☁️ Capítulo 16

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Mais uma festa completamente padrão, porém dessa vez mais cheia. Meus óculos embasam com o abafo causado pela grande quantidade de gente dentro da casa, começo a procurar um canto mais vazio enquanto meus amigos se misturavam.

Por incrível que pareça, Violeta foi. Mas, como foi dito, ela não iria trocar nenhuma palavra comigo, apenas a educação se mantinha.

Já tinha bêbados para tudo que era lado e ainda era apenas o começo da festa. A dona da casa não se importou em sumir com minha irmãzinha e abandonar a ordem do local.

Consigo achar um quarto aberto e sem ninguém, me tranco lá dentro e utilizei da técnica de Violeta em trazer um livro. Eu estava no auge da leitura quando ouço batidas na porta.

— Eu sei que você está aí, abre para mim? — eu estou delirando ou é a voz de Violeta?

Me aproximo da porta e deixo ela entreaberta tendo a visão da menina, ainda não acreditava que era ela. Estava tão linda hoje que me doía o coração que nem tivesse a permissão para ser seu amigo.

Usava um salto preto, certamente escolhido por Mariana, e acompanhava um short curto preto e uma blusa vinho. A blusa era folgada, mas um pouco transparente e me permitia admirar o seu corpo. Foco, Theo!

— Vai deixar eu entrar? — concordo e dou passagem, fechando a porta atrás de mim — Não acredito que você conseguiu um espaço nessa festa horrorosa e nem me chamou.

— Que? — minha voz até falha — Há minutos atrás você me odiava.

— Até você me salvar dessa festa, que inclusive não sei nem porque vim.

Ela senta ao meu lado na cama de casal que ficava no centro do quarto. O ambiente não tinha muitos enfeites e decorações, parecia ser um quarto de hóspedes e perfeito para nos abrigar.

— Pelo mesmo motivo que eu.

— Mariana — dizemos juntos e não evitamos o riso.

— Parece que alguém aprendeu a técnica — ela aponta para o livro ao meu lado. Ajeito meus óculos, aquela situação estava me deixando nervoso e sem jeito. Eu não sabia como agir com ela, parecia que eu estava pisando em ovos.

Fico desajustado por estar copiando suas práticas e ela parece se divertir com a situação.

— Desculpa por ontem, eu só...

— Shh, sem essa. Prefiro degustar de uma noite silenciosa com tamanho barulho lá fora, bêbados e transantes, enquanto fico neste quarto com você.

O olhar intenso me lembra como brilhavam na bienal e como ficam escuros quando toco em assuntos delicados. Me lembra as lágrimas escorrendo no dia anterior e me lembra mais ainda a vontade de protegê-la.

Naquele momento, eu não sabia definir quem era Theo e quem era Violeta. Éramos apenas dois jovens cansados da juventude, mas também pouco ansiosos para a vida adulta. Éramos também uma alma só, unida pelo silêncio e as páginas de um livro em branco, aquele que ainda não pudemos escrever.

Mas a definição maior, éramos dois fantasmas no meio de zumbis. A esperança no meio do caos e a dor no meio da certeza.

A vontade súbita de tê-las em meus braços e conhecer o amor que podia me proporcionar era grande, porém eu tinha o pesar na consciência do que estava acontecendo.

Não somos mais duas almas unidas, somos o resto de pecado da humanidade. Aqueles que não sabem degustar do pecado, mas não deixam de ser pecadores.

Violeta era angelical e mesmo com sua aura brilhando, posso ver a dor que carrega nos seus braços.

Os olhares se sustentam e os químicos vão à loucura, acho que eu devo ser um ultrarromântico, mas e se eu for?

Ela corta o nosso momento para se aproximar e tomar meu livro em suas mãos. Folheia rapidamente enquanto eu observo e devolve para o lugar que estava, depois restabelece o contato.

— Não podemos fazer isso à noite toda — sussurro.

— Fazer o que? — questiona no mesmo tom.

— Nos auto desafiar para ver quem sobrevive as tentações.

— Pensa que é só isso?

— Tenho certeza que não — ponho minha mão sobre a dela e ela olha para meu ato.

— Isso não é certo — ela retira — Eu já vou ser sua acompanhante, já é muita coisa.

— Nunca disse que não era.

— Theo, vamos parar por aqui — suspira — Conte-me sobre o livro que está lendo.

Eu fico desanimado por não poder conversar sobre algo de grande relevância para nosso convívio. Por outro lado, livros são minha zona de conforto de deixava a conversa mais leve para ambos os lados e trazia a paz temporária.

☁️

— POLÍCIA — é o grito que escuto depois de quase pegar no sono ao lado de Violeta. A menina dormia tranquilamente nos meus braços e, como fiquei admirando, tardei a fazer o mesmo. Com uma dor no coração, tenho que acordá-la.

— Violeta, temos que ir.

A menina faz um barulho, mas não acorda.

— Violeta? Vamos lá.

Me levanto, pego meu livro e penduro sua bolsa em mim. Percebo seus olhos abrirem, ela se espreguiça e eu a puxo para perto.

— Vem comigo.

Acho uma saída de emergência e vejo que a polícia ainda não tinha cercado a casa toda. Apesar de não estarmos drogados e sermos maiores de idade, era sempre melhor evitar tais situações.

Meu carro estava um pouco distante do local, então dava para sair. Procuro Mariana e não a encontro, ela deve ter ido embora assim que alertaram e torço para que esteja bem.

— Você vai para casa comigo? — Violeta concordou com a cabeça — Seus pais sabem? Que você vai dormir em casa?

— Sim. Chega de perguntas, estou com sono — a menina reclama e eu deixo um sorriso escapar com esse seu jeitinho de ser.

Levo ela para meu quarto enquanto verifico como está o quarto de hóspedes. Não estava arrumado, já que não recebíamos ninguém há um tempo e sempre que Violeta vinha acabava por ficar no quarto de Mariana.

Vou para meu quarto perguntar se ela queria comer algo enquanto eu arrumava, porém me deparo com a menina dormindo.

Pego uma das minhas cobertas e cubro seu corpo, apago a luz e saio. Resolvo verificar o quarto de Mariana e ela estava lá dormindo, não tenho ideia de como chegou ali, mas o fato de estar segura me deixa tranquilo.

Decido pegar alguma coisa para comer, meu estômago estava reclamando e eu não queria ter problemas com isso depois.

Vou para o quarto de hóspedes e arrumo com as coisas que ficam no próprio local. Não demoro a dormir, fico relembrando da imagem da menina névoa adormecida nos meus braços e me entrego aos sonhos.

***

Hey amores,

Como vocês estão? O que acharam do capítulo?

Parece que Theoleta está começando a se aproximar, será que vai para frente?

Xoxo,

A.H.

Por trás das névoas Where stories live. Discover now