☁️ Capítulo 7

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O sol atravessava os pequenos buracos entre as janelas, lembro de ter colocado minha cortina para lavar e não foi substituída. A verdade é que eu odiava cortinas, era apenas algo a mais para pegar pó, porém devo admitir que senti falta nesse momento.

Pego o celular e cravava uma hora da tarde, como Mariana ainda não me acordou?

Levanto e, após me arrumar, encontro minha mãe andando pelo corredor com várias pessoas a seguindo, certamente coisas do casamento. Bato na porta do quarto da Mari e não veio resposta, mas não demorou muito para eu ouvir um barulho.

Esfrego meus olhos e espero até que a porta seja entreaberta.

— Mari ainda não acordou — um sussurro sai da boca de Violeta. Sua cara estava um pouco amassada, o cabelo bagunçado e parecia cansada.

— Vem tomar café da manhã.

— Vou esperar ela.

— Vai por mim, ela não vai acordar tão cedo e você está de ressaca — digo e ela cedeu. Fechou a porta atrás de si e veio comigo, ela já tinha se trocado.

— Você não é de beber, ou é? — ela nega com a cabeça.

— O que aconteceu ontem? — pergunta baixo.

— Não sei responder muito bem — dou de ombros —, mas você vai lembrando aos poucos.

— Que demora para acordar — reclama meu padrasto, seguro o impulso de rebater —, onde está Mariana?

— Ela ainda está dormindo — responde Violeta.

A nossa cozinheira tem folga aos finais de semana, então eu preparo algo para nós dois. Faço a mais para Mari, apesar de achar que ela iria pular o café da manhã.

— Vou te dar remédio assim que você comer, não se preocupe — digo — Mariana é acostumada, então as vezes dou enquanto ela está de barriga vazia. Como você não é, não podemos arriscar.

— Você é sempre assim? — percebo sua pele corar e eu estranho.

— Assim como?

— Cuidadoso — ela suspira — Quem cuida de você, Theo?

A pergunta dela fica no ar, eu nunca me questionei aquilo. Depois do que aconteceu com meu pai, minha mãe esteve do meu lado me dando amor e tudo que fosse necessário.

De um tempo para cá, ela vem se dedicando totalmente ao trabalho e depois ao seu relacionamento, agora ao casamento. Sempre fui ponte de desabafo de Lucas e ultimamente a ajuda de Mariana.

E agora eu não tinha resposta, é como se ninguém nunca cuidasse de mim.

— E você é sempre extrovertida? — respondo e pego ela desprevenida.

Terminamos de comer em silêncio, pego o kit antirressaca e dou para ela.

— O que você lembra de ontem?

— É na verdade um grande borrão — ela olha para nenhum lugar em específico —, mas eu lembro que você me deve um livro.

— Já falei que não sei o que te indicar, acho que não temos os mesmos gostos.

— Você se engana, Theo.

Ela voltou para o quarto de Mari e eu fiquei sem entender nada.

Vejo uma mensagem do Gilberto perguntando se eu e Paulo topávamos uma maratona de vídeo game na casa dele. A resposta era óbvia.

As férias eram insuportáveis sem a fiel amizade de Lucas, porque significava que eu teria que ficar em casa. Às vezes eu até ficava feliz de não ter a intensidade de festas com as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas, porém era melhor que ficar nessa realidade infernal.

Por trás das névoas Where stories live. Discover now