava. Relaxei minha cabeça no peito dele e ouvi seu coração se acelerar.

- Obrigada.- murmuro.

Passamos alguns segundos assim até que o escuto suspirar bem fundo. Sua mão antes quente agora estava fria, como se ele estivesse nervoso. Ele soltou minha mão e com a mesma tocou meu rosto, levantei meu rosto e nesse momento ele me beijou.

Ligados Pelo amorWhere stories live. Discover now