☁️ Capítulo 8

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Óbvio que ela tinha que estar lá, ela sempre está.

Sou obrigado a digitar uma mensagem e enviá-la, mesmo não tendo tanta intimidade.

"Você está me perseguindo?"

Ela olhou ao seu redor e me encontrou.

"Acho que é ao contrário"

Vou em sua direção e sento ao seu lado, ela se afasta um pouco e creio que ultrapassei certo limite.

— Em pleno inverno, o que faz aqui?

O Ibirapuera costumava ficar mais vazio nessa época do ano, então eu adorava ir para ler. Como os invernos são secos, o risco de chuva era pouco o que tornava o passeio mais seguro.

— Deveria te fazer a mesma pergunta, mas você é sempre autoexplicativo — fala, apontando para o livro na minha mão. Eu estava relendo A Rainha Vermelha, o contexto atual antes das eleições me faz querer mergulhar no universo criado por Victoria Aveyard.

— Não respondeu minha pergunta — digo. Ela estava com um caderno em mãos, o que não significava muita coisa. Afinal, ainda estávamos de férias.

— Gosto de escrever, o frio aquece meu coração e transforma a dor em palavras.

Não quis questionar, parecia algo extremamente íntimo. Pela primeira vez, ela tenta fazer um contato direto comigo para retirar o livro das minhas mãos, porém para no meio do caminho.

— Pode olhar, estou apenas relendo — e entrego para ela. Seus olhos brilham analisando a capa, lendo a sinopse e manuseando o livro — Você não conhece essa série?

— Deveria conhecer? — percebo seu rosto ficar vermelho.

— Pode levar meu livro, quero que você leia. Você me pediu uma leitura — ela sorri e eu resolvo ser um pouco malvado —, mas eu quero ler o que você tanto escreve.

Eu não deveria ter feito essa proposta, a menina fechou a cara e toda felicidade se foi.

— Ei, não precisa ficar assim. Eu entendo se não quiser me mostrar.

— Eu prefiro manter em sigilo — ela aperta o caderno contra si e meu livro estava em cima dele.

— Tudo bem — respondo conformado — Quer ver um filme comigo e Mari amanhã? Sempre no final das férias a gente escolhe algo para ver.

— Eu não sei muito bem...

— Por favor, preciso de alguém para aguentar as péssimas escolhas de Mariana.

A expressão animada voltou ao seu rosto, com um sorriso muito fofo que só ela tem.

— Vou ver o que posso fazer.

Eu tinha levado meu Kindle também e acabei lendo um livro que tinha comprado há um tempo atrás.

Ela resolve passar na minha casa para falar com a Mari, aparentemente ela queria arrastar minha irmãzinha querida para a bienal do livro. Isso soava como uma piada mega engraçada.

O maior defeito de Mariana era que ela não tinha nenhum hábito de leitura, mesmo que eu tentasse empurrar isso na cabeça dela. Minha mãe era dona de uma grande editora e acabava ganhando ingressos, eu sempre ia nas daqui de São Paulo e nunca consegui puxar a Mari.

— Nem nos seus melhores sonhos que eu vou nisso, tenho alergia a livro. Theo sabe disso, por isso nem tenta mais — é a resposta que ouço Mariana dar.

— Por favor, Mari. Eu sempre morei no interior e nunca tive a chance de ir.

— Chame o Theo, a Lívia pode até te arrumar ingressos.

Por trás das névoas Where stories live. Discover now