Mais uma festa completamente padrão, porém dessa vez mais cheia. Meus óculos embasam com o abafo causado pela grande quantidade de gente dentro da casa, começo a procurar um canto mais vazio enquanto meus amigos se misturavam.
Por incrível que pareça, Violeta foi. Mas, como foi dito, ela não iria trocar nenhuma palavra comigo, apenas a educação se mantinha.
Já tinha bêbados para tudo que era lado e ainda era apenas o começo da festa. A dona da casa não se importou em sumir com minha irmãzinha e abandonar a ordem do local.
Consigo achar um quarto aberto e sem ninguém, me tranco lá dentro e utilizei da técnica de Violeta em trazer um livro. Eu estava no auge da leitura quando ouço batidas na porta.
— Eu sei que você está aí, abre para mim? — eu estou delirando ou é a voz de Violeta?
Me aproximo da porta e deixo ela entreaberta tendo a visão da menina, ainda não acreditava que era ela. Estava tão linda hoje que me doía o coração que nem tivesse a permissão para ser seu amigo.
Usava um salto preto, certamente escolhido por Mariana, e acompanhava um short curto preto e uma blusa vinho. A blusa era folgada, mas um pouco transparente e me permitia admirar o seu corpo. Foco, Theo!
— Vai deixar eu entrar? — concordo e dou passagem, fechando a porta atrás de mim — Não acredito que você conseguiu um espaço nessa festa horrorosa e nem me chamou.
— Que? — minha voz até falha — Há minutos atrás você me odiava.
— Até você me salvar dessa festa, que inclusive não sei nem porque vim.
Ela senta ao meu lado na cama de casal que ficava no centro do quarto. O ambiente não tinha muitos enfeites e decorações, parecia ser um quarto de hóspedes e perfeito para nos abrigar.
— Pelo mesmo motivo que eu.
— Mariana — dizemos juntos e não evitamos o riso.
— Parece que alguém aprendeu a técnica — ela aponta para o livro ao meu lado. Ajeito meus óculos, aquela situação estava me deixando nervoso e sem jeito. Eu não sabia como agir com ela, parecia que eu estava pisando em ovos.
Fico desajustado por estar copiando suas práticas e ela parece se divertir com a situação.
— Desculpa por ontem, eu só...
— Shh, sem essa. Prefiro degustar de uma noite silenciosa com tamanho barulho lá fora, bêbados e transantes, enquanto fico neste quarto com você.
O olhar intenso me lembra como brilhavam na bienal e como ficam escuros quando toco em assuntos delicados. Me lembra as lágrimas escorrendo no dia anterior e me lembra mais ainda a vontade de protegê-la.
Naquele momento, eu não sabia definir quem era Theo e quem era Violeta. Éramos apenas dois jovens cansados da juventude, mas também pouco ansiosos para a vida adulta. Éramos também uma alma só, unida pelo silêncio e as páginas de um livro em branco, aquele que ainda não pudemos escrever.
Mas a definição maior, éramos dois fantasmas no meio de zumbis. A esperança no meio do caos e a dor no meio da certeza.
A vontade súbita de tê-las em meus braços e conhecer o amor que podia me proporcionar era grande, porém eu tinha o pesar na consciência do que estava acontecendo.
Não somos mais duas almas unidas, somos o resto de pecado da humanidade. Aqueles que não sabem degustar do pecado, mas não deixam de ser pecadores.
Violeta era angelical e mesmo com sua aura brilhando, posso ver a dor que carrega nos seus braços.
Os olhares se sustentam e os químicos vão à loucura, acho que eu devo ser um ultrarromântico, mas e se eu for?
Ela corta o nosso momento para se aproximar e tomar meu livro em suas mãos. Folheia rapidamente enquanto eu observo e devolve para o lugar que estava, depois restabelece o contato.
— Não podemos fazer isso à noite toda — sussurro.
— Fazer o que? — questiona no mesmo tom.
— Nos auto desafiar para ver quem sobrevive as tentações.
— Pensa que é só isso?
— Tenho certeza que não — ponho minha mão sobre a dela e ela olha para meu ato.
— Isso não é certo — ela retira — Eu já vou ser sua acompanhante, já é muita coisa.
— Nunca disse que não era.
— Theo, vamos parar por aqui — suspira — Conte-me sobre o livro que está lendo.
Eu fico desanimado por não poder conversar sobre algo de grande relevância para nosso convívio. Por outro lado, livros são minha zona de conforto de deixava a conversa mais leve para ambos os lados e trazia a paz temporária.
☁️
— POLÍCIA — é o grito que escuto depois de quase pegar no sono ao lado de Violeta. A menina dormia tranquilamente nos meus braços e, como fiquei admirando, tardei a fazer o mesmo. Com uma dor no coração, tenho que acordá-la.
— Violeta, temos que ir.
A menina faz um barulho, mas não acorda.
— Violeta? Vamos lá.
Me levanto, pego meu livro e penduro sua bolsa em mim. Percebo seus olhos abrirem, ela se espreguiça e eu a puxo para perto.
— Vem comigo.
Acho uma saída de emergência e vejo que a polícia ainda não tinha cercado a casa toda. Apesar de não estarmos drogados e sermos maiores de idade, era sempre melhor evitar tais situações.
Meu carro estava um pouco distante do local, então dava para sair. Procuro Mariana e não a encontro, ela deve ter ido embora assim que alertaram e torço para que esteja bem.
— Você vai para casa comigo? — Violeta concordou com a cabeça — Seus pais sabem? Que você vai dormir em casa?
— Sim. Chega de perguntas, estou com sono — a menina reclama e eu deixo um sorriso escapar com esse seu jeitinho de ser.
Levo ela para meu quarto enquanto verifico como está o quarto de hóspedes. Não estava arrumado, já que não recebíamos ninguém há um tempo e sempre que Violeta vinha acabava por ficar no quarto de Mariana.
Vou para meu quarto perguntar se ela queria comer algo enquanto eu arrumava, porém me deparo com a menina dormindo.
Pego uma das minhas cobertas e cubro seu corpo, apago a luz e saio. Resolvo verificar o quarto de Mariana e ela estava lá dormindo, não tenho ideia de como chegou ali, mas o fato de estar segura me deixa tranquilo.
Decido pegar alguma coisa para comer, meu estômago estava reclamando e eu não queria ter problemas com isso depois.
Vou para o quarto de hóspedes e arrumo com as coisas que ficam no próprio local. Não demoro a dormir, fico relembrando da imagem da menina névoa adormecida nos meus braços e me entrego aos sonhos.
***
Hey amores,
Como vocês estão? O que acharam do capítulo?
Parece que Theoleta está começando a se aproximar, será que vai para frente?
Xoxo,
A.H.
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Por trás das névoas
Teen FictionQuantas névoas existem entre Theo e Violeta? Theo Ribeiro está cansado de ser denominado como badboy pelos corredores do campus de sua universidade. A questão é que essa coisa de várias festas não fazem parte dele, que troca tudo isso pela presença...