Capítulo 26 - O maldito Samsel

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O que se passou no escuro da caverna? Difícil explicar em palavras. Uma mistura de prazer e dor. O puro deleite com pitadas de sentimentos mortificantes. Uma mistura de céu e inferno penetrando meu corpo e minha mente. Eu era agarrada e tentava me agarrar em algo que me fugia, e eu sentia sua fuga, eu provava do frio mesmo em seu corpo quente.

Meus homens travavam seu próprio duelo, deliciosamente, da forma que todos os duelos deveriam ser. Andy não era alguém fácil de se entregar, mas Gael estava acostumado a lidar com padres, simplesmente homens que associavam o prazer à danação eterna, e mesmo assim conseguia arrancar tudo deles, tudo. E o fez do Feiticeiro, me ensinando que o prazer cheio de culpa era uma espécie de tara digna de ser explorada. Meu Jonas se oferecia de forma tão irresistível que certamente deixava os padres do internato sem saberem quem estava abusando de quem. E ele nos conduziu nesse ritual impensado, impensável, e da mesma forma que só precisou de um dia para declarar seu amor por mim, em um único dia ele tinha o corpo nu de meu homem contra o seu, me matando de prazer e de ciúme e de inveja desse seu poder. E assim, por um tempo que se perdeu na contagem lógica, dividi meu corpo entre aqueles corpos, todas aquelas mãos se buscando, todos aqueles cheiros e sabores se misturando no escuro, todos aqueles timbres gemendo juntos em nossos ouvidos. Era tão deliciosamente errado e estávamos tão sóbrios que o anjo negro parecia o próprio diabo a nos conduzir em sua dança. E dançamos até a exaustão.

Ao último suspiro, acabados de prazer, tremíamos, em choque. Andy olhou para nossa teia de corpos e se desvencilhou de nós, assustado. Rapidamente se vestiu, tentando limpar o próprio sangue, que no calor do momento voltou a ser solicitado por Gael, pois, além de viciante, rendia orgasmos múltiplos. Gael observava sua pressa relaxado, satisfeito, como um predador saciado. Deitou de bruços, movendo devagar as asas doloridas e resmungou, sorrindo:

— Ouch, não pensei que elas fossem ser usadas para esse tipo de coisa assim tão rápido.

— Andy? Aonde vai? — perguntei, ao vê-lo deixando o espaço.

— Você — disse a Gael — não me siga.

— Sim, Senhor — respondeu meu marido, cheio de malícia na voz.

A ordem, porém, não tinha sido para mim, e, mesmo que fosse: eu não era escrava de seu sangue e não iria obedecer. Ele saiu rápido por outra parte da caverna, uma que eu nem conhecia, que levava a outro lado do abismo, um longo e largo corredor externo junto a um precipício.

— Aonde você vai? — repeti agoniada, me vestindo e seguindo seus passos apressados.

Então ele estacou, mas ainda andava de um lado para o outro, agitado, furioso:

— O q- !! O que foi aquilo?! — olhou-me, trêmulo.

— Você não gostou? — perguntei mordendo os lábios — Não foi o que pareceu.

— Foi isso que eu me tornei para você? Um brinquedo? Uma... — olhou para os pulsos manchados de sangue — um entorpecente?

Mergulhou no silêncio, sem conseguir me encarar. Oh, Deusa, ele estava arrasado. Eu não imaginava que... "Ora, Sigrid, não mesmo?", pensei "Você que o conhece há tantos anos, que demorou três para quebrar a primeira barreira, mesmo indo com toda sede ao pote desde o início? Não imaginava que ele estaria abalado com essa situação, com essa vulnerabilidade? Francamente.". O vento soprava cada vez mais frio. Disse, com carinho:

— Não era minha intenção que se sentisse assim, só queria...

— ... se divertir às minhas custas. Não é? — inspirou fundo pelas narinas — Vocês pisam no que é sagrado para mim... — confessou enojado e triste — Eu me sinto... usado!

A Rainha dos CorvosWhere stories live. Discover now