Quarenta e Nove - Violência e Outros Problemas

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Acordei na manhã seguinte à festa de leilão beneficente com o telefone do FBI vibrando embaixo de meu travesseiro. Diante da inexistência da opção de desligar ou jogar o aparelho longe, venci o sono e atendi a impaciente Lisbeth:

— Rutherford está no meu cangote cobrando resultados e eu não tenho resultados porque você não me dá qualquer informação útil, Madison.

— Bom dia para você também, Lisbeth, como está? — respondi, a voz sonolenta.

Meus olhos pousaram no relógio de cabeceira. Eram 06:58 da manhã. Resmunguei inconformada enquanto ela dizia:

— Uma merda. A melhora do meu humor depende só de você, no entanto.

— Não posso fazer nada por você por enquanto.

— Por que não?

— Porque ainda estou dormindo? A máfia toda está dormindo, pelo amor de Deus!

— Eu já corri 10km no parque enquanto a porcaria da máfia dorme.

Revirei os olhos. Era mesmo o tipo de coisa que uma mulher com o físico dela faria.

— Tem alguma coisa que você queira me dizer? Caso contrário, gostaria de voltar a dormir e só falar com você quando estiver inteiramente desperta.

— Tem. Se você não começar a me ajudar, vou parar de ajudar você. Vou tirar Dylan de Los Angeles e você vai ficar completamente sozinha na máfia, fim da operação Armagedom. Gostaria de ver como é que você faria para sair viva daí?

O sono passou repentinamente. Sentei-me na cama, as costas apoiadas contra a cabeceira de ferro fundido. Demorei um pouco para responder, na esperança de recompor minha voz, a fim de que não soasse tão receosa quanto eu estava.

— Você não faria isso...

— Não me teste. Você está no caminho da minha promoção, e se eu tiver que acabar com esta merda de operação e começar tudo de novo, para ter sucesso de outra forma, vou fazer isso sem pensar duas vezes.

Engoli em seco. Ela parecia estar falando muito sério. E eu não tinha dúvidas de que ela tinha coragem de me abandonar no ninho das cobras sem qualquer auxílio. Lisbeth era má, me odiava, e só tinha apreço por sua carreira, nenhum pela vida de quaisquer inocentes que eventualmente se colocassem em seu caminho.

— Olha só...

— Olha só digo eu, Madison. Você tem até a noite para me dar alguma informação útil, ou eu vou começar a mexer meus pauzinhos.

Lisbeth não esperou que eu respondesse, simplesmente desligou o telefone na minha cara.

Fiquei pelo que pareceram ser os próximos cinco minutos com o telefone na mão, um tanto boquiaberta, apoiada na cabeceira da cama, olhando para o teto elegante de gesso de meu quarto, na esperança de que ele tivesse a resposta certa para meu mais novo problema. Ele não tinha, como não tinha para nenhum dos outros que me atormentava.

Quando minhas costas começaram a doer, voltei a deitar, fechei os olhos, respirei fundo. Nenhuma solução, a não ser a que parecia ser a mais óbvia: precisava dar alguma informação a Lisbeth. Afinal de contas, era para isso que eu estava ali, e o fato de não cumprir com a minha parte do acordo, obviamente, chamaria a atenção. Talvez fosse estupidez permanecer em silêncio, no entanto, era provavelmente estúpido contar ao FBI sobre os planos de La Recocha, planos esses que poderiam ser interceptados por eles. Eu sabia que a organização tinha agentes comprados dentro do FBI, inclusive no alto escalão, e que, se soubessem que se tratava de uma questão ligada a La Recocha, talvez nem mesmo fizessem nada. Mas a possibilidade de Lisbeth e de o capitão Rutherford não revelarem que a ação armada era em prejuízo de La Recocha era real, o que poderia funcionar.

Desvio de CondutaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora