☁️ Capítulo 19

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A festa acabou mais cedo do que o planejado, as chamas demoraram para serem contidas e a decoração já estava destruída.

Nossos amigos foram embora há um tempo e agora eu, Mari, Violeta e Lola encarávamos as chamas sem saber o que dizer. Minha mãe e Eduardo se despediam do resto do pessoal, a melhor amiga da minha mãe auxiliava os empregados e os bombeiros. Ela avisou que ela e sua filha Heloisa iriam dormir lá para poder ajudar.

Por falar em sua família, eu realmente a perdi de vista.

— Vocês não deveriam estar fazendo algo ao invés de sonharem acordados? — era a menina. Seus olhos verdes felinos foram diretamente em encontro aos meus, depois demoram analisando Violeta e os revira.

— Você por acaso já fez algo? — questiona Mari.

Minha irmã não gostava muito de Heloisa desde que descobriu que nós ficávamos as escondidas e ela nunca quis assumir nada publicamente, na verdade era uma relação apenas de sexo.

Não que Mari julgue a morena, ela sempre deixou claro que não era isso que a incomodava, afinal Heloisa é livre. Só que ela acha que aquele tipo de relacionamento era tóxico para mim, visto que eu queria algo sério.

— Muito mais que você, certamente.

— Theo, será que a gente poderia...

— Claro, vamos.

Nos despedimos e fomos para meu quarto. Os dois com algumas doses de álcool no sangue, mas não suficiente para cometer alguma burrice. Eu raramente bebo e tenho meus motivos para isso, porém me permiti hoje e foi diferente de todas as vezes porque eu estava com ela.

Mari aparece no quarto com roupas que Violeta tinha deixado aqui, deixo a menina entrar no banho primeiro. Com a presença de Estela e Heloisa, o quarto de hóspedes fica ocupado, Mari está com Lola e Violeta vai ter que ficar no mesmo quarto que eu.

Vou pegar um copo de água e percebo que a casa está mais vazia do que antes.

— Você vai me ignorar até quando?

— Heloisa, você sabe que por mim você nem estaria aqui. Então por que merda você acha que eu quero falar com você?

— Você acha que eu caio nessa de você estar com aquela ali?

— Eu não estou com ninguém e, se estivesse, não te devo satisfações.

Saio do lugar e volto para o quarto.

— Merda! — grita Violeta correndo para o banheiro de volta. Aparentemente ela deixou a roupa no quarto e por isso estava de toalha vagando justamente na hora que eu abri.

— Meus olhos estão fechados — digo, me segurando para não rir da situação.

— Você podia ter avisado — reclama.

— Não teria graça.

— Pode olhar.

Me viro e a vejo de pijama, não era nem longo e nem curto, mas mostrava mais pele do que eu estava habituado. Apenas sei que será uma noite difícil, mais do que já foi.

Minha vez de tomar banho, eu não costumo dormir de pijama, porém algo de diz que Violeta não vai gostar disso.

Pego um short qualquer e entro no chuveiro, a água quente caindo sobre minhas costas me fazia lembrar cada momento daquele dia.

Minha mãe não merecia ter o dia do casamento destruído, mas nada eu podia fazer. A presença de Heloisa sempre significou problema e não é agora que vai deixar de ser, além do que tenho um problema maior na minha cama agora.

Temos vários colchões reservas, porém o cansaço, o álcool e os últimos acontecimentos criaram uma barragem para procurarmos. O que significa que eu e Violeta dividiríamos minha cama de casal, pensar nisso me causava nervoso.

Saio do banho e vou para o quarto, ela estava observando os retratos fotográficos espalhados na minha bancada.

— Você era muito fofo — diz sobre uma foto que sou bem pequeno.

— Ainda sou — ela se vira com um sorriso, mas desmancha ao me analisar.

— Acho melhor eu dormir, estou cansada.

Eu concordei e apaguei a luz, ela vira para um lado e eu para o outro.

— Theo?

— Violeta.

— Posso cometer uma insanidade por culpa do álcool e esquecer cinco minutos depois?

Me viro e ela também, aquele brilho no olhar estava lá e sinto que não devo me preocupar.

— Depende do que for.

Ela fecha os olhos com força, como se estivesse em uma briga interna e eu observo cada detalhe do seu rosto. As linhas de expressão que formaram nos seus olhos, ela mordendo o lábio na mesma intensidade e o nariz ficando encolhido. Aos poucos tudo se suaviza e ela abre os olhos, mas não me dá tempo para observá-la.

Violeta sela nossos lábios em um beijo necessário e cuidadoso, o choque inicial me deixa imóvel, mas não demoro muito a reagir. Não era como se fosse um primeiro beijo, e sim como se fosse o último. Desesperado e ao mesmo tempo lento, selvagem e também suave, gostoso e doloroso.

A necessidade por oxigênio nos fez separar, Violeta se manteve de olhos fechados e eu fechei os meus também. E assim pegamos no sono, sem conversa e espaço para conclusões.

☁️

O dia já tinha amanhecido há um tempo, consigo ouvir o barulho lá embaixo e quero descer para ajudar. Violeta ainda não tinha acordado e definitivamente não quero deixá-la lá, ainda mais depois do que aconteceu ontem. Percebo que ela trouxe o buquê para o quarto e acho isso muito fofo, afinal ela não queria aquilo.

Não demora muito para a menina acordar e agir normalmente, lembro-me que ela falou para esquecer cinco minutos depois, mas eu não estava incluso nisso. De qualquer jeito, acho melhor não a questiona-la, pelo menos não agora.

Ela se trocou e eu fiz o mesmo, aproveito para limpar meus óculos e encontro ela sentada na minha cama quando sai do banheiro.

— Vamos descer? — ela apenas concorda.

Minha mãe, Eduardo e Estela estavam do lado de fora da casa, enquanto Mari, Lola e Heloisa tomavam café da manhã.

— Que demora de vocês hein — reclama Mari.

— Para estarem tomando café da manhã agora, imagino que não foi muito diferente — respondo e Violeta ri.

— Como está a situação lá fora? — pergunta Violeta.

— Não muito boa. Minha mãe, com ajuda dos empregados conseguiram se livrar de toda a decoração destruída. Ainda assim tem muito resquício — responde Heloisa, entrando na conversa.

— Mas dá para usar a piscina — Mari comemora.

— Vocês vão usar, eu vou para casa.

— Ah não, Violeta. Vamos aproveitar que o dia está gostoso — reclama Lola.

— Eu concordo com Lola, está muito bom para ir na piscina e você é minha convidada — digo ficando mais próximo dela e falo baixo — Fica pelo menos até o almoço?

A menina como sempre carregada de névoas e parecia estar processando o que eu disse.

— Ok, mas eu não entro na piscina.

Percebo que Heloisa está segurando a risada e eu fico sem entender o porquê, mas fico aliviado por Violeta ficar e aproveitar o domingo com a gente.

— Depois do caos da festa, precisamos de um descanso — fala Mari.

— Eu concordo, irmãzinha.

Ela dá a língua pela ironia e depois puxa Lola para um beijo, eu precisava contar para ela o que aconteceu. Mas certamente Mari vai achar bobo e inocente, fora que eu quero manter esse momento só nosso, então por enquanto vou manter silêncio.

Hoje era dia de aproveitar, afinal a primavera começou.

Por trás das névoas Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt