capítulo 23

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Entro no meu quarto e fecho a porta. Cheguei sem ser vista por ninguém, não queria ser incomodada. Eu não seria uma boa companhia para ninguém agora. Antes de me jogar na cama percebo que esqueci minha bolsa na casa do Brandon, mas não me importo, eu que não voltaria mais lá. Estou me sentindo cansada e pior do que isso, me sinto uma idiota. Vim o caminho inteiro até aqui chorando e xingando-me mentalmente, tudo isso porque sou uma imbecil. Fiz tudo errado, como sempre. Baixei a guarda, me senti segura e pela primeira vez confiante de mim mesma por achar que estava fazendo o certo, e no final descobri que era tudo ao contrário. Minha segurança acabou, minha confiança se esvairou. Não me sinto nada bem. Tudo o que me resta é ficar deitada nessa cama olhando para o teto. Não quero mais chorar, já estou cansada disso. Estou cansada de tudo, estou cansada de amar e não ser correspondida da mesma forma. Cansada de lutar por algo que já estava perdido há tempos. Deveria ter me dado conta de que ele não foi feito para mim, antes só sua amizade me bastava, mas nem isso terei mais. Porque agora acabou. Agora quero esquecê-lo de vez, mesmo que por mais difícil que seja eu irei tentar.

Não sei por quanto tempo eu fiquei em meu quarto, mas logo notei que já era noite. Lembrei que Selena iria precisar da minha ajuda com sua maquiagem e roupa. Eu pensava que de alguma forma isso poderia me distrair por um tempo. Ao descer, o cheiro delicioso de bolo me fez perceber que eu estava com fome, não comia há horas. Então não era de se esperar que meu estômago estivesse implorando por comida. Rumei até a cozinha e encontrei mamãe acabando de retirar o bolo do forno. O fato de ter que esperar mais alguns minutos para esfriar me fez soltar um suspiro de frustração. Isso fez com que mamãe notasse minha presença. Eu não olhei diretamente em seu rosto, porque sabia que assim que olhasse em meus olhos me encheria de perguntas, e eu não estava à fim de conversar agora. Apenas peguei uma maçã e me retirei da cozinha. Me sentei no sofá e passei os minutos sozinha. Então Selena apareceu, com um sorriso doce e uma expressão curiosa como que quisesse saber das novidades, mas eu não tinha nenhuma, minha vida nunca foi interessante assim como nos livros. Ela parou na minha frente e seu sorriso sumiu quando percebeu que eu não estava nada feliz, por outro lado eu parecia ter acabado de voltar de um enterro.

- O que houve? - Perguntou, ela estava muito mudada, há um ano atrás ela nem sequer perguntaria sobre algo que estivesse me incomodando, quando comecei a namorar Elliot ela não me deu nem os parabéns.

Eu não disse nada, então ela se sentou perto de mim e continuou:

- Você falou com ele? - Assenti.- O que ele disse?

- Tudo o que eu precisava ouvir para aprender de vez que não nascemos para ficarmos juntos.- Respondi com a voz baixa.

- Então quer dizer que ele não...

- Ele voltou com a nossa prima.- Ela pareceu chocada.

- A Agnella? Eu não acredito que ele fez isso, justo ela que o fez sofrer tanto. Que idiota! - Agora ela estava furiosa. Permaneci em silêncio.- Eu imagino que deve ter sido muito doloroso ter descobrido isso. Agora eu não tenho vontade pra sair.

- Não diga isso, não é só porque isso tenha acontecido que você não vai sair, você vai à esse encontro e eu vou te ajudar na maquiagem.

Ela sorriu corando, apesar de bonita essa era a primeira vez que um garoto a convidava para sair. E não estava acostumada com essa palavra encontro.

- Acho melhor cuidar logo, pois as horas se passam voando e quando menos se esperar já será 19h.

Ela tomou um banho e a ajudei na maquiagem, assim como eu ela não gostava de nada extravagante. A maquiagem ficou simples como ela pedira. E adorou o resultado. Nada mais que uma sombra num tom marrom bem fraco e um batom rosa para suavizar ainda mais o contraste de sua pele. Na escolha da roupa, ficou em dúvida se usaria o vestido escuro casual básico ou se vestiria o de tom azulado escuro bem justo na cintura e florido na estampa. O tecido era bem leve, não tinha mangas, mas nada que um casaco resolvesse. Escolheu o azulado e no fim me agradeceu pela ajuda. Quando ouvimos o som de carro estacionando lá fora, já sabíamos que era Cal, o garoto que Selena havia me contado. Olhei pela janela e vi quando ele abriu a porta para que ela pudesse entrar. Ao longe dava para perceber que eles faziam um casal bonito. Eu só esperava que ele fosse um jovem legal, que a tratasse bem e a fizesse muito feliz. Pelo menos ela teria sorte. A sorte de se apaixonar e ser correspondida.

                           ***

Estava sem coragem para me levantar na manhã do dia seguinte, tinha aulas. E quem dera fosse só por causa das aulas, eu não tinha problema nenhum em estudar. Talvez minha falta de coragem fosse por causa dele, com certeza o veria, e ele estaria com ela como um casal. O pensamento me deu náuseas. Não sei como ele teve coragem de voltar com ela depois de tudo o que aconteceu antes. Foi por causa dela que eu terminei com Elliot, eu sofri e agora estou sofrendo de novo. Acho que no fundo era isso o que ela queria, me fazer sofrer, porque me odeia. Eu não entendo porque sempre teve implicância comigo, já que nunca lhe fiz mal. Quando éramos crianças lembro-me  que fazia de tudo para que fôssemos amigas, ela era a que sempre me ignorava e lançava-me um olhar gélido. Eu tinha certeza de que ela só quis voltar com Brandon apenas para me fazer mal. Ela não o amava. E na primeira oportunidade o deixaria como da última vez. Mas isso não era mais problema meu, ele que escolheu isso. Então eu não tinha mais nada a ver. Agora eu só precisava esquecê-lo, e pra isso tinha que parar de pensar nele. Por fim, me levantei. Ficar parada não iria me ajudar em nada. Depois de um banho eu me arrumei para ir à escola. Fiz algo diferente naquele dia, eu lavei meus cabelos e não sequei, fui com eles úmidos para a escola. Até porque já estava sem tempo, se os secasse com certeza chegaria atrasada na escola. Apenas usei um spray e dei uma bagunçada de leve nele, esperava que o ondulado ficasse de boa com o meu visual. Quando estava pronta, peguei minhas coisas e desci, descobri que não era a única atrasada. Selena desceu correndo até a cozinha, pegou uma maçã e saiu, dando um bom dia à nós, eu e minha mãe. Papai já estava trabalhando. Ontem à noite, quando voltou de seu encontro, selena me contou tudo, estava lendo uma revista no meu quarto quando ela entrou sorridente, contou que eu tinha razão quando disse que o garoto poderia ser bem legal quanto dava a parecer. E parecia encantada pelo rapaz. Eu apenas sorri e assim passamos os minutos conversando sobre o passeio dos dois. Quando cheguei à escola eu fui barrada por Lindsay que começou a me encher de perguntas.

- Eu recebi sua mensagem, imagino que já estejam juntos.

Eu havia me esquecido daquela mensagem, e meu celular ainda estava com ele.

- Não, não estamos juntos.- Suspirei, eu não queria voltar aquele assunto de novo.- Eu não quero mais falar sobre isso, a única coisa que posso dizer é que acabou.

Ela estava confusa, mas eu não explicaria nada agora, ela mesma veria com os próprios olhos depois.

- Oi Megan. - Eric se aproximou, ele realmente não havia ficado chateado comigo, eu esperava que ele fosse se afastar de mim, pelo menos era o que eu merecia, mas estava enganada. Ele estava bem à minha frente com um sorriso acolhedor e amável nos lábios. Por um minuto eu me senti mal, pois não merecia tanta bondade vinda da parte dele.

- Oi Eric.- Eu sorri pra ele.

- Quer dá uma volta pelo colégio? Ainda temos tempo. - Propôs ele, olhei para Lindsay e ela entendeu e antes de ir se despediu.- Tá tudo bem com você? - Ele perguntou com algum tempo depois. Estávamos no jardim, o melhor lugar da escola na minha opinião, me sentei na sombra de uma árvore e ele fez o mesmo.

- Eu estou bem.- Eu tinha plena consciência de que estava tentando enganar à mim mesma.

- Apesar de nos conhecermos há pouco tempo eu te conheço muito bem para afirmar que você não está nada bem.

- Me diz uma coisa, você é psicológo por acaso? - Ele sorriu sem mostrar os dentes.

- É o que pretendo ser.

Abri minha boca em surpresa.

- Então está no caminho certo.

- Mas você ainda não respondeu a minha pergunta.- Lembrou.

- Eu sou uma idiota, essa pode ser a resposta para a sua pergunta.- murmurei olhando para meus joelhos cobertos pela calça jeans.

- Por acaso tem a ver com o... - Ele hesitou por um momento.

- É, não deu certo, mas fazer o quê? Há coisas que nunca dão certo.- Eu falava sem olhar pra ele.- Ele não me amava como eu pensava.

- É um idiota, não sabe o que perdeu.

- Acho que temos que ir para nossa sala, já deve ter tocado e não percebemos.- Falei ao julgar pelo silêncio que estava no salão.

Ele concordou e aceitei a mão que ele ofereceu para me ajudar a levantar. Depois voltamos para a sala. Mas parei de caminhar quando me encontrei com alguém. Era Elliot, então estava de volta.



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